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A imagem que passamos

Redação Lado A 13 de Setembro, 2013 20h49m

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Curitiba é uma cidade difícil de se viver, sabia? A sensação que eu tenho nessa cidade é a de que fomos divididos em duas subcategorias (sim, além da categoria “gay”). São elas: os gays pão-com-ovo e os metidinhos.
 
Por motivos de não querer causar nem um tipo de revolta, não vou descrever com tanta abrangência essas duas categorias, usem a imaginação e criem as suas descrições, vai servir, acreditem. Essas duas categorias não se bicam, os metidinhos ficam em seu canto achando os pão-com-ovo o cúmulo da breguice e vergonha, enquanto os pão-com-ovo, bom, eles acham os metidinho chatos, sem graça e muitas vezes “inatingíveis”. Isso é o cúmulo do preconceito!
 
Tal constatação me fez imaginar: Em qual categoria EU pertenço? Depois de uma ótima tarde com um amigo, eu sondei com ele essa pergunta, para a minha surpresa o fato de eu escrever neste blog e tocar em suas festas me coloca automaticamente na categoria “pão-com-ovo”. Curiosamente, os que acreditam que eu seja dessa categoria não lêem o blog, ou seja, não fazem a mínima idéia do que eu realmente escrevo aqui.
 
Exato, é apenas por “achismo”. Então, eu continuei imaginando, qual é a imagem que eu passo para as pessoas? Será que nós todos somos julgamos com base no Facebook, no Instagram e quem sabe numa básica checada visual em alguma balada? Isso é muito, muito, muito idiota!
 
Continuando minha linha de pensamento, eu cheguei à conclusão (com base em algumas pessoas) que nós todos nós, de certa forma, nos preocupamos com a imagem que passamos para os outros.Essa foto não está boa para postar. Ninguém pode saber que vim aqui nesse lugar. As pessoas não podem saber que compro roupa aqui. Essa roupa é de marca, os outros precisam me ver com ela. Não vou andar com ele (a) vão pensar coisas sobre mim. É isso!
 
Essa imagem boba que nós tentamos criar/manter, às vezes, nem é a que realmente temos. Parem para pensar um pouco: Quantas vezes vocês deixaram de fazer algo, ou de comprar algo, ou de sair para algum lugar simplesmente porque estavam com medo do que os outros iriam pensar? Não é uma bobeira gigante? Se preocupar com o que os outros vão falar/pensar de você?
 
Eu tenho uma horrível mania de desviar o olhar o mais rápido possível quando alguém me olha, porque eu sinto muita vergonha, e sabem o que as pessoas pensam quando eu faço isso? Que eu sou metido, quando na verdade o motivo é outro. Da mesma forma, acredito que todos nós já “julgamos” alguém apenas com base em uma foto boba no Facebook, ou uma roupa, ou qualquer outra situação. Isso é ridículo, as pessoas são tão complexas que para, realmente, termos uma idéia de quem elas são leva muito tempo! Nossas atitudes, nossas roupas, nossas fotos e seja o que for podem falar bastante sobre nós, mas não o essencial e com toda a certeza não nos definem.
 
Somente você pode se definir, e não o que os outros falam de você. Deixar de fazer algo apenas por medo de o que os outros vão pensar e falar é uma perda de tempo enorme. Que as pessoas falem, pensem e acreditem no que quiserem!
 
Como eu cheguei a essa conclusão? Perguntei a alguém, cuja opinião me é muito importante, qual era a imagem que ele fazia de mim. Para minha surpresa, ele me deixou de boca aberta com o que falou e isso porque me conheceu apenas por dois dias. Alguma coisa eu devo ter feito certo nesses dois dias, e pensando melhor o que eu fiz foi ser eu mesmo. Sendo eu mesmo, ele pode perceber quem eu era de verdade, e quer saber, foi a primeira vez que alguém me disse as coisas que ele falou (tá, eu poderia entrar em outro tema nesse momento, apenas com a deixa de o que ele me falou, mas fica pra próxima).
 
A questão central disso é que você não tem controle da imagem que passa. E esse controle some de verdade quando você faz “um tipo”. A saída: seja você mesmo, as pessoas vão pensar e vão falar também, mas pelo menos você está livre, livre para ser e fazer o que bem entender e acima de tudo, ser verdadeiro.
 
No meu caso, quero sempre ser verdadeiro, para que mais pessoas me compreendam da mesma forma que um certo I. me sacou. E se as pessoas não pensarem assim, bom isso é problema deles. Eu ainda não sei se quero ser do grupo dos metidinhos ou dos pão-com-ovo, aliás, essas categorias nem deveriam mais existir, somos pessoas e estamos nesse mundo para inspirar, crescer e evoluir e não para sermos taxados e jogados numa categoria preconceituosa. 
 
Quero ser eu mesmo, fazer o que eu quero, e vai que um dia alguém me compreende tão bem quanto o I. ou até ele mesmo venha a me conhecer mais (mais uma vez, outra deixa pra outro texto, mas não). Vocês deveriam fazer o mesmo, os resultados serão melhores do que imaginam.

Rodrigo Urbanski – Designer, redator do blog Seduzi Na Padaria. Apaixonado por Madonna, arte, livros (principalmente os de Stephen King), aspirante a escritor e com um “quê” de comediante.
 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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