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Gays são usados como moeda de troca política pelo PT para lidar com a poderosa bancada evangélica

Redação Lado A 14 de Dezembro, 2013 20h13m

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Aconteceu de novo. Esta semana, diversos jornais denunciaram que o governo mais uma vez trocou o apoio da bancada evangélica pelo compromisso de barrar os direitos da população LGBT, desta vez para a reeleição da presidenta Dilma. Há algumas semanas “denunciamos” esta possibilidade aqui no site, quando o Planalto sinalizou estar negociando a votação da PLC 122, que criminaria a homofobia no país. Um projeto importante e que combateria o preconceito em diversos graus na sociedade.

A ministra catarinense Ideli Salvatti, ministra de Relações Institucionais, teria ligado para toda a bancada de apoio ao governo que faz parte da Comissão de Direitos Humanos do Senado e pedido para que a PLC 122 só fosse votada após as eleições de 2014. Ou seja, pediu para que a lei ficasse na geladeira, após negociata do Planalto com os senadores evangélicos. Membros do Partido dos Trabalhadores, relator do projeto e a presidente da comissão demonstraram insatisfação com a instrução que veio de cima.

Em 2011, a presidente Dilma pessoalmente cancelou o programa Escola sem Homofobia do Ministério da Educação, que inseriria o tema do bullying homofóbico nas escolas e direito dos alunos gays de se comportarem da mesma forma que os outros alunos. A negociação foi para salvar o ex ministro Antonio Palocci de uma CPI na Câmara. Em troca do cancelamento do programa, os evangélicos não chamaram Palocci para depor sobre seu patrimônio e não fizeram uma CPI na Educação.

Os evangélicos afirmam que a presidenta já havia negociado o apoio evangélico em sua eleição, onde se comprometeu a não enviar ao Congresso ou apoiar diretamente projetos que favorecessem temas polêmicos como o casamento gay, aborto, eutanásia e liberação da maconha. Por isso nada caminhou de forma concreta para a comunidade gay nos quase 12 anos de governo do PT. A própria ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, do Paraná, também  fechou apoio com os evangélicos para sua eleição ao senado.

Com poucos candidatos eleitos, a comunidade gay acaba vítima destas negociações. Apesar de muitos parlamentares e políticos apoiarem os direitos das minorias, na hora do voto, a minoria não passa de um pequeno número de eleitores. Não conseguem eleger candidatos próprios e ficam invisíveis politicamente. Quando o volume de votos é colocado sobre a mesa, o rebanho evangélico tem maior poder de barganha.

Com isso, os evangélicos ganham no país influência política, cargos, concessões e pautam suas opiniões e fazem chantagem e barulho quando precisam. Sem falar no dízimo de toda a estrutura montada com cargos comissionados, trabalho de colaboradores das próprias igrejas nestes cargos e apoio a projetos religiosos com verbas públicas, burlando a legislação. Um dos maiores exemplos desse poder foi a recente concessão das rádios AM que passaram a virar FM. Com isso, milhares de rádios religiosas, compradas a baixo custo ou ganhadas em concessões, poderão aumentar a sua potência de sinal e foram elevadas a categoria de FM, com maior qualidade e audiência nas áreas urbanas. Pelo visto, até César foi convertido e agora tudo é de Deus.

Frei Betto resumiu no último fim de semana muito bem o que acontece no país: “Estamos assistindo a certos segmentos religiosos chocarem o ovo da serpente, expressão que vem do nazismo dos anos 30, na Alemanha: Depois que a coisa esquentou é que muita gente se deu conta”, afirmou o religioso na 9º Encontro Nacional Fé e Política, na Universidade Católica de Brasília (UCB).

 

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Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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