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Alerta: Homofobia em destaque com apoio da mídia catarinense por causa de sujeira na Praia Mole e Galheta

Redação Lado A 11 de Março, 2014 22h10m

Quem for à Praia Mole e à Galheta, em Florianópolis, nas próximas semanas, deve tomar mais cuidado. Cresce na internet o número de comentários homofóbicos e ameaças contra a comunidade gay na Ilha da Magia. Depois da polêmica de uma festa da The Week ser exposta por um importante colunista local, pessoas contra a presença de gays na Praia Mole estão conseguindo mais atenção. Na semana passada, uma matéria na TV mostrou o que acontece nas trilhas da Praia da Galheta e a revolta dos moradores com gays de comportamento reprovável. Lixo de camisinhas e pessoas nuas ou fazendo sexo em áreas de circulação foram as maiores reclamações. A reportagem disse ter tido acesso a um vídeo que de tão forte não pode ser mostrando que flagra atos sexuais nas trilhas da Galheta e ainda que moradores acusam os gays de fazerem sexo na praia.

O assunto é real e sério. Alguns gays, minoria, insistem em transar a céu aberto, seja na Praia Mole ou na Galheta ou em outros lugares. Claro, héteros também fazem isso mas se houver uma camisinha jogada já partem do princípio que era de um homossexual. O lugar correto de dispensar lixo é uma questão de educação, porém os locais não apresentam lixeiras, mesmo assim essas pessoas deveriam levar estes lixos embora consigo, ou levarem sacolas ao menos. Mas o assunto, lixo sexual, é usado para instigar a homofobia, generalizar o comportamento de poucos homossexuais para criar o estereótipo ou ainda, justificar que os gays não são bem vindos por lá.
 

Essas questões não são levantadas nas matérias de TV ou discussões: 1 – Nem todos os gays transam no mato; 2 – Nem todos deixam a camisinha no local; 3- Não há lixeiras; 4 – Héteros também fazem sexo em locais não indicados; 5- Homossexuais tem mais dificuldade de encontrarem locais para sexo; 6 – O estereótipo e preconceito ajudam a pessoa a agir como marginalizado; e 7 – As pessoas estão usando camisinha, o que é algo bom. 8 – Tanto na Galheta quanto na Mole, os principais pontos de sexo e pegação são ermos, não são trilhas de passagem, o que não justifica mas não é apontado nas reportagens.

O que assusta mesmo são os comentários que vimos esta semana em um post no Facebook com a imagem acima: “esses viados querem respeito mas ficam se comendo feito animais, raça nojenta”, “cambada de viado FDP… tao nem ae pra eles quem dira pra praia…raça nojenta se eu vejo dole com as 3 quilha no lombo”, “Em vez de fazer passeata do orgulho gay, deveriam limpar por onde passam!”, “Bicharada escrota. Doentes mentais da porra! Ainda bem que essa bicharada voltou pra terra deles”, “Na minha época não permitíamos a infestação gay na mole. SOS praia mole, não sou preconceituoso mas q essas bichas extrapolam de mais eh real”, “o bando de haole sao quase 5000 mil e nao teve nenhum local ou lutador ou surfista pra impedir a bandalheira e mostrar quem é que manda nessa porra” ou “amos bota pra correr esses VIADOS da praia MOLE enquanto ainda é tempo, porque amanhã nossos filhos não poderão mais tomar banho nessa praia tão bonita porque a sacanagem ta DEMAISSSSSSS, essa foto mostra a realidade de nossa praia”.

O fato é que o lixo encontrado não mostra centenas de camisinhas como diz, mas algumas poucas dezenas. Podem ser camisinhas de período anterior a esta temporada. A área da trilha tem mais de 800m. Mas é fato incontestável que existe esse lixo em parques, trilhas e diversos outros locais pelo país. Falta fiscalização e educação. Não é porque quem deixou a camisinha lá é homossexual que toda a comunidade deve ser crucificada. Seria como pensar que, por causa da presidente ser heterossexual, toda a culpa do que acontece no país seria dos heterossexuais.

No ano passado já denunciamos um momento de tensão quando gays foram atacados com paus e pedras na trilha da Fortaleza da Barra da Lagoa. Na ocasião, diversos gays saíram sangrando do mato em pânico, precisaram receber pontos no rosto, mas nenhum boletim de ocorrência foi registrado. Como não há uma lei que não puna a homofobia, a de Floripa apenas tipifica e não prevê sanção alguma, sem uma lei estadual ou federal contra a homofobia, os gays – aqueles que fazem coisas erradas e os que se comportam conforme a regra social– acabam vítimas de violência por causa de preconceito baseado em estereótipos, criados com base no comportamento da minoria e difundidos até pela imprensa. O discurso saiu do lixo deixado por alguns e virou uma campanha contra toda uma comunidade gay que assim como o resto da população é vítima destes maus elementos sem educação.

Imagem – Facebook reprodução. Legenda: “Uma hora de caminhada por uma das trilhas até o bar do Deca e também na restinga atrás dos bares do Deca e do Cachorrão na Mole. Centenas de camisinhas e muito lixo. Isso em “uma trilha”, apenas“.

Apesar da chamada dizer que casais heterossexuais também usam as trilhas para sexo, a matéria é direcionada ao sexo gay.
 
Confira a reportagem da RIC SC:
 

 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa


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