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G0ys, quase gays que não sentem orgulho e nem curtem penetração

Redação Lado A 16 de Março, 2014 22h45m

Há tempos existe uma luta contra rótulos e denominações para classificar diferentes nuances de pessoas que sentem atração e gostam de pessoas do mesmo sexo. Agora surge mais uma, para complicar, explicar, ou melhor, para autodefinir um grupo. A palavra da vez é “G0ys (G, zero, Y e S)”. Seria um grupo de homens que gostam de estar com outros homens, mas sem sexo penetrativo, que se diz sem neuras e muitas vezes cultua o machismo e o conservadorismo. O grupo surgiu na internet com a geração Y e existem então os hétero g0ys e os gay g0ys. A grosso modo, são “bissexuais” e  gays que rejeitam serem chamados assim. No grupinho, ninguém faz a vez de passivo, ou fêmea, pois a masculinidade é valorizada. Chamar alguém de amiga, nem pensar!

“Na prática até que não é tão díficil. Aliás depois que você pega uma certa experiência, parece que adquire uma espécie de ‘radar’ interno e começa a enxergar o que antes não enxergava, o mundo tem muito mais hetero-g0y e outros g0ys puros, do que se imagina em princípio. E vai aos poucos criando a sua turma, a sua galera onde o papo pode ser mais solto e sem neuras homofóbicas, na turma a coisa rola muito bem, pode ser apenas um amigo íntimo, ou um grupo pequeno, ou uma turma unida ou até mesmo uma fraternidade masculina mais estruturada. No grupo tudo beleza, todo mundo se entende, ninguém fica na neura do g0y X gay, será que fulano é hetero, será que é gay? Ora não é nem um nem outro, muito menos bissexual, gzeroy é g0y e pronto! A quarta identidade sexual e nesse caso Opção sexual de verdade”, afirma o site brasileiro Somos G0ys, que se dedica ao tema por meio de vídeos e imagens de homens bonitos, mas sem o que chama de baixaria.

Os G0ys buscam acima de tudo auto aceitação, por isso pregam os valores morais conservadores, como a vida no armário, pegação entre quatro paredes e o mais polêmico: Eles são contra o sexo anal penetrativo. Todavia, a suruba ou o esfrega grupal é liberado. Ou seja, é mais uma forma de se portar aos outros, uma tentativa de se diferenciar è imagem do gay afeminado e rejeitar ter que assumir ser gay ou bissexual.

O movimento surgiu na internet e tem a aderência de “heterossexuais” que curtem uns carinhos e amassos entre homens e de homossexuais que não se encaixam nos estereótipos da comunidade gay. Não há casamento g0y, e sim uma amizade íntima e profunda. Mas o sexo oral não é liberado entre os hétero g0y, mas a masturbação mútua com orgasmo é o ponto alto para eles. Já entre os “gay” g0ys pode sim cair de boca, mas sugere-se discrição. O ânus como instrumento sexual é altamente rejeitado, é o que difere na cama um g0y de um gay.

Os G0ys misturam estudos prévios de sexualidade, leis metafísicas da atração, teologia e princípios de liberdade para se auto afirmarem e explicar a existência do grupo. Para eles, se 60% dos homens manifestam curiosidade ou desejo sexual por pessoas do mesmo sexo, segundo o relatório Kinsey da década de 40, logo, não estão sozinhos. Ser G0y é algo sobre “honestidade, dignidade, saúde e auto-controle”, tudo isso aliado com a compaixão e respeito ao masculino.

O grupo acusa sofrer hostilidade de gays e de anti-gays, que não entendem o que é ser g0y. Para eles, é importante diferenciar o grupo do gay e do sexo gay, pois o mesmo carrega valores depreciativos e são sinônimos de questões diferentes com os quais os g0ys se identificam ou precisam lidar. Eles rejeitam estereótipos que permeiam a comunidade gay como ser feminino, querer casar, ou mudar de sexo, ou se travestir, ser promiscuo ou ainda as doenças sexualmente transmissíveis. E não levantam as bandeiras dos outros grupos pois aceitam a invisibilidade de serem g0ys sem dar explicações ou assumirem esse papel perante o resto da sociedade. Apesar de complexo, eles afirmam não sofrer dilemas com sua sexualidade.

De fato, no meio gay os G0ys são percebidos como homossexuais com homofobia internalizada. O termo HSH (Homem que fazem sexo com homens) já havia sido criado para este grupo, que não se auto identificava com bissexuais e gays, mas a exclusão do sexo anal na prática sexual dos g0ys fez com que surgisse esta nova denominação. Os g0ys exemplificam bem o terror de quando uma pessoa percebe sentir atração por pessoas do mesmo sexo e avalia o que é ser gay na sociedade de hoje e se auto rejeita considerar ser gay, com base do que aprendeu.

“G0YS representam a maioria dos homens, que por acaso têm profundos sentimentos por outros homens e optam por expressá-los em uma atmosfera de respeito pura, sem o menor indício de degradação moral. G0YS: uma abordagem sóbria, libertária de amizades masculinas. Não nos identificamos com “gays”? Não! Homens como nós realmente acham as imagens e estereótipos que são promovidos de dentro da chamada “comunidade gay” repugnantes para a nossa sensibilidade masculina”, afirma o site g0ys.org, que levanta a bandeira desta comunidade nova. “Sabemos instintivamente que amar outros homens não tem nada a ver com mudança de gênero, travestismo ou fazer o papel feminino na cama! A natureza do G0YS rejeita qualquer coisa que tenha a ver com brincar com o interior do ânus de outra pessoa. Portanto achamos toda a noção de “sexo anal” suja, degradante e não masculina”, explica o site.
 

“Você adora o contato com outros homens e gostaria de estar mais perto, mas você tem esse medo de que as pessoas podem pensar que você é uma “bicha”. No entanto, você não tem nenhum desejo de colocar qualquer coisa no cu do outro cara. Você só quer trocar carícias com ele, dar uns amassos e ver o que acontece. Você curte caras masculinos, mas você não é “gay”, pelo menos não como a mídia retrata os “gays”! Você não se relaciona com homens que tenham os mesmos maneirismos que os caras do filme “A Gaiola das Loucas”. Você não está sozinho. As estatísticas sugerem que 63% dos caras lidam com sentimentos semelhantes!”, diz o texto no site que depois afirma não ser homofóbico mas que promove a liberdade de um homem hétero consciente de seus sentimentos.

Os G0ys existem e estão gritando de dentro do armário, o que eles não querem é sair na rua e serem confundidos com os homossexuais ou melhor, nem querem sair. Eles só querem difundir a vertente de sua ideologia, aumentar os clubinhos que existem há muito tempo (dos enrustidos) e interagir. Trata-se de um grupo novo, imaturo, que quer seu espaço, mudar o mundo sem se assumir e desesperadamente faz de tudo para se entender e ser compreendido. No fim, é um grupinho que quer o direito de ter a sua boa sacanagem mas não quer ser visto com maus olhos ou ter que lidar com preconceitos e estigmas.  É puro auto descobrimento e poder lidar com a própria sexualidade sem pressão e compromisso.

O movimento é válido, até o ponto que tenta se sobressair dos gays acusando-os de auto sabotagem. Pois ressaltam os estereótipos que não representam de fato o que é ser homossexual como sendo verdades inerentes aos homossexuais. Apesar desta discussão aparentar ser algo novo, a dissidência e discordância entre homossexuais assumidos, no armário ou apenas homens que curtem caras se deu desde a criação do movimento gay. Os G0ys mais parecem um clubinho de pessoas que não estão nem ai para os outros, pregam a desunião do movimento, sua supremacia e fazem uma propaganda de sexo libertário sem compromisso senão baseados na “amizade” e em uma responsabilidade natural masculina, ou seja, preceitos heteronormativos. Usam exatamente o que pregam os religiosos fanáticos e homofóbicos: que homossexuais devem se manter celibatários, não abrir mão da masculinidade (muitas vezes ensaiada) e casamento com mulheres, no caso dos “hétero g0ys”. Coitado mesmo é do tal do Gay G0y que estará então fadado a não fazer sexo penetrativo com outro homem, a esconder seus sentimentos e a aceitar ficar preso no armário com um monte de auto denominados machos alfa que tem medo de desmunhecar.

Se alguém encontrar ou conhecer algum “g0y”, favor avisar.

 

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa


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