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Neno Lima: 37 anos de noites de sucesso

Redação Lado A 05 de Junho, 2014 21h06m

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O promoter Neno Lima, ou Antônio Reinaldo Lima da Silva, 60 anos, nasceu em Santo Antônio da Platina, Norte do Paraná, e desde cedo foi um jovem inquieto e cheio de idéias. Ainda no colégio, com pouco mais de 10 anos, já começava a se envolver com a organização de gincanas, festinhas, a participar de bandas de rock, grêmio estudantil, a se integrar à vida social da cidade que hoje tem 42 mil habitantes (IBGE) mas na década de 60 era mais um pequeno município do interior. Mais tarde, passou a organizar eventos no tradicional Clube Platinense, aos domingos, um bailinho sem bebidas alcóolicas, com rock e twist, globos de espelho e bolas de isopor pintadas de cores fluorescentes. A disco e a discotecagem ainda eram algo longe da vida do jovem que aprendeu a tocar violão e piano, que curtia as rodas de amigos na praça e vivia em um mundo bem diferente do que o esperava.

Seus pais, hoje falecidos, eram contra as festas e eventos que ele organizava. “Naquela época ser médico ou funcionário do Banco do Brasil era o sonho dos pais”, conta o promoter que este ano comemora 37 anos de noite. E foi em São Paulo que a noite começou de verdade para ele. Enturmado com a nata gay paulistana, Neno frequentou as melhores festas dos anos 70 e 80 na cidade, destaque para as do clube Medieval, na Avenida Paulista, onde conheceu famosos como Mick Jagger e o Village People. A cena gay era borbulhante e glamorosa em São Paulo e no Rio, onde a referência da época era o Sótão, na Galeria Alaska, em Copacabana. Dividindo o tempo entre a faculdade de Arquitetura, em Campinas, na PUC, que terminou depois de muitas interrupções e brigas com o pai, Neno frequentava e organizava festas na capital paulista. A primeira regular delas foi na boate Papagaio, junto com amigos, aos domingos, a Papagay. Depois, passou a voltar esporadicamente a sua terra natal e organizar concursos de misses, feiras e festas. Passou a levar atrações teatrais, shows e celebridades para Santo Antônio da Platina como Roberta Close, Clodovil, Rita Lee, Dercy Gonçalves e outros artistas que faziam sucesso no circuito Rio – São Paulo. Ele recorda ainda da boate B.a.s.e que por mais de 10 anos, principalmente nos anos 90, moldou o que hoje conhecemos como boate gay clássica.

Como conhecia e recebia muitos curitibanos em São Paulo, certa vez veio acompanhar um amigo a um desfile de jóias em Curitiba, em uma festa promovida pelo colunista Ruy Barrozo. Depois do tal evento deu uma volta pela noite da cidade e decidiu ficar. “Havia uma carência muito grande de eventos e festas na cidade, principalmente na cena gay”, revela Neno, que tem como característica sua descrição e olhar visionário. Era o ano de 1981, e o La Belle Epoque, na Av. Sete de Setembro, era o point da cidade. Neno conta que o proprietário do local, Zé Carneiro, português, era um grande empresário, e passou de desafeto a amigo. Neno chegou a tomar uma bofetada do português quando começou a fazer festas na cidade e a incomodar. “Não era fácil concorrer com ele”, diz o promoter que chegou a ser convidado a trabalhar no local. Para Neno, naquele tempo havia mais glamour, mas as pessoas foram mudando, seus amigos daquela época muitos morreram ou saíram da cidade, alguns estão por aqui mas não saem mais de casa.

E por décadas foi assim. Novos promoters surgindo, novas casas, público novo, novas modas, mas Neno Lima continuou seu trabalho, de algum modo sobrevivendo às mudanças e sempre encontrando o caminho do sucesso. Neno trabalhava em uma loja de decoração e ia organizando suas festas e eventos, em Curitiba, como festa do Mercado Mundo Mix e em Santo Antônio da Platina, onde realizou as primeiras edições da Feira Agropecuaria e Industrial do Norte Pioneiro e levou diversos artistas, além de organizar o concurso de rainha da festa. Naquele tempo, poucos gays malhavam e ele sempre frequentou os chamados na época de “centros de fisiculturismo”, por isso de sua boa forma até hoje. Foi de lá, e de São Paulo, que ele tirou a idéia de colocar gogo boys em suas festas e a promover desfiles das cuecas que fabricava. Ele acompanhou de perto o surgimento de boates gays de Curitiba como a It, Queen e Elektra nos anos 90 e foi apenas em 2000 que resolveu entrar de cabeça na noite e ser promoter da primeira Box, nome qual registrou, próximo ao Largo da Ordem, onde hoje existe a casa de samba Mistura Brasil. A boate passou ainda por outros dois endereços (Taunay e Av. do Batel), o projeto teve alguns anos de interrupção, antes de se tornar a atual Black Box, há 7 anos, que não tem nada a ver com os clubes anteriores, destaca Neno.

Nesse meio tempo ele criou outras duas marcas de cuecas, lançou nomes hoje consagrados em suas festas como DJs, divulgadores e promoters, namorou muito e ajudou muita gente. Neno também foi alvo de polêmicas e intrigas com concorrentes. “Sempre foi uma briga tremenda”, conta ele que afirma que sempre haviam batidas em festas que ele fazia e houve até uma bomba de pimenta nas primeiras semanas depois da inauguração Black Box, relembra. O promoter sempre conseguiu colocar seu trabalho e competência acima de tudo. Por causa disso, hoje ele afirma sair menos, evita polêmicas, não vai à casa de amigos, ser mais seletivo e se incomodar menos com novos concorrentes ou turmas da moda. Neno diz que está feliz e espera trabalhar até os 70 anos, talvez mais nos bastidores.

Sobre a parceria atual com a Black Box, ele afirma que nunca trabalhou com uma equipe tão boa e que pretende crescer o empreendimento cada vez mais e melhorar a noite da cidade com o grupo. Neno conta como surgiu a nova casa, quando bateu no imóvel que queria alugar e saiu de lá com uma proposta de emprego e parceria que dura até hoje. O sucesso da Black Box ele divide sem modéstia com os demais colaboradores mas destaca o papel crucial de Fauzi, gerente e sócio da casa, que segundo Neno resolve muitas das coisas que antes tiravam a sua paciência. “Profissional como ele eu nunca vi. Eles me dão carta branca total”, elogia Neno que neste sábado faz sua mega festa de 37 anos de noite na Black Box em comemoração a esta bela carreira que você pode conhecer um pouco mais aqui.

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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