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Pronto Falei: O que eu acho das Paradas Gays

Redação Lado A 20 de Agosto, 2014 20h33m

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“A Parada Gay é anos 90, 2000”, “Só tem putaria”, “Não tem viés político”, “A parada se perdeu”, “Só tem gente bêbada e travesti pelada”, “É putaria”, “Não nos representa”, entre outros fortes argumentos definem as Paradas Gays por aí. Eu acredito que, mesmo que isso tudo seja a mais pura verdade, devemos apoiar e defender as paradas pelo simples fato de ser um evento de resistência, de visibilidade, um tapa na cara da sociedade, mesmo que tenha muita gente que acredita que ele é negativo para a causa, um tiro no pé.

Temos que lutar contra a violência e baderna nos eventos, contra os assaltos e gente passada causando confusão, algo que tem a ver com a segurança pública e não com ser ou não a favor ou o fato do evento ser gay. Mas se incomodar com o comportamento alheio e discordante é o que queremos combater com as paradas. Se você se incomoda com os drogados, pelados, tarados, vileiros, fedorentos, pessoas que julga inconvenientes, e afins, durante a Parada, se eles não invadem o seu espaço, como pode você querer que respeitem o seu direito de ser diferente.

Aí está o problema, os gays que se incomodam e discordam da parada, na maioria das vezes, são os mesmos que defendem que gays devem se abster de trocar carinho em público, que defendem que devem ser discretos, que sejam exemplares em público para não manchar a imagem dos outros gays… Não os estou chamando de homofóbicos, mas são pessoas que defendem a discrição pregada aos gays pelos héteros conservadores. São gays que julgam que é preciso ser ‘comportado’ para sermos melhores aceitos. Cada um deve se portar como preferir, mas exigir que o outro se expresse conforme o que você acredita ser mais digno é interferir na liberdade alheia, é pregar as ditaduras sociais que devemos combater. Claro, quem comente abusos deve sim ser punido, mas são muito poucos os que causam tumulto ou apresentam comportamentos intoleráveis ou perigosos. É um dia de festa para alguns, e estes se comportam assim…

Outro ponto é de que o evento deveria ser mais politizado. Quem disse? Temos eventos politizados, protestos, vigílias, reuniões de ongs e afins que são totalmente vazios. Essas pessoas que argumentam isso nem aparecem por lá. Quem participa? Poucos militantes. Essa idéia de que as paradas deveriam  ser um evento de protesto político não cabe como argumento, até porque parada, o conceito, é sim de Carnaval. “Parade” (Desfile) e não “March” (Marcha), como em todo o mundo. E qual o problema de um Carnaval no Brasil? Oi?

Lá fora, as grandes paradas foram diminuindo ao passo que direitos de igualdade foram conquistados mas no Brasil estamos muito longe disso ainda, então as paradas ainda se fazem, e muito, necessárias. Lá fora, os protestos enchem, ainda, aqui são raros os momentos que a comunidade se une, salvo em festas. Além disso, um homossexual é morto a cada 24 horas no Brasil! Não é vitimismo, é realidade! A cada morte deveríamos fazer um protesto, mas nada acontece.

No nosso país temos o péssimo hábito dos empresários do meio não se envolverem com a causa, o brasileiro em geral não se envolve. Organizações precisam contar com dinheiro público, casas quase não participam e a maioria ainda boicota os eventos… É triste! Temos ainda o infeliz hábito de não querer misturar as classes sociais, então parada virou coisa de pobre… homofobia é coisa de pobre, sair do armário é coisa de pobre… Ou seja, viado rico e bem sucedido acredita que não é com ele. Está muito satisfeito que já pode casar se quiser e não pensa na travesti que apanha na esquina e no gay do subúrbio que é expulso de casa ou é hostilizado, que corre risco de vida diário por ser homossexual.

Por outro lado, falta transparência aos eventos, falta mais organização, gente ajudando, um direcionamento melhor, mais comunicação com a comunidade. As paradas não são perfeitas e carecem sim de apoio e verba. Infelizmente, criticando o evento estamos minando eventuais apoiadores e melhorias, pois a idéia que se tem atualmente é que nem a comunidade quer o evento (E já tem muita gente que não o quer). Mas , como dito, a Parada é necessária.

Seja da forma que é hoje ou seja com um novo modelo, a Parada Gay precisa ser abraçada por todos. Seu sumiço é a vitória daqueles que acreditam que gays devem ser gays apenas entre quatro paredes, ao longe da vista dos “normais”. É preciso lembrar que nossa bandeira tem várias cores e essa diversidade, de pensamento e atitude, é o que faz das paradas um grande evento. Ninguém é obrigado a ir ou concordar, mas é preciso refletir para não dizer besteira e não concordar com o preconceito.

Então, concordando ou não, prestigie o evento, compareça, não precisa desfilar se não tem orgulho do que vê. Essa discussão ocorreu lá fora e muitas paradas passaram a dividir os subgrupos, com blocos diferentes, cada um organizando o seu, o que deu certo em muitos lugares. Mas pense se o seu boicote é o melhor que você pode fazer. Talvez você não precise que sua vida melhore, mas tem muito gay e trans que precisa, tanto que alguns hipervalorizam esse dia e se excedem. Há lugares em que gays morrem ou apanham pelo simples direito de poder ter uma parada ou sair à luz do dia sem medo. O dia da Parada Gay é sobre união dos diferentes (Em alguns lugares no Sul apelidada de Parada da Diversidade ou Parada Livre), sobre amor. Se você não está disposto a se unir, se recolha em seu preconceito e assuma que o problema não são as paradas, mas você. 

 

 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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