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Não é por R$20: O custo invisível das drogas

Redação Lado A 22 de Fevereiro, 2015 00h20m

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Quando uma pessoa consome um entorpecente, ela não apenas lesa a sua saúde, ele ajuda a manter uma cadeia cruel de mortes, custos públicos e violência. As máfias das drogas estão ligadas ao tráfico de pessoas, corrupção de menores, lavagem de dinheiro, roubo de veículos, estelionato, corrupção de agentes públicos e a outros infinitos crimes. Ao comprar uma droga ilícita, seja qual for o motivo, seja qual for a quantidade, você está colaborando. As organizações criminosas não tem centralização, são mais espalhadas do que células terroristas e tão cruéis quanto. As pessoas pensam apenas do dealer amigo, não olham o que há por trás do consumo.

Segundo relatório das Nações Unidas, “A estimativa é que no seu conjunto, o custo das drogas psicoativas no Brasil corresponde a 7,9% do PIB por ano, ou seja, cerca de 28 bilhões de dólares (Secretaria de Estado da Saúde/SP,1996)“, incluindo aí o tabaco e o álcool. Parte do dinheiro arrecadado no mercado negro com as drogas é usado para garantir benefícios a traficantes presos, que vai desde suborno policial a compra de sentenças ou regalias na prisão. O tráfico corrompe a polícia, a Justiça, e todo o sistema que deveria defender o cidadão. Uma vez corrompido, o sistema não executa a sua função devidamente.

O dinheiro da droga financia diversos outros crimes, comprando pessoas, invertendo valores, justificando assassinatos seja por dívidas ou por disputa de pontos de venda. O valor da vida passa a ser menor que um punhado de drogas. O uso destas drogas tem um custo alto para a sociedade ainda no trânsito e no sistema de saúde onde ocupa em média 5% de seus serviços para atender pessoas que abusaram ou possuem o vício do uso destas substâncias. Sem falar nos gastos de repressão e encarceramento, os custos judiciais, as mortes e flagelos familiares. E ainda das verbas direcionadas à problemática das drogas que acabam deixando de atender outras áreas, atrasando investimentos importantes para o futuro de um país.

A droga custa muito mais do que R$20 reais de uma buchinha ou vidrinho, mas quem paga o resto deste valor é a sociedade.

Muitos defendem a legalização de drogas, mas ela já existe no Brasil. O álcool, o tabaco e outros fumígenos liberados atendem parte do mercado em uma política de tolerância do Estado, revertem receitas que não pagam seus custos mas é uma espécie de redução de danos por meio do controle público. Mas é impossível liberar outras drogas, ainda mais que todos os dias surgem novas e cada vez mais nocivas e elas não pagam os danos que causam. 
 

As drogas ainda impactam nas empresas, na produtividade, faltas e perda de concentração de funcionários.  

Como lutar contra um mercado de US$ 85 bilhões anuais em todo o mundo? A maior indústria do planeta, com PIB superior a maioria dos países do mundo? Na verdade a máfia das drogas seria a 21ª economia do mundo, atrás da Suécia… Será possível combater esse problema apenas se houver a conscientização do custo das drogas para a humanidade, pois se não houver mais a demanda, ou se ela diminuir, assim ocorrerá com a produção e vendas, consequentemente com a violência. Sem lucros altos, as drogas não poderão manter o sistema que as coloca longe do alcance da Justiça e tudo entrará em colapso. Legalizando, elas gerariam mais custos, mesmo com a demanda atual.

E a situação está fora de controle. No mundo, a UNODC (Órgão da ONU contra as Drogas) estima que entre 149 e 272 milhões de pessoas, ou 3,3% a 6,1% da população entre os 15-64 anos de idade, usa substâncias ilícitas ao menos uma vez por ano, metade ainda são usuários habituais. As drogas causam entre 104.000 e 263.000 mortes por ano, ainda segundo a ONU. De 23,1 a 58,7 mortes por um milhão de habitantes entre os 15-64 anos, metade das mortes causadas por overdose, outra metade por crimes relacionados à violência gerada pelas drogas. Se contabilizarmos as mazelas causadas pelo álcool e o tabaco, o custo das drogas ficará ainda maior. É insustentável.

Avaliando o Narcotráfico como uma empresa, o mercado das drogas é um perfeito modelo de negócio. Baixo investimento e multiplicação rápida; Baixo risco, desde que tenha lucro alto e contatos suficientes para não ser preso ou ficar fora do mercado; Não precisa de propaganda, pois os usuários já a fazem; Liquidez, pois os pagamentos são à vista; Não se paga impostos, apesar de ter que dividir o bolo com outros do sistema; Não há controle de qualidade ou reclamações; E no fim das contas, a responsabilidade sobre o usuário e seus danos à saúde são transferidos ao Estado e famílias que bancam seu tratamento ou enterro. 

Sem falar nos nomes apelativos: bala, doce, Gisele, Queila, Paulo Otávio, Nelson… nem parece algo tão ruim… Afinal, o usuário do crack e o de drogas injetáveis é quem são a escória. Há um falso glamour que esconde o que há por de trás. E há mortes, há roubos, há corrupção e uma sequência sem fim de marginalidade.

As drogas são sim um problema mundial, mas é o indivíduo que as consome quem mais se prejudica. Seja qual for a droga, não há níveis seguros para seu consumo. Tanto o álcool quanto o tabaco já provocam sequelas pelo uso continuo, comprovado cientificamente. Apesar de acompanharem a história da humanidade, as drogas são nada mais do que venenos e as sensações causadas são reações do corpo a uma intoxicação. Por isso são chamados de tóxicos. 
 
O uso de entorpecentes pode ser fruto de um convívio social, insatisfação psíquica, necessidade de novas sensações, escape da realidade e em vários casos são muletas “recreativas”, em tantos outros são vícios oriundos de questões neurológicas que facilitam a dependência. É preciso entender o motivo que leva cada um a usar drogas e suas consequências pessoais. Perde-se muito com as drogas. Perdemos amigos, tempo, convívio e experiências. Há um preço alto pessoal causado por transtorno de personalidade, comportamento e humor.

Não há argumentos que justifiquem o uso de drogas que causam danos à saúde, à vida, seja aos poucos ou rapidamente. É possível que pessoas que usam drogas, mesmo sabendo que fazem mal, o façam em razão de uma autoflagelação. Desejam a morte secretamente – inclusive aqueles que usam drogas ditas lícitas. Um suicídio lento, sem sentido, mas que satisfaz um desejo escondido. Algumas pessoas argumentam que as usam por causa da sensação que elas geram mas assumem os riscos, brincam com a vida e aos poucos perdem saúde.

Se incluirmos ainda os psicoativos de remédios usados hoje, chegaremos à conclusão que somos uma sociedade drogada, infeliz e hipócrita. O estresse nos leva a este comportamento destrutivo? Temos que repensar todas as drogas que compramos e sustentamos, o que elas causam em nós e na sociedade e com isso talvez buscar uma solução que não seja uma fantasia de que as drogas são algo mágico que nos faz esquecer a realidade ou nos tira a dor da existência.
 

Seja o Rivotril, o cigarrinho, a cachaça ou o pó mágico do traficante, são todos indícios de que estamos doentes e não estamos encarando o problema de frente. Não se engane, se você compra drogas, não é apenas consumidor, é um sócio acionista das Drogas S.A. e corresponsável por todos os males por ela causados.

 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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