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O tal brilho nos olhos

Redação Lado A 10 de Julho, 2015 15h35m

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Sempre namorei caras mais novos. Por muitas vezes não sabia o motivo disso, mas percebi um padrão. O namoro ia bem até que não vejo mais aquele brilho e isso passava a me incomodar. E eu fazia de tudo para que a pessoa continuasse a ter tal característica, nem que eu precisasse doar a minha alegria, por meio de muita dedicação e tempo, ou o que precisasse, ao qual eu chamava de amor. Não se trata da idade, da pessoa, mas o tal brilho que eu via, que era explicitado também por um sorriso que me fazia sentir eufórico, que um dia sempre sumia ou deixava de ser tão constante.
 
Talvez eu procurasse no outro o brilho que eu julgava não ter mais. Esta semana um amigo me disse: “Allan, você entrou aqui e iluminou o lugar”. É um elogio que sempre me acompanhou mas que nos últimos anos, ou desde o final da minha adolescência, eu julgava não merecer mais ouvir. Talvez uma crise dos 30, mas eu acredito que seja apenas um erro de leitura existencial.
 
Auto estima, e mais do que isso, não se deixar abater pelas coisas que acontecem em nossas vidas que nos colocam para baixo. Quando eu comecei a escrever em 1998 no meu blog, eu era mais corajoso, me expunha mais, era outra pessoa. Hoje penso sempre no que estarei passando aos outros, penso no peso da minha profissão, da imagem construída. Dane-se!   
 
Precisamos ser mais autênticos, sinceros com nós mesmos, para sermos felizes. Embora eu sempre tenha sido feliz e autêntico, não conseguia mais ver essa energia em mim, talvez por demais acomodado, cansado ou mesmo conivente ou desiludido.
 
A lição que eu deveria ter tirado quando saí do armário não foi completa. Viver para os outros pode não nos roubar o brilho dos olhos mas o ofusca com certeza. Esperar que alguém ou um trabalho, status social, carro novo, corpo sarado, sexo, ou uma falsa amizade, amizades superficiais, nos traga algo que deveria estar aceso dentro de nós mesmos pelo simples fato de existirmos não vale a pena. Nosso brilho nos olhos não pode ser colocado em um leilão de vaidades, não pode ser artificialmente produzido por drogas, não pode ser algo que encontramos apenas de noite quando o que vemos é o reflexo de luzes estroboscópicas na nossa retina. O brilho dos olhos dos outros não pode ser o nosso combustível para ser feliz.
 
Se os olhos são a porta da alma, tem gente que tem sangue nos olhos, tem gente que tem os olhos tão tristes que demonstram que não estão em uma fase boa. Não sei se as outras pessoas conseguem ver isso claramente, mas eu vejo. Leio a pessoa pelos olhos, sei quando ela está sendo sincera ou feliz.
 
E tem gente que busca esse brilho em paixões de finais de semana, amor platônico, animais de estimação, nas causas mais difíceis, nos filhos, compras… Alguns buscam na religião. A felicidade vive dentro de nós, somos responsáveis por nossas escolhas, são diretrizes que sempre acreditei e agora acrescentei mais uma: ter sempre o brilho nos olhos.    
 
E tem gente que destrói propositalmente a alegria alheia, como se fossem vampiros oculares, deixando a outra pessoa cega temporariamente. O brilho de alguém pode atrair haters, mas ninguém tem o direito de destruir um sorriso, o brilho ou a felicidade, falsa ou não, do outro. Mas antes disso, ninguém deve permitir que façam isso com eles. É um jogo, no estilo Detetive, tem apenas o assassino, a vítima e o policial. O segredo é não jogar, pois até o policial não é feliz pois todos deixam de olhar para si para prestar atenção do outro.
 
Veja os olhos, os seus, os dos outros, espalhe sorrisos e luz naturalmente, com boas ações e gentileza sem esforços, e o seu próprio brilho irá reacender, pois acredite, ele sempre estará dentro de você.
 
 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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