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Ferdinando Show é tão fechativo quanto cansativo e equivocado

Redação Lado A 21 de Agosto, 2015 16h35m

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Este mês o canal pago Multishow estreou o programa Ferdinando Show, criado em cima do personagem do talentoso e incrível humorista Marcus Majjela, Ferdinando, o concierge da pensão da Dona Jô, do programa Vai que Cola. O programa começa com uma dublagem do personagem em mega produção, o primeiro foi de Madonna como Cleópatra ao som de Vogue, depois no melhor estilo Saturday Night Live o apresentador anuncia as atrações da noite. O programa é super bem feito e pode ser considerado o primeiro programa gay feito no país.
 
Em um dos quadros, alguém da plateia é convidado a virar drag queen, no final é feita a revelação da nova drag e seu batismo. Outro momento alto do programa é a presença dos assistentes de palco, modelos lindos mas que antes apareciam só de calça jeans e agora estão sempre de camiseta. Bordões e expressões gays aparecem o tempo todo mas o talk show mistura personagens reais com fictícios e temas como “ex viado”, “bicha bichérrima” caem no escracho. 
 
A idéia não é ser um talk show sério. Mas o conteúdo é repetitivo, bem como as piadas. Para um programa diário torna-se altamente cansativo. Também é possível ver a diferenças de entrosamento entre Majjela e os seus convidados. No caso da estréia com Paulo Gustavo, de Bicha Bichérrima, fluiu super bem, mas em outros a sinergia mudou.
 
Rir de si mesmo é super bom mas a linha limite em que uma piada vira bullying ou mesmo ofensa é tênue. Apesar de non sense, e de não ser um programa militante, toda forma de expressão é fazer política, ainda mais na TV – apesar de ser um canal para assinantes – o conteúdo acaba na internet. Os personagens de alguma forma expressam o conceito de “não me julgue”, “sou como eu quiser”, “incomodados que se retirem”, o que é ótimo, mas ao proporem isso para fazer rir, na vida real o peso de não ser algo a ser levado a sério acaba dominando. 
 
Ou seja, é mais um programa que ensina a sociedade a rir dos gays, aos gays rirem de si mesmos e que devem virar palhaços para serem aceitos. Ao invés de respeitá-los, seja eles como forem, de que quanto mais espalhafatosos são “mais gays” e mais aceitos serão. Rir da “bichisse” é uma forma de legitimar piadas preconceituosas e dedos apontados e risadas a toda a comunidade. O curioso é que quem faz esse tipo de humor ou ri dele, depois critica a Parada LGBT, pois virou um Carnaval e não há seriedade. É preciso humanizar o gay e não coloca-lo como um ser a parte da sociedade.
 
Há um conceito do professor de antropologia Dr. Luiz Mott que diz que os gays são instigados pela sociedade a se diferenciarem, para que sejam facilmente identificados, e assim oferecerem menos riscos reais de invadirem os espaços que a eles não são permitidos. 
 

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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