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Livro aborda fato da sexualidade masculina ser mais rígida e questiona teoria do “born this way”

Redação Lado A 07 de Agosto, 2015 21h58m

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“Não Gay: Sexo entre homens héteros brancos” (Not Gay: Sex Between Straight White Men) é o livro publicado no mês passado pela NYU Press, baseado em pesquisa da professora adjunta em Estudo Sobre as Mulheres na Universidade da Califórnia, de Riverside, e que constata que a sexualidade feminina é mais fluída do que a dos homens. Como exemplo, é citado o caso de duas mulheres se beijando ou ficando em um bar, quando o fato não é encarado como homossexualidade mas como uma brincadeira ou mesmo uma provocação por maioria dos homens. Já se fossem dois homens, a cena causaria uma reação diferente. Enquanto as mulheres não seriam taxadas de lésbicas imediatamente, os homens ganhariam o rótulo de homossexuais.

Do mesmo modo, uma experiência com uma pessoa do mesmo sexo para mulheres não seria marcante para determinar a sua sexualidade, enquanto para homens seria algo divisor de águas aos olhos de terceiros. Na verdade, as mulheres nem precisariam se explicar muito, já os homens teriam uma questão a ser resolvida sob pressão. A variedade do sexo feminino é mais maleável e inerentemente aberta à experimentação e variedade, muito mais do que o sexo masculino. A pesquisadora mostra ainda que o contato homossexual entre homens é muito mais comum do que se imagina. E ela cita experiências homossexuais vividas em prisões, bases militares, prostituição e fraternidades universitárias, onde homens experimentam o sexo gay mas não deixam de ser heterossexuais.

“O que eu argumento no livro é que, mesmo que a pesquisa esteja situada dentro de algumas crenças de longa data sobre as diferenças fundamentais entre homens e mulheres, elas não sejam precisas a partir de uma perspectiva feminista. É interessante, porque se você olhar para essa crença de que a sexualidade das mulheres é mais receptiva – é mais fluída, ela é acionada por estímulos externos, as mulheres têm a capacidade de ser despertada por tudo e qualquer coisa – e isso realmente apenas reforça o que nós queremos acredita sobre as mulheres: que as mulheres estão sempre as pessoas sexualmente disponíveis”, explica a autora.

Já com o homem haveria a premissa de que ele tem um impulso natural heterossexual de preservar a espécie e espalhar suas sementes. Reforçando a heteronormatividade e o patriarcado. “Por que estamos contando essa história realmente diferente sobre a sexualidade das mulheres?”, questiona a autora. E continua: “O que é interessante sobre todas essas histórias é que porque estamos tão comprometidos com essa narrativa que a sexualidade masculina é obrigada pela biologia e só pode ser deslocada de alguma forma pelas circunstâncias mais extremas, os autores dessas várias teorias parecem sempre chegar à conclusão de que eram as circunstâncias muito únicas e particulares do contexto que explicar por que homens heterossexuais agiram como homossexuais”.

Para a autora, casos de batismo da Marinha ou rituais de iniciação em fraternidades universitárias que envolvem práticas homoeróticas são provas de que a sexualidade pode ser explorada pelos homens sem a necessidade de rótulos ou mesmo em pensamento sexual. Em uma das fotos do livro, de um desses momentos, é possível ver os jovens se divertindo e provavelmente sentindo prazer. Como exemplo destes casos, a autora publica um anúncio de pegação onde um suposto heterossexual surfista convida outros homens para sexo. Para a estudiosa, o homoerotismo ou sexo gay servem também para fixar laços entre heterossexuais e gerar prazer sem influenciar com neuras a questão da sexualidade rígida hetero masculina, como é no caso das mulheres. Há casos que a pesquisadora relata de homens que dizem odiar “bichas” mas que tem fantasia em fazer sexo com outros homens. Para a autora, “os homens heterossexuais têm muito poucos recursos para a compreensão de parte de sua sexualidade, e assim a coisa principal, a primeira e mais importante coisa que eles fazem é apenas para entendê-la como não sexual em tudo, só para não pensar nisso, e na medida que eles pensam sobre isso como sexual, em seguida, entram todas essas narrativas sobre privação ou restrição”.

“Para mim, isso é uma questão mais interessante do que você nasceu gay ou hetero? Então eu acho que a solução, honestamente, é deixar de ser tão obcecado com argumentos sociobiológicos sobre orientação sexual. O que eu acho é que são uma armadilha, e, francamente, deveríamos fazer a pergunta, uma vez que tantos seres humanos têm encontros homossexuais, o que é que faz com que algumas pessoas entendem seus encontros homossexuais como culturalmente significativo, e outras pessoas entendê-lo como sem sentido ou circunstancial?”

Para a autora, a abordagem da liberdade sexual de cada sexo e como somos criados é mais importante do que se afirmar que gays nascem gays. Para ela, a afirmação determinista acaba reforçando o caráter de superioridade da heterossexualidade. “Eu acho que é um argumento que se destina a legitimidade e tem sido eficaz, é um argumento legitimador, mas é também bastante claramente heteronormativo. Eu provavelmente até diria um argumento homofóbico, porque a lógica é: “Bem, é claro que eu nasci gay – quem poderia escolher uma vida assim? Ninguém jamais optar por ser estranho, então é claro que deve ser algo que eu não tenho escolha sobre, que eu não tenho nenhum controle sobre”. Essa não é a lógica prevalecente “justiça racial”, quando o assunto é a raça. Bem, é claro que eu ficaria branco se eu pudesse escolher. Em vez disso, nós reconhecemos que as comunidades e culturas étnicas e raciais têm um enorme valor, e então eu acho que da mesma forma que existem muitas, muitas razões para querer ser estranho, e causar estranheza, ao contrário de raça ou gênero, é algo que nós podemos cultivar em nossas vidas, faz todo o sentido para mim que as pessoas o fariam. Então o que eu acho do “born this way”, há um grande número de livros que interrogam a ciência em si, que não é o meu projeto, mas fora das falhas da ciência, eu acho que é apenas homofóbica. Você arranhar a superfície e logo abaixo você encontrar um monte de homofobia internalizada”, pontua a pesquisadora em entrevista pra uma revista nova iorquina.

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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