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Como contar aos pais da sua homossexualidade

Redação Lado A 09 de Outubro, 2015 10h22m

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É um processo de paciência e ambas as partes precisam ceder um pouco… As dicas a seguir seguem o pressuposto de que você quer que seus pais apoiem as suas atitudes. E que elas que não fazem parte de uma “opção” sexual e sim de uma orientação sexual, motivada por um desejo, sobre o qual não temos controle, mas que nos faz sentir que gostamos mais de pessoas do mesmo sexo, do que pessoas do sexo oposto. Lembra quando um dia você não queria acreditar que era gay? Seus pais também terão que sair do armário deles. Paciência.
           
O PRECONCEITO DOS PAIS
Cada família é única, porém muitas são as fases – após saberem da sexualidade de seus filhos – que os pais respondem de formas parecidas. É muito importante você saber o que te espera e antecipar-se a desmitificar o que seus pais vão ter como preconceitos. Por exemplo, antes de contar aos seus pais, você deve saber o que eles pensam dos homossexuais. Muitos acham que são promíscuos, que homossexuais são pervertidos, que ser homo é sinônimo de pedofilia. Tente amenizar o preconceito de seus pais ao máximo, para reduzir os danos e o tempo que eles ficarão “trancados” para a discussão, quando você contar a eles.
 
NEM TODO MUNDO DEVE CONTAR AOS PAIS
Tenha certeza do que sente. Tem certeza? Não conte se você não está pronto para responder esta pergunta, que, com certeza, será uma das primeiras. Se você atravessa um período de depressão, culpa, é um sinal de que também não é a hora certa. Tens apoio? Saiba que seus pais podem reagir de forma inconseqüente e podem até te expulsar de casa. Você tem para onde ir? Os pais geralmente usam isso como arma para manter os filhos dependentes com a falsa ilusão de que eles irão mudar de orientação sexual pois os filhos ainda dependem dos pais. Você sabe o que seus pais pensam dos homossexuais? Tem algum na família? Como está o clima da sua família? Se for mais um “problema” para eles, com certeza eles irão ignorar este mais recente. Você tem paciência? Pois o processo de assimilação pode demorar muito e às vezes levar anos. Por quê você quer contar? Pois os ama e precisa deles? Se for, é um ponto a favor. Jamais conte durante discussões ou por se sentir excluído das atenções deles. Compre um livro para pais, existem também diversos textos na internet, livros como: “Agora que você já sabe”, entre outros, podem ajudar. Sua relação com os seus pais é saudável? Se vocês compartilham sentimentos, momentos em família e sempre jogam aberto, tem uma grande chance de seus pais lidarem bem com a sua homossexualidade. Se os seus pais vêem os assuntos sociais com visão moralista, mesmo que eles não as sigam sempre, você pode prever dificuldades em entederem a tua sexualidade.
  
OS PAIS IRÃO SENTIR PERDA
Inversão de papéis. Quando contar aos seus pais da sua sexualidade, eles é quem terão de aprender contigo o que se passa com você. Ou seja, você vai na frente e eles vão te acompanhar nas descobertas, sendo que você está anos à frente, neste processo de assimilação. Não vai ser fácil. Não acredite que tudo será depressa. Muitos pais sentem a perda de todos os seus sonhos e projeções. O importante é você mostrar que eles não perderam o filho que eles sempre sonharam, mas que o sonho deles foi um pouco modificado, e que você, e nem eles, têm culpa de serem diferentes, que o seu sonho é ser aceito com os seus sentimentos. Com compreensão, amor e um jogo de ceder dos dois lados, irá tornar-se uma relação recuperada e muitas vezes melhorada. O mais importante é que eles entendam o valor da sua honestidade e você entenda o valor da honestidade deles.
 
 
FASE 1: O CHOQUE
Se os seus pais não faziam a mínima idéia, eles com certeza irão sofre um choque. É um momento de um grande desgaste emocional, com choro, e, às vezes, dias neste estado. Basta ter paciência e respeitar este estado dos seus pais, que é um estado que o nosso organismo produz para se proteger de grande tensão e infelicidade. Se os teus pais já desconfiavam, será um pouco mais fácil, a não ser se você mentiu para eles quando eles quiseram saber anteriormente. A mentira não é legal, se você não se sente à vontade de falar no assunto, diga isso, não conte de experiências suas. Embora muitos pais perguntem, eles não conseguem de primeira entender como gays se amam.
 
FASE 2: NEGAÇÃO
A negação ajuda as pessoas a se protegerem de mudanças, de uma mensagem ameaçadora ou dolorosa. Demonstra que a informação começa a ser assimilada. As reações de negação podem ser: “Não coloquei filho no mundo para ser viado!”, “É só uma fase, vai passar”, entre outras frases, onde os pais demonstram ignorância da realidade, indiferença ou rejeição. Não dar ouvidos, mesmo quando parecem provocações pois nesta fase os pais tentam acreditar que os filhos estão contra eles, mais uma forma de negação.
 
FASE 3: CULPA
Nesta fase, os pais insistem que fizeram algo de errado. O que é muito perigoso pois entre eles passam a se acusar. “Onde foi que eu errei”, a mãe geralmente leva culpa por ter “educado” os filhos e o pai se sente culpado por ter estado muitas vezes ausente. Quando os pais são separados, sentem se muito mais culpados, aquele que ficou com a guarda do filho muitas vezes acha que foi sua falha. Nesta fase os pais são verdadeiros egoístas pois esquecem do que você sente e passam a se preocupar em achar culpados. Raramente eles se convencem de que erraram, até porquê não é verdade,  quando eles passarem a te culpar, você vai perceber que eles estão saindo desta fase.
 
FASE 4: EXPRESSANDO-SE
Agora, depois de fases improdutivas porém necessárias, os pais passam a prestar realmente atenção em você. As coisas parecem ter mais nexo e as conversas passam a ser mais elucidativas. Alguns pais têm facilidade em se expressar, outros não. Nesta fase, eles tentarão fazer você entender eles e você terá a compreensão deles se souber mostrar que você realmente precisa deles e que você não optou e sim seguiu o seu coração. Sentimentos como raiva, mágoa, desespero se expressam nesta fase, é preciso muita paciência e quem sabe uma ajuda de fora, como um psicólogo.
 
FASE 5: TOMANDO DECISÕES
À medida que o trauma emocional passa, abre espaço para a razão. Os pais refletem e tomam decisões. É como se eles quisessem resolver o assunto, que muito já foi discutido. Irmãos de gays sempre pressionam os pais nestas decisões, eles podem ser grandes aliados, assim como parentes próximos ou amigos dos seus pais. A principal preocupação dos pais é com o preconceito da sociedade, o que os amigos irão falar, lembre-se, eles querem o seu bem sempre mas muitas vezes não querem “sair do armário” como pais de homossexuais. É muito importante que eles compreendam que você precisa estudar, crescer na vida, isso faz parte dos sonhos deles, se comprometa em não ser totalmente diferente. Os pais podem vir a apoiar de diversas formas, seguindo o que eles acham ser suficiente. Alguns pais ignoram os fatos e decidem que não mais discutirão o assunto, isso não é necessariamente negativo, eles chegaram nos limites e não estão prontos para ultrapassá-los. Mostre a eles que você os ama, que você se cuida, que você entende eles. Convide-os a conhecer seus amigos.
 
GUERRILHA CONSTANTE
Alguns pais não tolerantes transformam o assunto em um tema de constantes agressões e cobranças. O que será muito desgastante para o homossexual, que já lida com isso fora de casa, a todo o momento. Alguns pais têm retrocessos e volta e meia dão um passo para trás. O importante é quando você não vê progresso, procurar outro caminho,  como a independência financeira. Não jogue com agressões como sair da escola, falar que vai se matar ou chantagens emocionais. Mostre sempre que você joga com a honestidade e que espera que eles entendam que você jamais fez isso para contrariar eles.
 
FASE 6: A  ACEITAÇÃO
Nem todos os pais conseguem chegar aqui. Em uma aceitação “total”. Alguns amam seus filhos, sem aceitar a sua sexualidade. Outros, porém, chegam a festejar a diferença de seu filho. O pai perfeito para um homossexual seria aquele que junta-se ao seu filho para tornar a sociedade mais receptiva à diversidade humana, que entende o que o filho passa todos os dias e que espera que ele lute contra as injustiças e homofobia da sociedade, e que sempre poderá contar com eles. Nesta fase os pais sentem culpa de pertencer a uma sociedade culpada, uma sociedade homofóbica e machista. 

Texto publicado em 2006, reeditado em 2015.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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