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O crop top da discórdia: homofobia em escola resgata moda e mostra a importância da militância

Redação Lado A 23 de Outubro, 2015 20h57m

O  curitibano Dimi Verona, 17, foi para a aula de manhã do dia 25 de setembro no tradicional cursinho Positivo da Vicente Machado, em Curitiba, usando uma blusa de moletom com zíper. Por causa do calor, ele decidiu abrir seu blusão e foi quando começou o bullying. Ele usava uma camiseta cortada acima do umbigo, a chamada cropped shirt. Mesmo percebendo que as outras pessoas já comentavam, ele decidiu tirar o moletom. Os alunos então começaram a comentar, a rir e a apontar para ele. 
 
Depois de discutir com alguns rapazes, ele foi para a coordenação. Ao sair de lá, o menino que fará vestibular este ano e sonha fazer Dança na FAP – Faculdades de Artes do Paraná – ouviu um dos inspetores usar a palavra “viadinho” para se referir a ele, enquanto comentavam sobre a confusão. “O que está acontecendo?”, “Ah é sobre aquele viadinho…”, ele ouviu já na saída da escola. Ele novamente conversou com o coordenador que o mandou para casa. Na segunda-feira, alguns amigos foram prestar apoio a Dimi e foram para a aula usando cropped. 
 
O funcionário teria sido suspenso por um dia por ter se referido ao aluno de forma desrespeitosa. Dimi recebeu apoio ainda de uma manifestação de alunos da UFPR na semana seguinte. Com cartazes eles protestaram contra os moldes sociais que aprisionam as pessoas em dois gêneros e as regras sociais que suportam a idéia de que meninos usam azul e meninas rosa, entre outros ensinamentos dados às crianças desde pequenas. Alguns alunos do cursinho protestaram contra os apoiadores de Dimi e usaram preto naquele dia. Eles fizeram comentários e sinais mostrando que acreditam que o pensamento da maioria deve sempre prevalecer.
 
O colégio chegou a proibir as roupas “impróprias” em uma comunicação, mas voltou atrás permitindo que Dimi use o que quiser, regra válida aos outros estudantes, mas salientou que as roupas devem condizer com o ambiente escolar. A escola não usa uniformes para destacar a individualidade dos alunos, mas até onde isso é respeitado? Dimi diz que não teve mais problemas com os outros alunos e que está satisfeito com o ambiente escolar agora. Na semana passada ele dançou em frente a sua turma, depois que o viram fazer alguns passos no corredor e pedirem para ele dançar. Um professor cedeu o espaço, mesmo com vergonha ele decidiu dançar e foi aplaudido.

Seus pais optaram por colocar ele no melhor cursinho da cidade, depois de muito esforço, pois não podem pagar uma faculdade particular e esperam que ele passe em uma pública. Em casa sua família dá espaço para ele ser quem ele quer, e ele tem isso bem definido: ser dançarino.

 
O que Dimi não sabia é que a moda que lançou seria tendência deste Verão. Depois da polêmica, a Lado A lançou uma matéria com as cropped, que foi moda no verão de 2012 nos EUA, e também colocou a peça em seu editorial de moda. O assunto ganhou o país, tanto da modinha quanto sobre o direito de se usar o que quiser. Às vezes um crop top é apenas um crop top. Uma tendência e um aprendizado podem surgir de onde a gente menos espera. Apesar de ter apenas 17 anos, a coragem de Dimi nos ensina muito.

 

 
 

Quando a M21 se calou e aplaudiu.

Posted by Dani Duarte on Quinta, 15 de outubro de 2015

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa


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