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Universitário reage na internet depois de ter muro de casa pichado com a palavra “bichona”

Redação Lado A 10 de Novembro, 2015 10h06m

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Ramon Habitsenther, 21 anos, é estudante de publicidade em Volta Redonda, interior do Rio de Janeiro, e a casa da sua família foi pichada na última semana. Os vândalos escreveram “bichona” no muro e ele decidiu compartilhar a sua história e mostrar que não se importa. No Facebook, ele postou um texto que foi super compartilhado em que reafirma o direito das pessoas serem como quiserem: “Sou uma bichona de marca maior e não me envergonho nem um pouco disso, nunca vou fingir ser algo que não sou para ser aceito”.
 
Esta semana, em entrevista para o blog O Dia, ele contou o background do que aconteceu. Segundo ele, o bullying vem desde a infância. Ele contou ainda que seu pai chegou a pedir para ele ser mais discreto e que isso o magoou, mas que sua mãe foi desde sempre seu porto seguro e que isso fez a diferença em sua vida. “Acho que, por isso, o apoio da família seja tão importante para pessoas LGBTs. O que elas sofrem na rua pode ser amenizado dentro de casa. Eu tenho essa certeza que eu sou essa pessoa, segura, tranquila, por causa da minha mãe”.
 
 
Confira abaixo o desabafo e no final o link para a entrevista:

 

Nunca fui de me abalar com o comentário das pessoas em relação a minha orientação sexual, eu cresci ouvindo e vivendo coisas das piores espécies que qualquer ser humano pode ouvir por simplesmente ser quem eu era.
 
Minha memória mais antiga é de quando eu tinha por volta de 8 anos e queria jogar queimada com as garotas e não futebol com os meninos, só que nesse dia estava faltando um garoto para completar o time do futebol dos machos da escola. Eu nunca gostei de brincar de bola, carrinho ou soltar pipa. Inclusive quem levantava minhas pipas era minha amiguinha que morava na casa lado porque ela fazia isso muito melhor que eu. Mas voltando ao acontecido da escola, estava faltando um garoto para completar o time, eu continuei a jogar queimada e o time deles acabou ficando desfalcado e não conseguiram jogar a partida que queriam. 
 
Segui meu dia normalmente como bom aluno que era, sem me importar muito com ameaças e piadinhas que ouvia a todo instante e de todos os lados. 
 
O sinal para ir pra casa bate, como eu morava e moro na mesma rua da escola que estudava, caminhava sozinho até minha casa todos os dias. Mas nesse dia eu não fui sozinho, aquele grupo de garotos me acompanhou, chegando próximo a um terreno vazio que ficava logo depois da escola, fui empurrado para dentro dele e então, bom, eu apanhei nesse dia porque eu não quis participar do futebol, porque segundo eles eu era menininha, eu era ”Ramona” e não merecia ir pra casa sem passar por aquilo. 
 
Mas qual é? Eu só estava sendo eu mesmo, eu simplesmente não sabia ser de outro jeito, EU ESTAVA SENDO O QUE EU ERA. 
 
Minha mãe e meu pai sempre me criaram como um garoto, me davam bolas, carrinhos e skates, porém eu sempre me interessava mais pelas bonecas e sapatos da minha irmã, sempre foi natural isso pra mim. E por quê não seria? Por quê seria errado eu gostar daquilo que pra mim era muito mais legal? Bom, essas perguntas eu me fiz a vida inteira. Até não precisar mais fazê-las, até que eu me compreendi, me entendi, me aceitei, me amei e senti muito por aquelas pessoas sentirem tão pouco. 
 
Eu nasci, cresci e vivo no mesmo bairro de sempre, dos insultos, das humilhações, da surra, das palavras ríspidas. Só que de tanto ouvi-las elas pararam de fazer sentido, não me afetam mais, não me magoam, simplesmente porque estou seguro de quem eu sou e do que eu acredito!
 
Quando a coisa é comigo, eu simplesmente ignoro e deixo pra lá, porém dessa vez foram além e expuseram toda minha família, família maravilhosa por sinal, que me respeita e me ama acima de qualquer coisa! Simplesmente sujaram, estragaram algo que meu pai trabalhou a vida inteira para conseguir. E pra que? Em nome de quem? Pra me ferir? Não conseguiram.
 
Sou uma bichona de marca maior e não me envergonho nem um pouco disso, nunca vou fingir ser algo que não sou para ser aceito e jamais vou parar de compartilhar e expor minhas idéias para que pessoas como essas pensem que ”está tudo bem, só não pode ser gay perto de mim”. SIM, NÓS EXISTIMOS E PERSISTIMOS! Não vou me calar em relação a isso e a nada mais. E a essas pessoas eu dou todo amor que tem dentro de mim e que faltam nelas. 
 
O AMOR É LIVRE!!
 
 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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