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Meninos da pegação: Perfis que só te fazem perder tempo

Bruno Uerba 15 de Dezembro, 2016 15h51m

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O amor, dos dias de hoje, virou pizza. A gente pede por telefone, no conforto da nossa casa e, na maioria das vezes, não comemos sozinhos. E se não estiver boa, se esfriar, a gente joga fora e pede outra. Tem gente que liga e dá “piti”; tem aqueles que pedem outro sabor; tem alguns que comem, lambem os dedos e ainda ficam insatisfeitos; há, também, os que simplesmente se lembram da dieta e terminam numa ressaca moral difícil de conviver (isso que dá sair comendo qualquer coisa).
 
Nesse festival de pizza, ou de amores que não interagem, há um leque de comportamentos que é bom estarmos cientes. A pegação do século XXI já foi baixada e atualizada. Que tipo pessoa você se tornou?
 
O devasso prático: esse é aquele sujeito que tem as taxas hormonais acima da média e, normalmente, o seu ciclo de anabolizantes é bem maior que o ciclo de amizades. Quando sai para caçar, pergunta o tamanho do documento antes de dar bom dia. Ele tem pressa, o seu tempo é precioso e se você ousar ter um diálogo ele te bloqueia imediatamente – sem titubear. Cada like vale uma transa e quantidade, no seu dicionário, vem antes de qualidade. O seu maior medo? Um hemograma completo.
 
A romântica do aplicativo: vamos por partes, se o aplicativo é de pegação por que cargas d’água a pessoa aparece as 5 da manhã querendo encontrar uma alma gêmea? Esse tantã das ideias, já de cara, coloca um textão no perfil dizendo que é pra casar, que quer adotar 5 filhos, andar de mãos dadas nas areias brancas da Tailândia como Angelina Jolie e Brad Pitt, depois aparece, transa que nem hiena no cio e no dia seguinte nem dá sinal de vida: blá-blá-blá.
 
O teclador libidinoso: esse geralmente sobrevive no interior de uma cidadezinha onde não há nada além de Wi-Fi. O seu sonho, além de sair do fim do mundo, é transar com todas as pessoas disponíveis na Internet. Tecla sem parar, muito papo, muito nudes e sexo virtual a torto e a direito. Marca com todo mundo, diz que vai fazer isso, aquilo… e morre na praia. Geralmente ele é gato, sensual, pele saudável (virgem de drogas) e uma leve expressão de inocência. Mas é pisar num grande centro que o anjinho da roça vira um capeta. Pega todo mundo que ele vê na rua, exceto aqueles que teclaram com ele nos últimos 57 meses.
 
O mascarado fake: existem dois tipos de fake e ambos usam a falsidade como uma forma de se esconderem. O primeiro é aquele curioso que está fora dos padrões estéticos e se camufla atrás de fotos de modeletes só para descobrir a real identidade das pessoas, o que elas fazem ou deixam de fazer; o segundo é aquele enganador comprometido que manda fotos de alguém que se parece com ele, porque precisa fazer tudo na encolha, precisa ser “discreto”. A diferença entre um e outro? O primeiro leva uma porta na cara e o segundo te faz ficar com cara de porta: ‘Aí brow, a parada tem que ser no sigilo, já é? Tenho namorado…’
 
Esse universo on-line não é moleza. Ninguém tira os olhos do celular por um minuto, que seja. Tem gente que consegue ver clima de azaração até no enterro da avó. A grande maioria perdeu a originalidade, se vendeu para a pegação cibernética. Só sabem falar sobre putaria, respondem como estão em 3 palavras e o papo já faz aquela curva. Você fica ali deslocado sem saber onde encaixar um assunto interessante. Estamos chegando num patamar de frieza e superficialidade tão extrema que ficamos naquela dicotomia: temos bilhões de likes no mundo virtual e na vida real estamos sozinhos, nos contentando com um sexo fabuloso, mas vazio. 
 
Faz parte do nosso instinto marcar território, sair pegando geral, se gabar com os peguetes que tem o rosto e o corpo no lugar, mas no fundo a gente quer mesmo é ter uma história de verdade. E por que fracassamos? Porque assim que terminarmos esse texto vamos correr para o nosso celular para curtir um montão de pessoas lindas, felizes e bem-sucedidas – tudo fake.

 

Bruno de Abreu Rangel
 
Bruno Uerba

SOBRE O AUTOR

Bruno Uerba

Bruno de Abreu Rangel é um celebrado escritor carioca e tem três livros publicados. Atualmente ele reside nos EUA e é colunista da Lado A desde 2014.

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