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Amor & outras drogas – Às vezes a pessoa que a gente tem uma queda acaba nos derrubando…

Bruno Uerba 17 de Maio, 2017 11h22m

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Tem um filme de chorar super fofo com esse título “Amor & outras drogas” e, apesar da trama abordar sobre amor e medicamentos, o assunto que vou tratar está bem longe de ser algo estrelado pela queridinha Anne Hathaway. A parada aqui também faz chorar sim …, mas é trash, já vou logo avisando.
 
O roteiro é patético: uma pessoa surge na sua vida como um furacão, bagunçando tudo; lhe fazendo provar cheiros e sensações nunca antes sentidas, proporcionando noites incríveis, lhe deixando meio atordoado, perdendo o foco, a fome, o sono. E, de repente, você se pega pensando nela o tempo todo, uma paixão obsessiva que te consome e tira a sua paz de espírito. E quando a pessoa desaparece, desliga o celular, ou faz alguma mudança de planos, você sente uma abstinência similar à de um usuário de drogas. A partir de então, a sua saúde mental está nas mãos de outra pessoa.
 
Um viciado sempre acha que está no controle de tudo, que vai poder parar quando decidir, sempre acredita que insistir naquilo não lhe fará tanto mal. Na cabeça dele as pessoas é que estão falando demais, dando conselhos errados, se intrometendo onde não devem. Age por impulso o tempo todo, colocando vírgulas, onde deveria ter um ponto final,. E quando se dá conta, está completamente fragilizado, com a autoestima doente, se expondo em situações de risco física e emocionalmente. Às vezes a pessoa que a gente tem uma queda acaba nos derrubando…
 
…Pessoas que enrolam, visualizam e não respondem, que soltam um “hoje não posso” quando era para dizer “claro, vamos sim”; pessoas que vivem na ilusão de que são os gostosões do pedaço e se alimentam da vaidade de serem cortejados, de ter sempre alguém se rastejando aos seus pés quando na verdade estão tentando driblar a rejeição que provaram no passado, aquele medo escondido a sete chaves de voltar a ser o indivíduo menos interessante do universo. E, hoje, com uma pequena dose de melhora no visual ficam testando o poder de sedução só para provocar uma reação nas pessoas, vivem aprisionados na triste ilusão de que serão jovens e/ou sarados para sempre, pessoas viciadas na própria imagem.
 
… Pessoas que só aparecem na hora do “vamos ver”: a droga do sexo. Sexo é uma droga mesmo, vicia. E o maior perigo é quando acreditamos que química e amor andam de mãos dadas. Mentira! A gente insiste em ficar dando ibope para quem não merece só porque o sexo é fascinante, mas e daí? Parceiro bom de cama a gente arranja em qualquer lugar e, na maioria das vezes, não tem nenhuma relação com beleza. Do mais lindo ao mais feinho, estão todos provando uma amostra grátis da desilusão amorosa. Há, inclusive, uma galerinha que fará questão de te manter em banho-maria, se esquivando de compromissos sérios, te iludindo com palavras no pé do ouvido e, todavia, o que eles querem, de fato, é lhe ter disponível, porque são pessoas viciadas em sexo.
 
… Pessoas sufocantes, que trazem a insegurança a tiracolo, que transformam a vida do parceiro num filme de terror com direito a gritos, faca e um psicopata. Estão sempre desconfiados, monitorando cada passo, inspecionando bolsos, vigiando olhares, limitando espaços e amizades, vistoriando celulares, restringindo acessos nas redes sociais, fiscalizando sentimentos, supervisionando orgasmos e acreditando que estão no comando, que o sorriso formal na foto do Instagram é o suficiente para manter o relacionamento intacto. Esses indivíduos nunca estão preparados para o fim, não conseguem administrar a ideia de que quando alguém decide sair da nossa vida, não há nada que possamos fazer, não conseguem enxergar além porque são pessoas viciadas em atenção. 
 
Nenhum desses comportamentos tem qualquer relação com amor. Vaidade, sexo e carência são apenas algumas das drogas que invadem a nossa vida e nos arruínam de pouco em pouco. Amor não vicia, não nos faz sentir uma abstinência emocional. A gente consegue ficar em paz quando o celular da pessoa está fora de área, a gente não perde o equilíbrio quando alguém acha o outro mais bonito (rola até um certo orgulho), amor não se baseia numa overdose de cama, não tem demarcação de território, há uma liberdade que flui sem medo, sem desconfiança. Amor é quando mesmo depois de muito tempo você sente falta da pessoa e não só do corpo, é quando você fica de pernas bambas ao escutar o timbre da voz, fica feliz mesmo que não haja motivos – senão o fato de estarem juntos.
 
Bruno de Abreu Rangel
 
Bruno Uerba

SOBRE O AUTOR

Bruno Uerba

Bruno de Abreu Rangel é um celebrado escritor carioca e tem três livros publicados. Atualmente ele reside nos EUA e é colunista da Lado A desde 2014.

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