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Por que a camisinha não foi suficiente para barrar o HIV?

Redação Lado A 30 de Agosto, 2017 22h50m

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Uma pesquisa realizada pelo grupo inglês sem fins lucrativos Gay Men Fight Aids (GMFA) – em português: Homens Gays no Combate a Aids – descobriu que 65% dos homens gays e bissexuais não utilizaram camisinha na última vez que fizeram sexo anal. Ainda, 27% deles descreveram sua vida sexual como “de risco”. 
 
Segundo o site www.queerty.com, o trabalhador de uma clínica especializada em serviços para homens gays e bissexuais, David Stuart, disse que as pessoas classificam o risco de maneiras diferentes. Alguns associam risco somente ao HIV, outros já consideram todas as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) como um risco potencial. Também há quem acredite que o risco é medido pela rejeição por não ser sexy, magro ou interessante o suficiente para atrair outras pessoas. Portanto, os 27% de homens gays e bissexuais que declararam levar uma vida sexual “de risco” podem estar considerando todos esses fatores citados por David.
 
Agora, se você acha que aqui no Brasil isso não acontece, ou seja, que aqui as pessoas fazem mais sexo seguro, está enganado. Dados divulgados em 2012 pela Gentis Painel, empresa especializada em pesquisa de mercado, demonstraram que 52% dos brasileiros nunca ou raramente usavam preservativos, independente da orientação sexual. Um ano depois, em 2013, a Secretaria do Estado de Saúde de São Paulo divulgou que cerca de 42% dos jovens homossexuais do sexo masculino não faziam sempre o uso do preservativo. Além desses dados sobre o uso da camisinha, temos que os casos de HIV entre homens homossexuais subiram de 30,8% em 2007 para 50,2% em 2016. Assim, nos perguntamos: por que a camisinha não pegou?
 
Um dos maiores motivos para a população jovem deixar de usar o preservativo é a confiança no parceiro. Em entrevista a revista IstoÉ, Pedro Chequer, representante da Unaids (programa da Organização das Nações Unidas para a Aids) no Brasil relatou que “os adolescentes e jovens adultos só usam a camisinha nas primeiras relações e, assim que ganham a confiança do parceiro, abandonam. Para piorar, o conceito de parceiro fixo mudou muito. Hoje os parceiros fixos mudam a cada mês”. O conceito de parceiro fixo mudou devido a mudança na forma como os jovens se relacionam. Os aplicativos de encontro, como Tinder, Hornet e Grindr, facilitaram conhecer novas pessoas, aumentando portanto o número de parceiros.

Há ainda os que não gosta, os que não se adaptam, os que esquecem, os que não fazem questão, aqueles que acham que quebra o clima. Ainda que clichê, outro motivo é que essa geração descuidada não viveu na época da epidemia da Aids, em que muitas pessoas, incluindo vários cantores famosos, morreram devido a doença. Não temer o “mal da Aids” faz com que as pessoas se exponham mais ao risco. A jovem O.F., 23 anos, relatou a revista IstoÉ que “doença todos estamos sujeitos a pegar, de outras formas, até do marido depois de casada. Não saber quem é o pai do seu próprio filho é uma doença moral.” Se a preocupação dessa geração está relacionada a gravidez e não as ISTs, os homossexuais têm mais uma justificativa para não usar o preservativo, já que a relação sexual entre gays ou lésbicas não possui esse risco. 

 
Em conjunto a isso, o tratamento para soropositivos – pessoas que possuem o vírus HIV – se tornou muito menos complexo e agressivo, contribuindo para uma melhor qualidade de vida. “Quem tem HIV terá a doença pairando sua vida para sempre. A informação do tratamento eficaz tem que ser espalhada, é ótimo, mas ser infectado não é simples como o jovem imagina” disse ao site UOL Adele Benzaken, diretora do Departamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Assim, os jovens acreditam que viver com a doença não traz nenhum risco ou impacto em sua saúde e vida.
 
Outro fator que pode estar diminuindo o uso da camisinha entre homens gays é outra forma de prevenção. A profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) é realizada por pessoas não infectadas que ingerem todos os dias um medicamento antirretroviral para reduzir o risco de infecção pelo HIV. Segundo o site UOL, o presidente da amfAR (fundação norte-americana para pesquisa da Aids), Kevin Frost,  afirmou que esse medicamento deveria ser distribuído gratuitamente para pessoas que estão em risco e questiona que, ainda que existam efeitos colaterais, o que seria pior, os efetios colaterais ou ter o vírus? 
 
A pesquisa realizada na Inglaterra também considerou o PrEP na diminuição do uso da camisinha. “Foi com um casal que eu encontrei, um deles fez sexo comigo sem camisinha, o outro quis usar – das duas formas estava bom pra mim, pois eu estou usando PrEP” expôs um dos entrevistados. Ele também disse que não teria problemas transando com alguém soropositivo. “Contanto que a carga viral esteja indetectável, não há risco. Eu estou tomando PrEP, então as chances de pegar (HIV) são reduzidas significativamente.”
 
Como já falamos aqui na revista Lado A, a carga viral indetectável do HIV não dispensa o uso de meios preventivos, como a camisinha ou o PrEP. Quanto ao PrEP, você também já viu aqui na Lado A que nos EUA esse tratamento custa em média mil dólares por mês, enquanto que no Brasil é oferecido gratuitamente à população de risco de Curitiba por conta de uma pesquisa. Por fim, é bom lembrar que apesar de existirem outras formas de prevenção, o preservativo continua sendo a mais segura, protegendo contra todas as ISTs. USE CAMISINHA!
 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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