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Crianças viadas: por que a sociedade tem tanto medo do fim dos rótulos de gênero?

Redação Lado A 11 de Setembro, 2017 02h31m

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Desde que o termo criança viada entrou no vocabulário popular, depois do sucesso do tumblr (http://criancaviada.tumblr.com/ ) criado pelo jornalista Iran Giusti em 2012, se tornou comum usar a expressão para descrever crianças que apresentam comportamentos que não se encaixam nos papéis tradicionais de sexualidade e gênero. Hoje descontinuado, as fotos do site eram todas enviadas pelos próprios visitantes que, ao crescer, se descobriram gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e héteros. Sim, hetéros!
 
Pediatras já confirmaram que é normal as crianças terem curiosidade, tanto sobre seu genêro, quanto também ao genêro oposto, e isso não quer dizer que ao crescer elas se tornarão necessariamente homossexuais. Até os cinco anos, as crianças brincam com tudo que lhe despertem interesse, só após essa idade, influenciadas pela sociedade , passam a distinguir as brincadeiras de meninos das de meninas. Os especialistas afirmam que é benéfico, as crianças transitarem entre as brincadeiras dos dois genêros, tendo uma maior variedade  de brinquedos, e maior facilidade para se relacionar com ambos os sexos.
 
O maior problema está mesmo nos esteréotipos de genêro impostos pela sociedade. Um menino afeminado ou uma menina masculinizada, estão muito mais propensos a sofrerem bullying por parte dos colegas, por não se encaixarem nos padrões. Mas quem ensinou-lhes que menino tem que gostar de azul e menina de rosa? Provavelmente repetem o que ouvem em casa, da família, repassando esteréotipos para que gerações futuras continuem perpetuando a desigualdade de genêro, sem falar no sofrimento que esses padrões podem causar nos que são diferentes. 
 
Segundo psicólogos, não é raro, pais chegarem em seus consultórios, com dúvidas sobre, ou querendo mudar o seu filho afeminado.  Mas porque essas crianças são assim? Segundo os especialistas, a família, a escola e fatores ambientais podem influenciar  no comportamento da criança, mas as principais razões são as biólogicas, e essas são imutáveis. Podemos entender que muitas vezes não há entendimento dos pais, que só querem o melhor para os filhos, mas também temos que lembrar, que vivemos numa era em que ao mesmo tempo que estamos abrindo a mente para idéias mais fluídas de genêro e sexualidade, outras pessoas pregam um discurso totalmente contrário, como o deputado Jair Bolsonaro que afirmou que “filho gay é falta de porrada”. Então é preciso que haja aceitação e acolhimento por parte dos familiares, e que não tentem repreender seus filhos, pois isso sim poderá trazer a eles problemas.  
 
Muitas pessoas se posicionam contra a adoção de crianças por casais gays, porque acham que a sexualidade dos pais vai influenciar os filhos a serem homossexuais também, o que já foi comprovado que é mito; essas crianças só crescem com menos preconceitos, e saudáveis como qualquer outra, e isso não muda a sexualidade que elas terão no futuro, porque a sexualidade, mais que o comportamento, é totalmente  biológica, e não causada por fatores externos. Se fosse assim, como se explicaria o fato da absoluta maioria dos homossexuais terem sido criados por pais hetéros, quem os influenciou a serem diferentes?
 
Boa parte destas questões se resolveriam se trátassemos o problema maior: o machismo. O machismo foi só uma forma inventada por alguns homens para impôr poder sobre as mulheres, e é considerada uma afronta, se o homem não cumprir ou quiser trocar seu papel de dominar, e a mulher o seu de se submeter. Segundo a ideologia machista, nas brincadeiras infantis, os homens nunca cuidarão de filhos e de casa, nem vão poder expressar com clareza seus sentimentos; e as mulheres nunca irão dirigir ou fazer atividades que envolvam mais ação, nem vão ser livres pra fazer tudo o que querem, valores que estão longe de ser realidade. 
 
O machismo é tão grande que chega a atingir os próprios LGBTs também, quando gays afeminados são mais vítimas de preconceito do que os ‘viris’, até pelos próprios gays, pois não estão cumprindo seu ‘papel’; e no caso de homens gays e transexuais serem mais vítimas de violência do que mulheres lésbicas, porque segundo dizem os machistas, ‘o relacionamento entre duas mulheres é mais aceitável do que o de dois homens’, mas desde que nenhuma seja masculina, porque estas também não estão cumprindo seu ‘papel’.
 
A solução é ensinar as crianças desde cedo a serem livres para ser quem quiserem ser, sem ter que se conformar com padrões impostos. Só assim caminharemos para um mundo mais aberto e livre de desigualdade e preconceitos. A foto acima é do pequeno George, herdeiro do trono do Reino Unido que foi alvo de bullying por conta da pose não viril desta foto.

 

 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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