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Lésbica ex-neonazista é mais uma prova de que o ódio vem do amor enrustido

Redação Lado A 01 de Setembro, 2017 04h38m

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Angela King lembra como era sua vida quando tinha 23 anos: Em 1998, no Sul da Flórida, nos EUA, ela e seus amigos andavam com botas militares e suspensórios coloridos, e na sua pele havia várias tatuagens de iconografia racista. Eles odiavam gays, negros e judeus e qualquer coisa era motivo para briga. Após espancarem um homem num bar, assaltam uma loja de videos pornôs (o grupo dizia que a pornografia não era benéfica para a raça branca). Logo após, passa a ser procurada pela polícia e foge com seu então namorado, também procurado, para Chicago. No entanto, semanas depois, ela é presa e levada para uma prisão em Miami. É aí que a história começa a mudar de figura.
 
King, a mais velha de três irmãos, estudou numa escola batista privada e foi criada por uma família bastante conservadora. Desde muito cedo, ela se sentia diferente por ter atração por pessoas do mesmo sexo, mas se via obrigada a esconder, por sua mãe dizer: “eu nunca vou parar de te amar… desde que você nunca traga um negro ou uma mulher para casa”. Aos 10 anos, começou a ir para a escola pública onde sofria bullyng dos colegas por estar acima do peso. Um dia, uma menina a humilhou na frente de toda a turma. Aí foi quando ela explodiu com a raiva que segurava e revidou. Ao fazer isso, percebeu que a violência lhe dava um senso de controle que ela nunca tinha sentido antes. 
 
Após o divórcio dos pais, Angela e sua irmã ficaram com a mãe, enquanto seu irmão foi morar com o pai. Para se sentir parte de algo, ela se juntou à um grupo de adolescentes que à aceitavam sem questionar. Eles ouviam punk rock e começavam à flertar com o neonazismo, colando panfletos racistas na vizinhança. Inicialmente, Os seus pais não se opuseram às suas crenças, mas após criar muito problema, ela foi expulsa de casa pela sua mãe e passou a dormir em carros e sofás de amigos. Também expulsa da escola, não restou outra alternativa à não ser trabalhar em um restaurante durante o dia, e criar confusão com seus amigos à noite.
 
King foi sentenciada em 1999 a cinco anos de prisão, após o assalto à loja de videos pornô. Um dia à fumar, uma mulher negra, jamaicana, a chamou para jogar cartas. No começo elas não se deram bem, mas foram vendo que tinham experiências parecidas, e que os sentimentos que tinham uma pela outra eram mais do que amizade. Era o primeiro relacionamento gay de ambas. Mas após a namorada de King ser transferida para outra prisão, o relacionamento não durou muito mais tempo.
 
Quando Angela foi solta em 2001, estava determinada a não cair nos mesmos erros novamente. Ela começou à usar ferramentas de bate-papo online para conhecer outros LGBTs, onde foi acolhida mesmo informando sobre seu passado. Foi estudar Sociologia e Psicologia numa faculdade comunitária; queria entender se sua experiência com o extremismo era comum. Em 2004, fez contato com o Centro do Holocausto, onde ela dá palestras pela organização desde então.
 
Em 2011, King  foi a uma conferência internacional onde encontrou outros ex-extremistas. Ela conheceu americanos que fundaram um blog chamado Life After Hate (“vida depois do ódio”) para compartilhar experiências. Juntos, eles criaram uma ONG para ajudar pessoas à deixar comunidades de extrema-direita, onde cerca de 60 ex-extremistas se apoiam mutuamente.Recentemente, a ONG teve corte de financiamento na administração de Donald Trump, mas que doações de todo o mundo tem compensado a perda.
 
Angela diz que não é uma mudança fácil;  tudo tem que ser mudado, desde idéias à visual e que pode até haver reações violentas contra os que tentam se afastar.Ela também diz que ataques de violência recentes, como o de Charlottesville, na Virginia a preocupam, e trazem à tona culpa e vergonha, mas que ela nunca teria começado esse trabalho se não tivesse vivido todas aquelas experiências no passado. 
 
Hoje, King diz que seus pais aceitam melhor o fato de ela ser gay, e que está removendo suas tatuagens antigas com laser, e cobrindo velhos símbolos racistas com novas imagens. Uma frase que agora cobre seu pulso diz: “O amor é a única solução”.
 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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