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Gays não deixaram de ser perseguidos com o fim do holocausto diz autor

Redação Lado A 09 de Outubro, 2017 22h39m

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“A libertação chegou para os outros, mas não para os gays. Eles ainda se mantiveram em silêncio por anos, porque não podiam admitir que eram homossexuais e só fizeram isso quando eram mais velhos e não tinham nada a perder” relata Ken Setterington, para o site G1. Ken é autor do livro Marcados pelo Triângulo Rosa, recém-lançado no Brasil pela editora Melhoramentos.
 
“Os nazistas queriam expurgar o país da homossexualidade. Gays eram vistos como um atraso, porque não reproduziam e, se fizessem isso, acreditava-se que podiam gerar bebês gays. Isso não condizia com o ideal ariano” acrescentou o autor. O título do livro faz referência a forma como os gays eram identificados nos campos de concentração nazistas. Seus uniformes listrados eram acrescidos de um triângulo rosa na região do peito.
 
Setterington disse ainda ter escrito o livro porque essa é uma parte da história gay que está se perdendo. Ele, que trabalha em uma biblioteca pública em Toronto, Canadá e é gay, percebeu que poucos jovens sabiam o significado do triângulo rosa.  Desde 1871, a legislação alemã criminalizava atos homossexuais, mas eram raros os casos em que a punição era aplicada. Quando Adolf Hitler assumiu o comando do país, em 1935, o texto passou a vetar qualquer tipo de ato lascivo entre pessoas do mesmo sexo e a pena seriam dez anos de trabalho forçado. Berlim, que era uma cidade onde gays e lésbicas podiam viver em relativa liberdade passou por uma transformação radical, com o fechamento de bares e boates frequentados por esse público e a perseguição a homens homossexuais.
 
O auge dos aprisionamentos foi entre 1937 e 1939. Nos campos de concentração cabiam aos gays os piores trabalhos. Eles também eram mantidos em barracões separados e discriminados pelos outros prisioneiros. Para alguns, existia a possibilidade de conseguir trabalhos mais leves ou comida extra em troca de favores sexuais, mas não havia garantia nenhuma, já que um prisioneiro poderia ser facilmente trocado por outro mais jovem ou mais atrante.
 
A única chance de liberdade aos alemães gays era a castração. Se eles aceitassem passar pelo procedimento, eram encaminhados ao front, a linha de frente do exército alemão, ou seja, à morte. Diferente tratamento recebiam os gays dos países invadidos. Não havia prisão para esses, uma vez que os nazistas acreditavam que mantendo os gays em seus países estariam ajudando a destruir a sociedade por dentro.
 
Com o fim da guerra, o sofrimento desses prisioneiros continuou. Segundo a lei alemã, os gays haviam cometido um crime e deveriam pagar por isso. Aos que ainda não tivessem cumprido toda sua pena, cabia-lhes a cadeia.
Este ano, o Estado alemão perdoou dezenas de milhares de homens gays que tiveram a sua sexualidade considerada um crime. Infelizmente esse perdão ocorreu, em sua maioria, de forma póstuma, com muito atraso. Apenas cinco mil dos aproximadamente 42 mil presos que tiveram suas condenações anuladas estão vivos.
 
“Hoje, a tolerância é maior, mas a Alemanha nazista prova que as coisas podem mudar da noite para o dia, como o presidente dos Estados Unidos [Donald Trump] acaba de fazer ao vetar novamente transexuais nas Forças Armadas” opinou Seterrington. “O ódio e o medo do diferente persistem. Temos de estar sempre vigilantes” finalizou o autor.
 
A Alemanhã não devia perdoar esses homens gays, mas sim pedir perdão a eles por tamanha tortura a que foram submetidos em nome do Estado! Todos nós já vimos, mesmo que minimamente, em algum lugar sobre a condição em que os judeus eram tratados nos campos de concentração. Agora imaginem que os gays eram tratados ainda pior! Lamentavelmente a perseguição aos homossexuais não parou com o fim da guerra, já que o Estado alemão só eliminou por completo a criminalização de atos homossexuais em 1994.
 
Se você se interessou pelo tema, assista ao filme Bent, de 1997, com o ator Clive Owen, em que ele está preso no campo de concentração, porém está no “armário”, isto é, não é identificado pelo triângulo rosa, mas sim pela estrela amarela, que simboliza que ele é um judeu. O clímax da história acontece quando ele apaixona-se por outro prisioneiro que utiliza o triângulo rosa em seu uniforme com o maior orgulho!

 

 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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