Edital da PM-PR causa polêmica ao exigir “masculinidade” dos candidatos

Redação Lado A 13 de Agosto, 2018 11h26m

O novo edital para concorrer a uma vaga na corporação da Polícia Militar do Paraná (PM-PR) causou polêmica. Entre os diversos requisitos para a investidura no cargo, o Edital nº 01 Cadete PMPR 2019 exige no Anexo II que os candidatos tenham “masculinidade”. O requisito gerou polêmica entre entidades sociais do Paraná que repudiam a exigência que configura machismo e heteronormatividade.

O edital publicado no dia 11 de agosto ainda pede que os candidatos “não se emocionem facilmente”. Consequentemente, os interessados devem ter um “grau de amabilidade baixo”. O documento também exige que o inscrito “não se emocione facilmente” e “não demonstre interesse em histórias românticas e de amor”. Diante dessas afirmações, a Aliança Nacional LGBTI e o Grupo Dignidade publicaram uma nota. Para as entidades, o edital é claramente machista e sexista.

As entidades de defesa dos direitos LGBTI estão tentando chamar a atenção para o edital. Por isso, a nota publicada faz um apelo à governadora do Paraná, Cida Borghetti (PP), à Comandante-Geral da PM, Coronel Audilene Rosa de Paula Dias Rocha e ao Ministério Público. Contudo, até o momento, nenhuma instituição se manifestou sobre o assunto. O pedido do Grupo Dignidade e Aliança Nacional LGBT é que o edital seja revogado e substituído por outro. O novo documento deve atentar para que não reforce as atuais injustiças e discriminações da sociedade.

“Entendemos que a exigência, entre diversos equívocos, desconsidera a possibilidade de mulheres candidatas a cadete, ou quer que elas também tenham características de “masculinidade”, e que, portanto, é um retrocesso discriminatório e permeado por machismo, chauvinismo, patriarcalismo, sexismo, binarismo de gênero, heteronormatividade”, diz a nota.

Anexo II

O Anexo II do Edital da PM do Paraná não apenas se limita à exigência de masculinidade. Mensurados entre baixo, médio e alto grau, algumas recomendações para os cargos afastam o profissional da noção de humanidade e empatia.

De acordo com o edital, o nível de amabilidade deve ser baixo. Isso significa que o indivíduo deve ter pouca capacidade de “expressar-se com atenção, compreensão e empatia às demais pessoas, buscando ser agradável, observando as opiniões alheias, agindo com educação e importando-se com suas necessidades”.

A ponderação, isto é, cuidado ao se expressar referindo-se ao outro, também é diminuída. De acordo com o edital o cuidado com a forma de se referir ao próximo na hora de argumentar ou defender seus interesses, deve ser baixo. De acordo como o documento, o candidato deve apresentar um bom nível de autoridade, sem capacidade de ponderações ou negociações.

A pouca ponderação está vinculada à outra exigência: capacidade de aceitar novas ideias. Segundo o edital, o indivíduo não deve se inclinar às artes, filosofias, estilos musicais e manifestações culturais. No item “Liberalismo”, o anexo dois também exige que o candidato tenha baixa capacidade de “abertura para novos valores morais e sociais”.

Para o psicólogo Ronaldo Sérgio da Silveira Filho, o edital é extremamente machista e heteronormativo. Além disso, “suas exigências apresentam pelo menos 4 de 10 características para identificar um sociopata”. Esses itens afastam o indivíduo dos sentimentos como empatia e gratidão. Além disso, geram uma personalidade rígida e autoritária, com poucas noções de solidariedade.

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