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A história real por trás de Orações Para Bobby

Redação Lado A 15 de Outubro, 2012 20h41m

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O filme Orações Para Bobby narra a história real de Mary Griffith, vivida por Sigourney Weaver. A mãe presbiteriana que se arrepende de tentar curar o filho homossexual que se mata depois de não aguentar tamanha pressão. O filme estreou na TV americana em 2009, na noite anterior ao Oscar e mudou paradigmas. A história se passou nos anos 80 em Walnut Creek, Califórnia, próximo a São Francisco. Em 27 de agosto de 1983, Bobby Griffith tirou sua vida ao pular de um viaduto sobre uma autoestrada, aos 20 anos, em Portland, Oregon para onde se mudou. O filme e o livro são bem fiéis a história real. Bobby é retratado moreno no filme mas era loiro na vida real. Ele também tinha um corpo mais atlético.
 
Por quase quatro anos ele sofreu pressão de sua família para deixar sua homossexualidade. Sua mãe, religiosa fervorosa, não admitia a homossexualidade do filho, ao qual denominava de doença, ou aberração, e contra qual usava a Bíblia para respaldar seus preconceitos. 
 
Os questionamentos de Bobby a Deus, suas frases de auto rejeição baseados nos ensinamentos que recebeu, deixados em um diário, apontam claramente como a sua religiosidade em uma igreja que o condenava ao inferno e a  falta de apoio da família foram cruciais em sua decisão de acabar com a própria vida. Mais uma história que ainda hoje se repete. Estima-se que 3 mil jovens gays se matam por falta de auto aceitação nos EUA, anualmente.
 
Em entrevista recente, a mãe de Bobby, Mary Griffith, afirmou que o irmão só contou que Bobby era gay depois que ele tentou se matar e que ele já sabia do fato há mais de 2 anos. Ela contou ainda que só percebeu que o filho não escolheu ser gay quando ele morreu e depois de se informar, algo que lamenta não ter feito antes. Para os pais, ela dá um recado: “Eu falei com muitos pais nesses anos. E eu acho que eu só poderia dizer a eles para que ouçam seus filhos e não tentem fazer prevalecer suas opiniões sobre as deles”. A história virou o livro “Prayers for Bobby: A Mother’s Coming to Terms with the Suicide of Her Gay Son”, em 1995, com diversas passagens do diário de Bobby. O filme foi lançado em DVD, nos EUA, em 2010 e recebeu diversos prêmios.
 
Os pais de Bobby ainda vivem em Walnut Creek. Mary ainda participa eventualmente da PFLAG – Pais, Família e Amigos de Lésbicas e Gays, associação que aparece no filme. Abaixo, leia o depoimento feito por Mary Griffith em uma reunião do conselho o condado sobre a celebração de um dia para a liberdade gay, 8 meses após a morte de seu filho, em que ela defende a comunidade gay pela primeira vez. A passagem foi transformada em um dos momentos mais comoventes do filme:
  
“Homossexualidade é um pecado. Homossexuais estão condenados a passar a eternidade no inferno. Se quisessem mudar, poderiam ser curados de seus hábitos malignos. Se desviassem da tentação, poderiam ser normais de novo. Se eles ao menos tentassem e tentassem de novo em caso de falha. Isso foi o que eu disse ao meu filho, Bobby, quando descobri que ele era gay.
 
Quando ele me disse que era homossexual, meu mundo caiu. Eu fiz tudo que pude para curá-lo de sua doença. Há oito meses, meu filho pulou de uma ponte e se matou. Eu me arrependo amargamente de minha falta de conhecimento sobre gays e lésbicas. Percebo que tudo o que me ensinaram e disseram era odioso e desumano. Se eu tivesse investigado além do que me disseram, se eu tivesse simplesmente ouvido meu filho quando ele abriu o coração para mim… eu não estaria aqui hoje, com vocês, plenamente arrependida.
 
Eu acredito que Deus foi presenteado com o espírito gentil e amável do Bobby. Perante deus, gentileza e amor é tudo. Eu não sabia que, cada vez que eu repetia condenação eterna aos gays… cada vez que eu me referia ao Bobby como doente e pervertido e perigoso às nossas crianças… sua auto-estima e seu valor próprio estavam sendo destruídos. E finalmente seu espírito se quebrou alem de qualquer conserto. Não era desejo de Deus que o Bobby debruçasse sobre o corrimão de um viaduto e pulasse diretamente no caminho de um caminhão de dezoito rodas que o matou instantaneamente. A morte do Bobby foi resultado direto da ignorância e do medo de seus pais quanto à palavra “gay”.
 
Ele queria ser escritor. Suas esperanças e seus sonhos não deveriam ser tomados dele, mas se foram. Há crianças como Bobby presentes nas suas reuniões. Sem que vocês saibam, elas estarão ouvindo enquanto vocês ecoam ‘amém’. E isso logo silenciará as preces delas. Suas preces para Deus por entendimento e aceitação e pelo amor de vocês. Mas o seu ódio e medo e ignorância da palavra ‘gay’ silenciarão essas preces. Então… Antes de ecoar ‘Amém’ na sua casa e no lugar de adoração, pensem. Pensem e lembrem-se. Uma criança está ouvindo.” (Mary Griffith)
 
Se quiser assistir o filme, tem no Youtube:  https://www.youtube.com/watch?v=PlgnZVD9VdM

 

 
 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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