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Crítica: Milk – A voz da Igualdade

Redação Lado A 02 de Março, 2009 03h11m

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O filme Milk não é apenas a voz, Milk é a imagem da igualdade, mesmo que ela morra assassinada no final

Nos primeiros 10 minutos de filme, dois beijos gays. A trajetória política de Harvey Milk impressiona por sua insistência e o movimento gay é colocado como pouco organizado mas que deu certo (Para os héteros sim, para os gays falta muito…). A vida amorosa de Milk é colocada em paralelo com sua trajetória, no fim é um filme político com toques de romance. O galã estonteante James Franco no papel do namorado de Milk chama a atenção e é trocado por um latino problemático. Harvey troca o seu amor pelo poder. Ele deu até a sua vida, mas foi pela causa ou pelo poder? O filme não diz. É uma biografia? sim. Politicamente correta? Sim. Um bom filme? Depende do seu gosto. Talvez ficasse mais plausível de acreditar se fosse um documentário, mas a licença concedida a um filme de Hollywood afasta o comprometimento com a verdade, então fica aquela dúvida do “qual parte foi totalmente real?”. Mas é um excelente filme para fazer pensar, como todo filme de Gus Van Sant.


Atual, se compararmos a luta dos gays norte-americanos da década de 70 contra a proposta 6, que buscava dar direito aos empregadores de demitir seus funcionários que fossem homossexuais ou aqueles que apoiassem tais práticas sexuais, com a proposta 8, que foi aprovada no ano passado, que instituiu o casamento como uma união entre homens e mulheres. Gays mortos, violência policial, invisibilidade política, preconceito nas famílias, suicídios, religiões que nos chamam de doentes, tudo isso é dolorosamente atual.


O filme peca ao retratar a história de São Francisco e o movimento gay como dependentes de Milk, sendo que desde a década de 60 a cidade era um oásis gay e já havia acontecido a Revolta de Stonewall em 1969, em Nova York, que Milk provavelmente viveu, se não estava fumando maconha por aí. Quem fundou o Castro, bairro gay de São Francisco, foram os militares gays depois da Segunda Grande Guerra, muitos expulsos das forças armadas que ficaram por ali por vergonha ou falta de dinheiro. Milk foi importante, mas não tanto. Seu estrelismo e oportunismo são sutis no filme que poupa a Coca-Cola no julgamento do assassino Dan White que alegou estar sob efeito do açúcar contido na bebida. Depois houve uma revolta na cidade depois do julgamento, que o filme também não mostra.


A tradução peca, às vezes falha ou extrapola o significado literal, mas a atuação de Sean Penn, vencedor do Oscar 2009 de melhor ator, não deixa dúvidas de que o filme merece ser visto. Ver o machão de “Sobre meninos e lobos” em cena como gay é um choque, e o ator consegue dar simpatia ao político. Milk precisava de um empurrão de carisma, pois ele era um gay renegado por boa parte da comunidade em sua época. Era preciso criar uma nova imagem ao líder que tentou por três vezes e morreu no cargo de supervisor de São Francisco. Milk era feio, bocudo, mas tinha um ideal. A história já reserva um lugar para Harvey Milk como o primeiro homossexual eleito a um cargo público nos EUA, o filme apenas cria uma áurea heróica.


Milk – A Voz da Igualdade é um programa ideal para as pessoas que gostam de política, que gostam de humor ácido e não têm problemas em encarar a verdade. O filme pode ser agressivo demais a quem não consegue ver dois homens se beijando, a quem tem preconceitos contra homossexuais, a quem não acredita em direitos iguais. O filme Milk não é apenas a voz, Milk é a imagem da igualdade, mesmo que ela morra assassinada no final.

Redação Lado A

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Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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