Racismo e proteção do anunciante no BBB 12: a culpa é do energético

E mais uma vez a corda estoura do lado mais fraco. Não nos façamos de rogados. O modelo negro Daniel do BBB 12 seria eliminado nas primeiras semanas do programa, assim como a maioria dos participantes negros do Big Brother Brasil. Outra: ali não há inocentes e a produção do programa tem total controle sobre cada segundo do show, e poderia ter interferido quando a moça “apagou”, ou ter evitado o suposto “estupro” com uma frase no auto falante, como acontece quando alguém manipula um dos microfones errado. A expulsão de Daniel é mais uma face do racismo. Massacre público pois negros são acusados de serem violentos, estupradores, tudo em nome da ojeriza da miscigenação da sociedade. Ao rapaz não foi dado o direito de defesa e nem se comprovou o delito. Por via das dúvidas, é culpado, assim como todo negro que toma batida policial ou é vigiado de mais perto nesse país, pois é suspeito por causa da sua cor. Agora, ninguém comenta o causador de toda essa confusão: a mistura de bebidas alcoólicas e energético.

Todo o furdunço ocorreu aconteceu após a festa Fusion, novo energético da AmBev, que patrocina o programa por meio do Guaraná Antártica. Nos EUA, bebidas que misturam energéticos e álcool na mesma lata estão proibidas, depois de uma série de incidentes envolvendo menores de idade (Nos EUA, apenas maiores de 21 anos podem consumir álcool). Nas casas noturnas, não há venda de energéticos associados às bebidas. No Brasil, os energéticos são vendidos em combos nos postos de gasolina e casas noturnas, ao lado de garrafas de vodca ou whisky. Por lá, essas bebidas são ligadas aos esportes e não a coquetéis, apesar de muita gente misturar também.

A mistura não é indicada por oferecer um estimulante potente com um vaso depressor, com alto poder diurético, além do gosto do energético disfarçar a quantidade de álcool ingerida, que não é percebida. Ainda, quando os energéticos atuam sobre os neurotransmissores, mascaram o real nível de intoxicação e dando uma falsa impressão de não embriaguez que pode levar o indivíduo a beber até apagar. O energético aumenta o consumo de bebidas alcoólicas, por isso a bebida se tornou tão popular nos últimos anos. Pelo interesse comercial e apelo jovem.

Em matéria publicada pela BBC, uma pesquisa da Universidade Wake Florest, da Carolina do Norte, nos EUA, feita com 4 mil estudantes, chegou a conclusão que quem bebe a mistura de energético mais álcool tem maior possibilidade de se machucar, precisar de ajuda médica ou ter problemas na cama. Sexualmente falando, quem bebeu a mistura de destilado com energético teve o dobro de chance se ser abusado ou cometer abuso!

Para a Dra. Mary Claire O´Brien, que coordenou a pesquisa, os riscos são sérios e potencialmente letais. A maior preocupação foi que os jovens ingeriram 36% mais álcool do que os que não beberam as misturas e que os jovens não admitiram que estavam bêbados pois achavam que haviam bebido pouco ou não se sentiam assim. O resultado são erros de julgamento que resultam em motoristas alcoolizados, abusos sexuais, abuso de drogas e falta de uso do preservativo. “Eles não podem dizer se estão bêbados, eles não podem dizer se os outros estão bêbados. Então eles se machucam, e machucam os outros”, afirma a pesquisadora que apóia como redução de danos que os jovens sejam informados dos riscos da mistura.

Fica claro que a saída do participante Daniel do BBB 12 não tem nada a ver com a defesa da honra da gaúcha Monique, ou regras do programa. O que Daniel fez foi colocar em risco a imagem de um dos anunciantes, isso sim uma das regras sagradas do programa, que é altamente comercial e bem costurado em acordos e contratos milionários. Antes que Daniel ou alguém dissesse que a culpa era do álcool, ou da mistura do energético, o rapaz foi sacrificado. Assim, o produto chega às prateleiras dos supermercados e às casas noturnas imaculado, causando estragos e dando muitos lucros, bem longe da opinião pública.

A marca ninguém mais esquece e tem ainda aqueles que vão comprar só para se aproveitar da possibilidade de alguma “mina” apagar por causa da mistura.