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Religião e intolerância – mensagem aos evangélicos

Redação Lado A 01 de Dezembro, 2009 17h09m

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O cara religioso não concebe que uma outra pessoa não acredite em um Deus. Há até discordância quando uma pessoa é de uma religião diferente. Mas o ateu é pior do que o próprio demônio. Discutir com pessoas que colocam a ideologia religiosa como premissa em suas vidas é inútil. Eles não admitem a ciência, a sociologia, as leis humanas. Para eles, Deus está acima de tudo, e a lei é regida pela Bíblia.
 
Temos gloriosos e lindos livros dos cristãos. Principalmente o Novo Testamento que é uma obra literária maravilhosa mas está longe de ser de obra divina assim como outros livros sagrados. Os fiéis acreditam que a obra foi escrita por pessoas inspiradas por Deus. Inspiradas até pode ser, mas escritas por Deus, jamais. A não ser que o Deus seja racista, machista, homofóbico pois é isso que a Bíblia traz. Guerra, morte, vingança e ódio. O velho Testamento, sobretudo, é um livro que retrata a história de um povo e é mais rude. Um livro lindo, mas de nada divino.
 
Então, pega-se uma obra literária de 2 mil anos e a coloca sobre um pedestal. Por ela foram travadas guerras santas, matanças, perseguições. Mas o livro continua “sagrado” e muitos os seguem ao pé da letra, outros só quando os convém. O exemplo de Cristo é fantástico, um homem que morre por sua fé. Cria-se um mártir, um exemplo a ser seguido. Só que ninguém age como Ele, quando foi que você viu alguém indo aos templos dizer que eles estavam explorando a fé? Bem, era isso que Jesus fazia. Todos se dizem portadores da verdade, pregam, cruxificam os outros, mas ninguém ama como ele amou ou perdoa como ele perdoou. As Igrejas de hoje usam cristo de refém, ele é evocado nas mais diferentes discussões. A Bíblia diz isso, Deus quis assim.
 
E chegamos ao campo dos direitos individuais em um país de maioria cristã, bem longe de onde a Bíblia foi escrita. Democracia não significa o direito da maioria e sim os direitos das minorias serem respeitados, direitos iguais, a todos. O direito ao casamento gay, por exemplo, não diminui e nem retira o direito do casamento de quem não é homossexual. Se a homossexualidade é pecado, está na Bíblia, cortar a barba e comer carne de porco também está. Gostaria de lembrar aos novos e velhos cristãos que o Talibã está aí para nos mostrar o que sociedades regidas por escrituras ditas sagradas podem criar. E que a maioria do mundo não é cristã, apenas um terço. Mesmo sendo a maior religião do mundo, precisamos lembrar que o cristianismo não é a mais antiga das religiões, tão pouco a primeira a construir uma liturgia ou dizer que tem ligação divina.
 
A religião serve para cuidar da alma, do espírito. A separação de estado e religião é algo que já ocorreu no Ocidente há poucos séculos. A religião é algo importante para a maioria das pessoas, mas há aquelas que não precisam que lhes seja ditada uma verdade, que não precisam de um livro para seguir, que não sentem a necessidade de salvação. Há pessoas que não acreditam em Deus e eles estão no direito delas. Há pessoas que adoram o demônio e se elas não cometerem um crime, por mais estranho que seja o que eles fazem, eles tem o direito de fazer. A liberdade religiosa faz parte desta diversidade religiosa. Os cristãos não entendem isso, não entendem como Cristo entendeu e não suportam argumentos contrários, não dão a outra face, não possuem fé suficiente. Precisam dizer que o Deus deles criou o mundo, que o Deus deles é o único que salva. Eles precisam acreditar de maneira autodestrutiva, pois sua fé é fraca. Se para sentirem paz de espírito eles precisam destruir o que não lhes é compreensível, lamento, mas jamais atingirão o equilíbrio espiritual que deveriam buscar. Não aceitar a discordância é algo muito preocupante. Pois não basta a sua fé, você precisa contaminar o outro, todo o mundo precisa pensar e agir como você. Isso não é amor, isso é um vírus, é uma ferramenta de dominação.
 
Recebemos no site vários comentários contrários à lei 122/2006, que deseja criar uma lei para punir quem discrimina homossexuais, idosos e deficientes. A lei foi modificada para incluir os dois últimos grupos. Em si, é a lei que criminaliza a homofobia. Ou seja, quem chamar gays de doentes, inferiores, pecadores ou algo que não o agrade, discriminar ou praticar violência responderia a um processo criminal. Uma lei semelhante foi criada aos negros. Em todos os comentários contrários, foi argumentado que a Bíblia dizia tal coisa… Respeito as opiniões contrárias, mas não admito que a Bíblia seja utilizada como argumento contra a Democracia. A Constituição Federal é a nossa lei e ela diz claramente que todos são iguais em direitos e deveres. Precisamos respeitar ateus, gays, evangélicos, ladrões, católicos, todos de maneira igual.
 
Fui criado em escola católica, li a Bíblia alguns pares de vezes, assim como diversos outros livros. Deus é amor, é aceitação, é inclusão. Jamais o contrário. Nenhum padre ou pastor pode saber mais de Deus do que você mesmo. Você e Deus tem uma relação única, onde jamais haverá traição ou necessidade de que alguém haja como intermediário. Deus vive, Jesus vive e ele quer que todos sejamos felizes. Se alguém busca a felicidade, no caso com uma lei contra ao preconceito ou casamento gay, essa lei Deus apóia, pois ele quer ver seus filhos felizes. Todos são seus filhos e ninguém merece mais o seu amor do que o outro. A relação de cada pecador, aí TODOS somos pecadores, é individual com sua consciência, com Deus. Não sei de onde foi retirada a frase “amar o pecador, odiar o pecado”, mas não está na Bíblia. Mas lá está claramente: apenas Deus pode julgar.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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