Existem dois programas típicos da família brasileira que eu costumava frequentar. O primeiro, ir assistir aos jogos de futebol. O outro, é ir à igreja. Com o tempo, abandonei esses hábitos que eram, muitas vezes, compromissos sociais. Agora, é divertido imaginar o mundo às avessas. Ir ver homens suados, correndo atrás de uma bola, não me parece um exemplo de heterossexualidade. E o que dizer de ir rezar, ver o padre ou arcebispo, usando longas roupas esvoaçantes e vermelhas. Pior quando descubro que ele não faz sexo.
Não estou querendo desmoralizar a cultura hétero não. Apenas gostaria de questioná-la. Respeito tanto que neste final de semana fui ao batizado do filho de uma prima. Estava toda a família reunida como nos velhos tempos. Não pude deixar de reparar em como a Igreja católica está com o discurso cada vez mais evangélico. Cheguei a ouvir um padre dizer que apenas a igreja de São Pedro é de Deus, embasado na bíblia, dizia. Além de outras esquisitices. Felizmente, o padre não falou mal dos homossexuais. Seu discurso de amor até me fez sentir saudades e esquecer o que eu realmente penso das religiões.
Não vou dizer aqui o que penso das religiões. Mas sou totalmente a favor se é o que queres saber. Dou-me o direito de escolher, de não me envolver com religiões. Não necessito desse intermédio para ser feliz, para ter pensamentos leves. Algumas pessoas precisam. Acabei por dando explicações demais. Voltando ao título – o direito de escolher, me lembrei nessa visita à igreja de um dia inesquecível para mim. O dia em que quis negar a minha fé católica.
Fui batizado como o filho de minha prima, que não optou em ser batizado. Fui assistir a toda aquela liturgia que custou quase um salário mínimo. Lembrei-me que após a eleição do Cardeal Ratzinger liguei à Cúria Romana (espécie de embaixada do Vaticano) e pedi a minha apostasia, a negação do meu batismo, a negação da minha fé católica. Por um simples fato. O novo Papa acha que gays são doentes e incapazes, eu discordo. Conversei com um padre tão simpático que percebi que dentro da igreja continuava a haver pessoas de bem, assim como fora dela, assim como no PT (hahahaha). Mesmo assim, insisti em saber qual o processo para eu receber uma certidão negativa de batismo, já que eu tenho a certidão positiva.
Pasmei. Não tem retorno. Eu poderia negar ao meu batismo mas jamais receberia um documento que provasse o ato. Deveria apenas decidir se seria algo público ou não. E se Deus fosse burocrático e me exigisse recibo? Apesar de eu conhecer o código do consumidor, agora ele em nada me ajudaria, mesmo assim evoquei-o em vão. Mas onde estará o recibo de quando fui batizado? Não encontrei o recibo, apenas o pequeno certificado e fotos. Fui batizado à força, concluí. Quantas fotos para comprovar esta teoria. Resolvi continuar sem o tal documento e negando a minha fé, não em Deus mas nas igrejas.
Continuei na missa. Parecia mais longa que antigamente. Não vi os coroinhas, pensei besteira na hora. Me concentrei novamente, cantei, não comunguei (como um gay eheheh) pois não segui com as confirmações de fé após o batismo. No final, gostei muito do discurso do padre, cheguei à conclusão que ninguém pode ser católico como eles querem. As músicas continuam as mesmas. Saí leve, pouco menos de que quando saio da academia. Mas me senti feliz pois minha mãe gostou de eu ter ido.
Os sogros de minha irmã frequentam à uma igreja que tem um padre que foi assistir nossa peça de teatro gay e tudo. Pensei comigo- por um lado, o mundo continua o mesmo, por outro, está cada vez mais aberto. É possível abrir o coração e mente diferentemente? Acho que não. Por isso, tenho a certeza que o direito de escolher é divino e que nossos atos serão julgados um dia. Coloquei dez reais como meu pai me ensinou, ele não pode ir mas colocaria alguma quantia. Eu sigo na certeza de que o amor é o caminho. Que família é importante, mas que a Igreja não conhece seus filhos.