Na década de 80, o sexo mudou. Antes, qualquer enfermidade que fosse transmitida por meio do coito, resultava em uma doença curável ou que não levava à morte. Há muito tempo, a descoberta da penicilina e outros antibióticos deu fim às mortes causadas por gonorréia ou sífilis. Mas com o surgimento da aids, o livre amor hippie dos anos 70 parecia estar ameaçado.
Primeiro foi o câncer, mal realmente democrático que atinge todas as classes. Depois foi a vez da aids. Considerada de início um câncer. Câncer gay. Os homossexuais foram culpados por espalhar a doença. Era a justiça divina para alguns religiosos. Mas a epidemia não tinha esse preconceito. Anos se passaram desde o primeiro caso registrado, ainda no pós-guerra. A epidemia tomou o mundo, matou mais que qualquer outra. E ainda está entre nós, de forma invisível.
O vírus sempre agiu de forma invisível, mas era menos discreto. Matava em poucos anos. A caçada do homem em busca da cura da aids já tem mais de 20 anos. A cada passo dado pelos homens, a vírus evoluiu, dá outros dois passo à frente. Parece inteligente, quanto mais viver o seu hospedeiro, mais ele viverá.
Dst e aids. Não é doença, é síndrome de imunodeficiência. As outras doenças sexualmente transmissíveis (dst) são colocadas em escanteio. Só a aids mata. Matava. Hoje, o governo distribui remédios gratuitamente, existem diversos tratamentos, grupos de ajuda, cuidados que garantem uma vida normal aos portadores de hiv aids. Chamam de “sobre-vida”.
Hpv, hepatite A, B, C, herpes… todas as outras doenças são esquecidas. A aids é a grande vilã. A camisinha passa de anticoncepcional para arma de proteção em massa. O sexo nunca mais seria o mesmo. Não apenas pela aids. Hoje, os jovens fazem sexo cada vez mais cedo. O amor já é confundido com o sexo e já se fala que sexo é uma coisa e amor é outra mas que o sexo prevalece, não havendo amor sem sexo. Porém é possível o sexo sem o amor. E em dois dias já existe a certeza do eu te amo. Vulgarizou-se o amor, o sexo, a vida.
E o sexo sem a camisinha é prova de amor, de confiança. E a aids é que coisa de gente que não presta. Não que quem diga isso tenha preconceitos mas ela acha que jamais aconteceria com ela. Tem também a tal pílula do dia depois, a emoção de viver perigosamente e caso alguma coisa ocorra errado… a aids não mata mais, tem remédio. Na verdade, a aids nunca matou, o que sempre matou foi uma outra doença, que se aproveita da baixa imunidade, as doenças oportunistas. Já chamam a Sida (aids em português) de tia Cida, já chamam de passaporte carimbado.
A foto do cantor Cazuza, que estampou uma capa de Veja no final dos anos 80 (ele morreu em 1990), ilustra bem a cara da aids naquela década e na seguinte. No ano 2000, a aids tem a cara do Michael Jordan, de algum atleta de aparência saudável, tem a minha cara, a sua. A aids virou gente. E as pessoas acham que ela não assusta mais.