Falando dos primos ricos



Após 40 dias de excursão pela América do Norte, sinto-me confiante para avaliar a vida no Canadá e nos Estados Unidos. Vou me centrar na vida levada pelos gays, nas cidades quais visitei. Pode parecer estranho mas ainda por aqui o preconceito e a discriminação contra gays, lésbicas e trangêneros parece tão evidente quanto no Brasil, obviamente a violência sofrida pelos gays brasileiros é incontestável, aqui raramente acontecem assassinatos macabros como ocorrem todas as semanas em nosso país. Aqui, pode-se considerar os avançados em diferentes aspectos mas a homofobia ainda existe, mesmo que em quantidade menor. A religião ainda é um empencilho para a cidadania de homossexuais que têm que enfrentar más interpretações da Bíblia e um fundamentalismo inexplicável para países que se dizem democráticos.


 


Com destaque positivo posso afirmar que os GLBT são mais organizados, são visíveis e talvez isso mostre a diferença na conquista do respeito e direitos. No Canadá, embora agora com um primeiro-ministro conservador, os direitos são concedidos enquanto os EUA se mostram mais conservadores em relação à união homossexual. Um ponto em comum nos dois países é o processo com que as comunidades homossexuais se desenvolveram, o que segue muito o modelo de emancipação de cidades. Primeiro, eles fundam uma câmara de comércio gay e esta instituição se mostra útil na hora de buscar apoio político para a demanda da comunidade e financiar iniciativas. Em Curitiba, há pouco menos de 10 anos, o cônsul portugues Miguel Fawor tentou organizar uma entidade similar mas os membros debandaram após o assassinato do mesmo, que gerou grande polêmica na cidade. No Brasil, as organizações estão muitas vezes vinculadas ao dinheiro público e sua disposição político-partidária.


 


Outro ponto importante não só para a cultura gay mas para a todo o país é o patriotismo que ronda a história, os locais e o significado da cidadania. Embora os norte-americanos sejam apáticos politicamente e muitas vezes acusados de incultos, eles conhecem e respeitam a sua história. Pode parecer exagero mas histórias românticas e até duvidosas povoam o imaginário coletivo nestes países que adoram personagens e símbolos de sua liberdade. Concluí isso conhecendo a cidade de Philadelphia, onde o sino da independência recebe atenção de chefe de estado. Para ver o tal sino rachado, passa-se bolsas e casacos por um raio X e depois sofre-se uma revista meticulosa, um grande corredor conta a história do sino da liberdade que mesmo rachado é objeto de veneração, depois de meia-hora vê-se o sino. Expecula-se que após concluirem a redação da I Constituição, o sino foi tocado. O sino mereceu um memorial, bem como todas as pessos que ali estiveram, Jackson, Franklin, entre outros. É interessante lembrar que questões como a escravatura e termos católicos estavam supridos nessa carta mas a mesma foi alterada pelo primeiro congresso. Ou seja, a liberdade mas não de todos estava cultuada, mas mesmo assim a cidade fatura alto com turismo.


O turismo gay também é um filão que chama a atenção. “Gay owned and operated” estão nas páginas dos canais de comunicação dessa comunidade por todas as cidades. Aberto e administrado por um gay diz-se. Ou seja, o comércio da clientela gay é mais um motivo para se assumir em uma sociedade um tanto conservadora. Agora, me lembro que comunidades de imigrantes como judeus, ciganos, italianos, todas, sempre fizeram isso, dá-se preferência para membros da sua comunidade e assim, todos juntos, constrõem um amanhã. Está dado o recado. Educação e união fazem a força.

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa