O preconceito está a cada dia mais velado, discreto. É comum as pessoas falarem que não têm nenhum tipo de preconceito, que aceitam as diferenças numa boa. Mas a grande verdade é que a discriminação ainda existe, está cada dia mais enraizada em nossa cultura e se revela de forma quase impercebível.
Nas escolas, ainda se têm aquele famoso teste entre crianças brancas “você namoraria um negro?” e a resposta ainda é reveladora. Admitir que não beijaria, não namoraria uma pessoa de cor é uma forma de preconceito que as pessoas escondem e justificam dizendo ser um “gosto”. E isso elas aprenderam em casa, com os pais ou na tevê, onde a segregação racial ainda é constante.
Nessa semana que passou encarei algumas oportunidades de ver que o preconceito ainda existe e que lançar uma revista para o público gay em Curitiba não será tarefa fácil. A revista já está sendo publicada e será distribuída neste final de semana, mas os desafios que encontrei para lançá-la ainda me fazem pensar o quanto de energia precisará ser gasta para seu sucesso.
Em uma grande agência de propaganda eu ouço o ‘elogio’: “a comunidade gay de Curitiba é elegante, ela é discreta”. Penso comigo e respondo: “A comunidade gay de Curitiba é atrasada, é medrosa, é submissa. Não temos muitos direitos que outras comunidades pelo país conquistaram e as taxas de violência por aqui ainda são gigantescas. Ela não é discreta, ela é calada”.
Na seqüência, ouço da mesma pessoa que “como pai, gostaria que meu filho, se ele fosse se tornar homossexual, que fosse por vontade própria e não por causa do meio” quando ofereço um anúncio para uma escola de inglês juvenil. Perguntei se ele achava que os gays, diferentemente dos héteros, iriam para uma escola aprender uma língua ou para recrutar adolescentes. Ainda insisto, dizendo que eu passei a minha vida em um ambiente heterossexual e nem por isso me tornei hétero. “O contrário é verdadeiro”, ouvi.
No fim, não saí com o anúncio mas percebi o desafio que viria. Vibrei, adoro novos desafios e nenhum emprego me ofereceu tanto incentivo de estar trabalhando com o que gosto. Não posso acreditar que as pessoas ainda têm tamanho preconceito, que acham que gays são molestadores ou que não podem ser profissionais e centrados como os outros.
Para completar a minha semana, escolhemos um modelo para a capa da revista. Tudo bem, posso não ter explicado que era uma revista para o público gay, como deveria ter feito. Mas me causou incômodo quando o modelo se negou a fotografar pois “não sabia que era uma revista tendenciosa”. Ou seja, se fosse uma revista para outro público, seria um imenso prazer, mas como não era, reinou o receio, a dúvida, o não.
Estes foram apenas alguns exemplos do que as minorias podem enfrentar no dia-a-dia. Existem milhares de fatos como esses diariamente em Curitiba. São portas fechadas mas não apenas fechadas, são batidas em nossas caras. Claro, a revista conseguiu muito apoio, anunciantes, entrevistas. Mas ainda sim enfrenta o preconceito. Quando dizemos que é mais difícil ser diferente. Para outros seria mais fácil, seria da maneira natural. Para alguns, a vida é mais árdua, os caminhos são mais longos e perigosos. E não foi uma questão de escolha, que fique claro. O preconceito ainda existe e você pode mudar isso.
Para quem ainda não conhece a revista: www.webapp76668.ip-50-116-63-163.cloudezapp.io