Eles não gostam de futebol


Para o desespero de alguns, está iniciada mais uma temporada de Copa do Mundo de Futebol. O país fica letárgico, o mundo idolatra uma bola e assiste homens disputando quem faz mais gols. Mas existe um tipo que não quer saber de futebol, aliás, o jogo traz péssimas memórias.


 


Há meninos que jamais demonstram interesse pelo futebol, mesmo com a insistência dos pais, amigos e professores de educação física. Apesar de parecer um simples exemplo de personalidade ou aptidão desportiva, o futebol é, no reino dos meninos, muito mais do que um simples jogo.


 


Logo no início da socialização entre as crianças, ficam definidos os mais fortes, os mais inteligentes, os mais comunicativos. Por afinidade, o ser humano cria grupos de convivência. O futebol tornou-se um grande ponto comum entre os meninos. Aqueles que não gostam do jogo, têm a sua masculinidade contestada e não raramente acabam indo praticar esportes com as meninas.


 


E.R.P. tem 17 anos e desde pequeno não gosta de futebol. Ele conta que acabava indo jogar queimada ou vôlei com as meninas. “E as meninas não gostavam que eu jogasse com elas, porque obviamente eu era mais forte”.


 


Por ser um jogo de contato, o futebol também é um jogo que requer, além de preparação física e habilidade, um grande grau de competitividade. As quadras de futebol são locais onde os meninos medem forças. Ser um bom jogador agrega valor ao status que o indivíduo terá dentro do grupo.


 


Dentro de casa, a cobrança para que o menino saiba e goste de jogar bola fica por conta principalmente do pai. Desde pequeno, brinca-se, que o menino será jogador de futebol quando crescer. É um sonho bastante comum entre os pais, já que no Brasil futebol representa ascensão social, status e popularidade. Antes mesmo de falar os filhos já ‘ganham’ um time de presente, escolhido pelos pais e, claro, o mesmo para qual torcem.


 


Por outro lado, se o filho não demonstra aptidão para o jogo, o pai muitas vezes se frustra e acaba aceitando o fato de que o filho não gostar de bola. Mas a grande dificuldade é que os pais não sabem fazer outro programa com os filhos senão jogar futebol, o que acaba distanciando pais e filhos. “Antes, eu até ia, ficava jogando dois minutos, depois ficava sentado esperando o jogo acabar”, afirma E.R.P.


 


Talvez o futebol não represente o jogo de união que tanto se propaga. Na verdade, os meninos que não jogam futebol estão condenados à exclusão de alguns meios, por toda a vida. Agora, a menina que gosta de futebol também sofre preconceito… e quem disse que os esportes trazem a união?

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa