7 dias de emoções…

Sete dias separam a edição de meus artigos, desde o dia 17 de junho na Revista Lado A . Meu início na revista foi um marco em minha vida: meu nome de exibição no MSN passou para o diminutivo, porque me remete ao momento em que fui mais feliz na vida, quando assumi minha homossexualidade para mim mesma, porque mais importante do que sair do armário para o mundo é sair do armário para si mesmo; passei também a viver cada situação do dia a dia de forma mais intensa, com todo sentimento; passei também a observar os detalhes de cada momento e procurado compreende-los sob vários prismas.

Então, ao contrário da Lei de Murphy, percebi que tudo que é bom pode ser melhor ainda, só depende da forma como você olha e sente.
Semana passada disse que estava muito apaixonada e num artigo anterior que queria entrar num relacionamento de forma lúcida, pois bem, esse é o tema desta semana.

Um dia recebi em meu e-mail um convite para o orkut. À época, o site de relacionamentos era uma novidade, e mesmo que não fosse, minha curiosidade escorpiana não permitiria ficar sem saber: Qual era a do orkut?!

Encontrei amigos, pessoas que há anos não via e também aquelas comunidades em que não conhecemos ninguém, mas que entramos por algum tipo de afinidade. Isso me motivou a entrar numa comunidade do signo de escorpião: o meu signo.

Em determinado local, você poderia deixar sua data de aniversário; fiz! Qual foi minha surpresa, quando vi que no mesmo dia do meu aniversário havia uma outra pessoa com rosto familiar. Uma pessoa que eu já havia visto em algum lugar, mas que tinha certeza: tinha sido na vida gay. Bares ou casa de alguém? Não me lembrava, mas era familiar e muito bonita.

Quando estava naqueles momentos antes do 1º artigo, fui obrigada por duas amigas a ir a um bar. Depois de alguns momentos tentando em vão me divertir avisto a escorpiana do orkut.

Nossa! Como escorpianas são curiosas! Que vontade enlouquecedora de saber como ela é, seria parecida comigo? Converso com algumas amigas e uma delas a conhece. Eu conto a minha história. Minha amiga olha desconfiada, e eu garanto que é pura curiosidade. E era!!! embora pessoalmente ela fosse ainda mais bonita!

Naquele momento não queria, nem estava preparada para conhecer ninguém para namorar. O que eu queria sim, era estar em boas companhias. O olhar desconfiado da minha amiga não foi o único. Com ar de desconfiança ela olhou para mim com os olhos azuis mais lindos que já vi quando contei a história do orkut. Coincidência, ou script da vida de uma escorpiana, ela estava passando pelo mesmo momento que eu. Então num humor cítrico, ela me manteve à distância. Saí do bar acreditando que nós nos perdemos, ou seja não tinha uma intenção amorosa com ela, mas acreditei ter perdido a oportunidade de conhecer melhor uma escorpiana do mesmo dia que eu, paciência!

No meio do percurso, felizmente, graças aos queridos amigos me recuperei, voltei a ser uma pessoa feliz e sociável. Então naquele fim de semana que descrevi com vários eventos, revi a escorpiana dos olhos azuis em uma festa junina na casa de uma amiga. Como já havíamos nos perdido, interagi com as outras pessoas. Os convidados deveriam ir caracterizados, mas eu tive um dia intenso, e não tive tempo para pensar neste detalhe. E neste momento em que eu era eu novamente, tinha os amigos ao meu redor com muito mais carinho, então logo providenciaram uns remendos, característicos de festa junina para pôr em minha calça jeans. Fiz uma exigência, quero em forma de coração. E assim foi feito, um lindo coração pregado em minha calça.

A festa fluiu animada, só pessoas do bem, mas toda festa chega ao fim. E eu que não costumo me atrapalhar muito para encontrar endereços naquela noite tinha feito a façanha de me perder, esperava então que alguém resolvesse ir embora para que eu pudesse seguir e garantir minha chegada em casa. Enquanto ninguém saia, sentei-me em um banco e comecei a conversar com a escorpiana dos olhos azuis. Ela me diz que deveria ter vindo caracterizada, e eu respondo que a responsabilidade por não ter tido tempo para esse detalhe tinha sido de minha filha adolescente que tinha uma festa para ir na mesma noite, e mãe que é mãe, leva a filha na festa. Mostrei então a foto da minha pequena grande filha no celular, e como sempre acontece quando falo dela, o brilho em meus olhos ficou muito mais evidente. Me parece que este fato fez com que ela olhasse finalmente para mim. A conversa foi agradabilíssima, mas alguém anuncia a saída e eu preciso aproveitar para encontrar o caminho de volta.

Minha amiga anfitriã, me acompanha até o portão e me pergunta sobre ela, eu digo que ela é muito interessante mas infelizmente já nos perdemos no caminho, ela responde será? Quando olho para trás, lá está ela, indo embora também, e as pessoas que ia seguir, estão se enrolando dentro da casa. Pergunto se ela pode me ajudar a encontrar o caminho, ela diz claro, me siga. Eu sigo, e o “será?” de minha amiga ecoa em meus pensamentos. Vou seguindo a escorpiana, em determinado momento penso, o que tenho a perder? No mínimo terei uma ótima amiga! E resolvo pegar uma caneta, escrever meu celular naquele retalho em forma de coração, ao parar no semáforo, ela baixa o vidro do carro e eu também, então pego o coração e digo, meu coração pra você… agradeço pela ajuda e vou embora, som do carro alto, foi uma noite feliz com os amigos.

Chego em casa e observo uma chamada perdida no celular. Será? Imagina! A escorpiana que nem me olhava até outro dia agora estaria me ligando? E tão rápido! E se fosse para me advertir? Iiiiiiiiiiiii! Melhor não pensar sobre isso, poderia somente ser alguém que ligou por engano!

O domingo passa tranqüilo. Nenhuma nova ligação daquele número desconhecido. Vem a segunda, normal. Penso sobre o telefonema mas nada faço. A terça se repete. Na quarta minha curiosidade escorpiana está corroendo meus neurônios, então mando uma mensagem para a amiga que a conhece e pergunto se aquele é o número dela, conto o que aconteceu e ela me incentiva a retornar a ligação. Temo ligar pela experiência tida anteriormente com ela. Mando uma mensagem. Grande surpresa! Ela responde, e é bem simpática. Conversamos por mensagens na quarta, na quinta e na sexta-feira resolvemos sair para conversar.

Conversamos muito, fizemos um lanche e decidimos ir embora. Ela me deixa em frente ao meu prédio e continuamos conversando, não só seus olhos são lindos mas sua boca tem um magnetismo quase incontrolável. Não fosse a experiência de humor cítrico já teria a beijado, no entanto entre um assunto e outro não resistimos e nos beijamos intensamente como duas escorpianas entregues ao desejo. Para resumir o quanto foi agradável: chegamos à frente do prédio as 22 horas e ela foi embora dez para uma.

No sábado, já acordei com medo de ter gostado tanto daqueles beijos e me esforcei muito para não pensar nisso. No meio da tarde ela me liga com o intuito de combinarmos o encontro em um aniversário que aconteceria à noite. Conversamos e decidimos que eu a veria mais cedo, eu iria a casa dela. Hummmm!

Fui, e foi tudo de bom! Fomos ao aniversário e as pessoas já começaram a notar nossa proximidade, fomos embora e voltamos para o mesmo lugar de onde tínhamos saído, a casa dela.

Impressionantemente ficamos na noite de sábado caladas. A companhia era muito agradável, no entanto o medo do sentimento que se aproximava nos tirava as palavras. O domingo foi mais leve, parece que fizemos um pacto interior de viver cada momento sem pressa e com lucidez, exatamente como eu desejava. No domingo voltei para minha casa, precisava refletir sobre este turbilhão de sentimentos que estavam derrubando minha cabeça. Na segunda lá estamos nós de novo juntas e nos curtindo muito. Resultado: antes do fim de semana já estávamos namorando. Escorpianas são assim, tem que dar nome a tudo. Estamos namorando sim, sem perder o foco de nossas vidas, com a lucidez necessária para um relacionamento promissor.

Lições desta semana:

– É necessário que depois das turbulências do fim do último relacionamento você se descubra novamente. Lembre do que você gostava de fazer antes do rolo compressor da ex passar pela sua vida. Se estiver difícil, resgate seus cd’s, comece lembrando que tipo de músicas você gostava antes de tudo isso.

– Um bom conselho nesta fase de descoberta interior e fazer uma atividade física. Além de recuperar o corpinho e ficar mais atraente para um novo petisco, você ainda vai fabricar a própria serotonina, evitando entrar em depressão e ter que tomar um antidepressivo que como é sabido tem efeitos broxantes.

– Preste sempre atenção ao seu redor. Observe os acontecimentos e as pessoas, alguém muito interessante pode estar perto e você terá que se mostrar interessante a ela.

– Iniciada a nova relação, não perca o foco da sua vida, ou seja não deixe de fazer “suas” coisas.

Não tem como não repetir a vocês a frase: “Com certeza, tudo dá certo no final.”

A música desta semana é: “You’re Beatiful” de James Blunt, trilha sonora do primeiro beijo.

Opiniões e sugestões escreva para zaraschnauzer@gmail.com

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa