Política: Em quem votar?

Os gays devem votar em candidatos homossexuais ou não devem ter este tipo de preconceito na hora de confiar o seu voto? A população gay é dividida sobre o assunto e a polêmica está longe de ser encerrada. Nesse meio tempo, perde-se força para as bancadas evangélicas que aumentam com o voto cativo e derrotam leis que promovem os direitos de gays e lésbicas.


Como candidato ao cargo de vereador nas últimas eleições, em 2004, afirmo que se os gays da cidade votassem em outros gays, teríamos ao menos três representantes na nossa atual câmara municipal de Curitiba. Claro, ser gay ou lésbica não é garantia de nada. Existem gays que não dividem as mesmas reivindicações do resto do grupo ou possuem competência para assumirem cargos públicos, mas isso acontece em todas as esferas. Acredito que se gays votassem em gays, ao menos teríamos representantes que lembrariam a nossa existência.


Para se ter uma idéia, em São Paulo, que tem um eleitorado muito maior que o nosso, ainda não se elegeu um homossexual assumido. Mas os simpatizantes aparecem em todas as eleições e alguns são eleitos. Eles nos defendem, nos ajudam, levantam a bandeira do arco-íris, mas de todo o caso, a “vossa excelência” eleita é heterossexual. Imagine um deputado homofóbico sendo obrigado a chamar um homossexual de “vossa excelência”, quebraria preconceitos desde o início.


Entre os gays, muitos não votam em candidatos gays quando um candidato diz  representar os gays. O eleitor costuma apontar que o tal candidato gay não o representa, por incompatibilidades nada políticas. E, ironicamente, busca a sua representatividade em um político heterossexual. Por incrível que pareça, isso reflete a imaturidade na discussão do assunto. Tanto para aquele que vota cegamente no gay ou no pastor, quanto àquele que nega esta forma de estratégia para conquistar o poder.


Hoje, temos juízes gays, desembargadores gays, mas eles em quase nada fazem para nos defender, pois ninguém sabe deles. Temos deputados homossexuais, senadores gays – não assumidos – e estes tremem quando levantam a nossa bandeira. Em um país campeão de assassinatos de homossexuais, onde 94% das crianças dizem que ser homossexual é errado, acho que eleger não homossexuais assumidos é um risco de perder força na hora da decisão.


Os simpatizantes da causa podem ser vistos como aliados, mas precisamos de gays na política, que dêem o seu depoimento, que passe às massas a importância da tolerância e do respeito à diversidade. Precisamos de gays na política como exemplo. Exemplo de que gay não é o que se pensa e exemplo de como se fazer política. Exemplo para os nossos jovens.


A faca e o queijo estão em nossas mãos. Em muitas prefeituras, gays foram os melhores gestores já vistos, o que ajudou a diminuir a rejeição. A política pode ser um caminho para a comunidade gay mostrar a sua competência. Nos anos 80, mostramos ao mundo como combater a aids, por que não mostrar que temos caráter e dignidade para a política? Um campo tão carente de gente comprometida. Se eu fosse hétero, votava em um gay competente para quebrar o círculo vicioso de alguma forma.


Infelizmente, nas próximas eleições, paranaenses não terão gays assumidos para votar. Se houver algum candidato gay por aí, ocupe este espaço! Por isso, vote consciente que seu voto é a sua força. Participe da vida política da sua escola, bairro, igreja, condomínio e ajude a mudar.


Deixe a sua opinião em nossa enquete da semana sobre as eleições, do lado direito.

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa