Os filmes americanos não são o melhor exemplo de cultura. Os documentários americanos às vezes expressam os valores daquela sociedade ao invés de reportar a realidade (basta comparar filmes feito pelos americanos da National Geografic com os filme da inglesa Discovery). Recentemente, dois filmes baseados em histórias reais calaram ou reduziram dois personagens gays. O filme Capote, que conta a história do livro reportagem obra prima do jornalista Truman Capote e o filme Flight 93, sobre um dos aviões seqüestrados no trágico dia 11 de setembro de 2003.
O filme Capote (disponível nas locadoras) consegue reproduzir um crime bárbaro que colocou no mapa a pequena cidade de Holcomb, no estado de Kansas. Lá, dois homens mataram uma família inteira dentro de sua própria casa. Philip Seymour Hoffman, que interpreta Capote, prova a cada segundo do filme que a estatueta de melhor ator da Academia por sua atuação foi mais do que merecida. O filme mostra o relacionamento de Capote e o escritor Alvin Dewey de forma fria. Também explora muito pouco uma das fofocas que acompanharam o lançamento do livro “a Sangue Frio”, de um relacionamento amoroso entre Truman e um dos assassinos.
Mas o que mais assusta está no filme Vôo 93 (em cartaz, nos cinemas)que traz os heróis brancos do 11 de setembro de 2001 para o motim realizado no vôo da United que fez com que os terroristas não atingissem o alvo, supostamente a Casa Branca ou o Capitólio. O avião da United saiu do aeroporto de Newark , Nova Jérsei, com destino a São Francisco. É sabido que ao menos um dos passageiros era homossexual. Agora, imagine quantos gays não estavam em um vôo para São Francisco?
Mark Kendall Bingham tinha 31 anos e foi uma das pessoas que se comunicou com a família e provavelmente foi o primeiro a ligar. Ele não retornou as ligações de amigos e parentes. Acredita-se que os seqüestradores o espancaram na primeira classe. Eram 40 pessoas a bordo. Por algum motivo, o avião jamais atingiu seu objetivo. Por meio das gravações das ligações feitas pelos passageiros, construiu-se o roteiro do filme. No fim, uma pequena mudança capciosa no roteiro. Ao contrário da realidade, onde a caixa preta mostra que eles jamais tomaram o cockpit da aeronave, no filme, uma legião de brancos chega ao piloto terrorista.
O gay assumido morto no atentado de 11 de setembro se tornou um herói nacional. Bingham era jogador de Rugby no time gay San Francisco e dono de uma empresa de relações públicas com sede em Nova Iorque e em São Francisco, onde residia. Hoje dá nome a um campeonato do seu esporte predileto e tem uma fundação com seu nome.
Com o título original ‘Flight 93’, o filme se salva por não acabar com o clichê de mostrar a bandeira americana ao vento. Em compensação, é uma arma anti-semita condenável. Se não fosse pouco, você realmente sai do cinema sentindo certa raiva dos seqüestradores, ainda percebe que um deles não parece ser árabe. Depois, você olha, olha e percebe: Puta que pariu! Um dos terroristas “é mexicano”! (Na verdade é o ator inglês Jamie Harding, que parece ser um menino latino – foto)