Por Beto Pereira & Sousa
Peço desculpas aos meus leitores (sim, os 2 ou 3 que tenho), hoje, colocarei um conto de minha autoria. Não é uma leitura maçante, não se preocupem. É uma boa leitura, e ao final da mesma, espero que compreendam porque coloquei um conto em lugar de um texto. Boa leitura!
Ele está a beber um copo d’água, na sala do seu apartamento, olhando o pôr-do-Sol, apreciando o que lhe resta de vida. As células cancerígenas alastraram-se demasiadamente rápido em seu corpo.
“Chega a ser irônico, isso pode ser considerado um suicídio! Pois é meu próprio corpo quem me mata!”. “Ou foi você quem se matou ao longo dos anos?”.
Detesto monólogos, então continuaremos com o romance… É claro que é um romance! Pior que monólogos, só mesmo tragédias! Sim, ele morrerá em breve, mas há beleza em tudo! Ou você crê que ficará para semente?
Não, não. Muito menos nosso querido Vincent, sim! Vincent morrerá em breve. Pôr-do-Sol? Sim! O Sol estava se pondo (veja você, até o Sol finda!), e Vincent, com seu copo d’água, observava-o. Ora! ele está à beira da morte, quem está quase morto costuma fazer estas coisas, sabe? Refletir sobre tudo.
É como quando chega a fatura do cartão de crédito: “Não acredito que gastei dinheiro com isso! Poderia ter comprado outras coisas mais úteis com esse dinheiro! Ou tê-lo doado! Ajudado os mais pobres!”.
É, a morte eminente e as dividas tornam todo homem n’um filósofo e/ou nobre. Como nossos corações são puros quando mexem em nossas carteiras.
Anyway, de fato, Vincent não pensava em nada, apenas contemplava. Então pensou, “Se eu estou quase moto, porque estou bebendo água, ao invés de champagne?”. Ora, veja você! Não é que ele tem razão? Não sou nobre, nem rico, muito menos de uma estirpe refinada… mas adoro champagne! E porque ele, que é um arquiteto rico e refinado, no auge dos seus trinta e três anos, não beberia champagne! Vamos ao champagne!
O que?! Não acredito, Vincent! Sem champagne na geladeira? Café! Vá para um café, no centro da cidade. “Acho que vou a um café, aquele no centro da cidade…”, pegou o carro e dirigiu até o café. (Ora, leitor. É claro qu’eu consigo induzir os pensamentos e atitudes de Vincent. Aprendi na 4ª série, do primário, que, ao escrever, sou mais que um deus.)
Peça uma champagne, Vincent… “Por favor, uma champagne, morangos também…” Reparou como o garçom é bonito, Vincent?
“Que garçom bonito, mas eu estou morrendo, e ele aparenta querer algo promissor. Pela idade, trabalha aqui e faz alguma faculdade… a vida dele é um horizonte a ser descoberto…”.
Tá, tá bom, Vincent. Havia esquecido como você é romântico e depressivo. Então, nosso querido amigo fica sentado, bebendo, bebendo e… bebendo. Às vezes, como um morango. Às vezes, observa um rapaz ou guria que adentra o recinto.
Mas o que realmente chama-lhe a atenção, são os casais de meia idade. Tanto os homossexuais, quanto os heterossexuais. É lindo, não é, Vincent?
“É lindo. Quisera eu ter tal sorte…”
Mas você está com o pé na cova, Vincent. Seria apenas mais uma pessoa sofrendo à sua volta. Desde criança, Vincent culpa-se pelo sofrimento alheio. E isso inclui a fome na África, a Segunda Grande Guerra, a guerra no Iraque, as chacinas no Rio de Janeiro. Tudo! Ele sempre me pareceu meio louco e, um tanto quanto melancólico.
Vincent, a culpa não é sua. Não toda ela… “Eu poderia ter ajudado. Talvez se eu tivesse falado com Hitler…” É, ele não tinha nascido, mas tente convencê-lo do contrário…
– Champagne?
“Mais uma!E morango… e seu telefone…” Vincent safadinho. Quando bebe, ele fica assim, soltinho. Voando. “Sabe” – diz ele pro garçom, o bar está fechando, e o garçom dá ouvidos ao seu único freguês remanescente, e bêbado, prepare-se; começou a sessão nostalgia.
Outro costume do nosso amigo: reclamar. Porque afinal, como você, ele era feliz e não sabia…
“Quando eu tinha a sua idade, eu era feliz e não sabia. Achava que precisava sair de casa, porque minha família atrapalhava minha vida. Mas quando descobri que estou com câncer, sabe quem foram os únicos que ficaram ao meu lado? Minha família, meus cães e meus cartões de crédito. Por isso, cuidado meu bem! Há perigo na esquina… você não deve conhecer… não é da sua época… Época! Quando você ainda usava fraldas eu já ia a boates! Bom… eu aproveitei! Coitada da minha mãe, não nasci rico, não! Sou, o que os americanos chamam de self-made man! Me fiz por mim mesmo! Sim, é um pleonasmo, Eduardo. Mas quem não é um pleonasmo… Não tive filhos. Acho que por causa do câncer. Descobri recentemente, sabe? O câncer, Eduardo! Ora, essa! Sim, a esterilidade é conseqüência. Mas Deus sabe o que faz… eu teria sido um pai ausente, assim como meu. Sua relação com seu pai é boa? A de nenhum homem é, não se preocupe. Então, Eduardo… quer ir lá em casa? Leva uma garrafa de champagne, eu pago.”
Sim! Eduardo foi!
Eles estão juntos! É, sim, ele morre. Vincent morrerá. Talvez n’um acidente de carro, sei lá” Odeio tragédias e monólogos.
Moral? Ora! Sua vida pode estar horrível, mas ainda resta-lhe a champagne!