“É pelo dedo que se conhece o gigante”

Redação Lado A 11 de Outubro, 2006 13h58m

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Essa frase me chocou neste domingo, no debate entre Lula e Alckmin. Tirando o que todo mundo percebeu: discutir propostas para o país foi nota zero. Estou estressado, por não conseguir ter confiança em nenhum dos dois candidatos, principalmente quando se diz respeito à melhoria da qualidade de vida dos gays.


Este tipo de frase, “É pelo dedo que se conhece o gigante”, não se fala para alguém que não tem um dedo. Foi de deselegância, obviamente da parte do Dr. Alckmin. Aliás, semana passada, eu já havia chamado a atenção para alguns adesivos preconceituosos que estão espalhados por aí, muitas vezes, em pares com os adesivos do candidato tucano.


Fico imaginando o que as pessoas que por algum motivo perderam ou precisaram amputar um dedo sentem ao verem tais adesivos. E fico imaginando o que os donos desses adesivos fariam se um dos candidatos fosse homossexual assumido. Ia ter um adesivo de o desenho veado cortado ao meio, em sinal de negação?


De preconceito eu entendo. E é esse tipo de coisa que faz a gente perceber o caráter das pessoas. Realmente, é pelo dedo e pela língua que se conhece o gigante. Mas acredito que a frase foi usada como um tiro contra o próprio pé, ou melhor, dedo. Tenho vergonha de quem usa tais adesivos. São ofensivos, discriminatórios! O princípio da discriminação é exatamente esse, tratamento diferenciado exaltando, ou por razão de, alguma característica da pessoa. Se fosse um negro, uma estrela de Davi, ou um japonês representado por circulo cortado, a reação seria diferente.


Cuidado eleitor. Nós também fazemos política. E podemos estar dando um mau exemplo danado para as futuras gerações.


A frase usada pelo Alckmin foi infeliz. Falar de dedo para quem perdeu um é como falasse dos cabelos aos carecas. Ou como quando falavam dos anões do orçamento, generalizando que anões eram corruptos e criando mais um estigma para essa população de baixa estatura, mas tão brasileira quanto qualquer outra.


Por isso, vou mandar um e-mail para todas as emissoras que ainda farão debate. Devem perguntar se eles são a favor ou contra o casamento gay. Quero saber o que esses candidatos pensam. Nos programas, que são listas telefônicas, alguns assumem o compromisso de melhor a qualidade de vida dos gays, lésbicas, transexuais e travestis. Mas na prática, tanto no estado de São Paulo, quanto no Brasil, falta muito em legislação e defesa da livre orientação sexual.


Por isso, senhores candidatos ao executivo: são a favor ou contra o casamento gay? Esta é a pergunta que não quer calar. Pois a resposta irá responder se essas pessoas têm a sensibilidade de assegurar um direito humano, que é contrariado pelos religiosos e falso moralistas. Em segundo, vai mostrar quem joga dos dois lados (políticos bilaterais?), que prometem aos evangélicos que não darão direitos aos gays e que fazem discursos aos gays prometendo diálogo e se dizem solidários. Estou encaminhando este e-mail para a assessoria de Requião, Osmar, Alckmin e Lula. As respostas só serão publicadas se assim os candidatos desejarem.


Espero ter a minha dúvida solucionada e descobrir em quem votar.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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