Sem muito a comemorar
O dia mundial contra a homofobia, comemorado nesta quinta-feira, dia 17 de maio, marca a data que a homossexualidade deixou de ser considerada doença pela Organização Mundial da Saúde, OMS, em 1990. É notável o avanço da cidadania de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais nestes 16 anos, mas ainda há muito a ser trilhado.
Na capital paranaense, o Grupo Dignidade montou uma barraca em frente ao Palácio Avenida, que abriga o banco holandês HSBC. Faixas com dizeres “A homofobia gera morte”, “Mostre a língua para o preconceito” e “Homossexualidade não é doença, a discriminação sim, um preconceito social”, ente outras, chamavam a atenção dos pedestres no local neste dia nublado.
Apesar de ter sido derrubado o veto do prefeito Beto Richa ao projeto de lei que cria o Dia Municipal contra a homofobia no município de Curitiba, no último dia 02, a lei ainda não foi publicada no Diário Oficial do Município. Outro contratempo com cheiro de boicote foi que a gráfica que produziria o jornal que o grupo encomendou para a data não entregou o material a tempo. Por acaso, um colunista do jornal do mesmo grupo teve que ceder espaço para textos uma militante do grupo que alegou na Justiça ter sofrido calúnia por parte jornalista.
Mesmo assim, a ação educativa do grupo foi bela, mobilizando militantes e conscientizando a população do panorama que o homossexual vive no país. Um grande banner enumerava os 36 direitos negados aos homossexuais no Brasil. Um baixo-assinado em apoio à criação de uma lei nacional contra a discriminação de homossexuais foi assinado pelas pessoas que passavam no local.
Alguns argumentavam razões interessantes para firmar o manifesto como: “meu irmão é gay e ele é gente boa” ou “nordestino também sofre preconceito, vou assinar”. As pessoas olhavam, algumas paravam, outros comentavam “é coisa de viado…” e seguiam. Ao lado, uma dupla de repetidores nordestinos cantava “tanta mulher bonita, atrás de namorado. E um monte de homem por aí procurando viado”… mas a provocação, ou a referencia descabida, foi apenas esta.
Muitos idosos e adolescentes faziam perguntas, assinavam a lista, levavam materiais educativos. A mobilização conseguiu mais de 50 assinaturas nas primeiras horas e muitos paravam para dar apoio. Muitos gays iam ao local, outros passavam reto, mais rijos e masculinos que de costume. A imprensa pouco prestigiou, salvo um convite feito pelo programa Tribuna na TV, do SBT local, para o quadro Palco do Povo, realizado ao vivo na praça Rui Barbosa e alguns fotógrafos.
A rua XV representa a diversidade, local onde um dia a travesti Gilda lutou até o fim contra o preconceito. Usava o beijo como arma, como ganha pão. Na cidade fria, ela recebeu facadas que a deixaram seqüelas. Foi encontrada morta em um casario próximo ao batel. Ela marcou a década de 80 na cidade e ali teve até uma placa em sua homenagem, retirada pelo presidente de um grupo intitulado Cavaleiros da Ordem da Boca Maldita. Mas a XV é a Gilda, a XV é a diversidade. E, infelizmente, a história do município é marcada pela intolerância, desprestígio e negação dos cidadãos que amam o mesmo sexo, tão curitibanos quanto os outros.
Ao total, 276 assinaturas foram colhidas.