Para melhor nos posicionarmos diante da questão do transexualismo, é necessário entendermos o conceito de saúde de modo amplo, como o quer a OMS em sua definição: “a saúde é um completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”.
É saudável uma integração harmônica entre os vários aspectos que compõe o sujeito diante da presença ou ausência de sua felicidade, do sentir-se de bem com a vida.
O físico, o emocional, o cognitivo, o comportamental, o social, o econômico, o sexual, etc. devem integrar-se num todo harmonioso. O tratamento do transexual é um direito que este tem com relação à saúde em sentido amplo.
É importante trabalhar-se existencialmente o significado da vida e do papel e identidade social, pessoal e sexual conquistada pelo sujeito. Quando cogitamos tratar o transexualismo, vemo-nos diante de duas opções: adequar a esfera emocional ao corpo, fazendo com que o indivíduo aceite seu corpo, ou, adequar o corpo à estrutura emocional do indivíduo.
A primeira opção, de por meio de psicoterapia adequarmos a estrutura emocional do indivíduo ao seu corpo (fazendo com que este aceite a si próprio), não tem se mostrado satisfatória e bem sucedida.
A segunda opção, de adequar o corpo à estrutura emocional, tem estado em voga em anos recentes, devido e evolução das cirurgias de redesignação sexual.
A tentativa de proibição e/ou renegar a cirurgia, muitas vezes, torna-se prejudicial, visto que é comum encontrarmos na literatura pertinente ao assunto, o registro e a descrição de autocastrações e mutilações nas mamas, em decorrência da não aceitação explícita do sexo genético/biológico/anatômico com o qual o indivíduo nasceu.
Na ausência do tratamento cirúrgico, temos o registro de casos de automutilações e lesões corporais por vezes irreversíveis, seja nas mamas ou na genitália. Temos o registro na literatura, de homens que tentaram a autocastração. A leitura de registros científicos traz casos de transexuais que adquiriram determinado anestésico, anestesiaram o órgão, cortaram e jogaram no vaso sanitário dando descarga para impossibilitar um reimplante. Mulheres, visando esconder os seios, prova cultural de sua feminilidade, tendem a amarrar as mamas com tiras de seda, fazendo com que estes se deformem e apontem para baixo.
É preciso deixar claro que o transexual masculino precisa do tecido de sua genitália para ser reaproveitado na construção de uma “neo” vagina e se este se precipita, automutilando-se e castrando-se, estará agindo contrário aos seus próprios interesses, na medida em que com tal ato estará complicando qualquer procedimento cirúrgico de mudança de sexo.
Fonte: CHARLES, David. Novo milênio e a medicina