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*Banheirón, do portunhol, significa banheirão
Em todo o mundo, banheiros e mictórios são pontos de encontro de muitos gays que aproveitam o momento de “intimidade masculina” para lidarem com seus desejos muitas vezes latentes e que só encontram escape nos urinóis da vida. O contato é simples: um olha para o outro e os olhos dizem tudo. Dali em diante, o famoso reservado vira uma suíte e nada mais importa. A maioria dos adeptos do sexo em banheiro é formada por fetichistas, iniciantes e pessoas que não assumem sua sexualidade ao longo do dia. Por isso, muitos jamais passaram deste contato visual.
Alguns héteros até exibem seus falos, outros gostam apenas de ver o pênis alheio, como forma de comparação. Há os que praticam mas param no sexo oral, outros na masturbação. A verdade é que o banheiro representou até pouco tempo a única oportunidade masculina para comparar seus genitais e, para homossexuais, o único local para encontrar pessoas dispostas a praticar o sexo gay. Em alguns países muçulmanos, o banheiro é o único lugar aparentemente seguro para se fazer sexo homossexual, já que lá fora o mundo é mais hostil e cheio de denuncismo. Por isso, policiais usam o local para “prender” sodomitas, que podem receber até a pena de morte.
De banheiro de faculdade, rodoviária, shopping center, supermercado… Todos representam chances reais de se conhecer alguém. O cheiro de urina parece aumentar o prazer da caçada. Mas alguns estabelecimentos estão de olho nessa movimentação e prometem extinguir o banheirão, como é conhecida a prática de homens se divertirem em banheiros. Em Fort Lauderdale, na Flórida, nos EUA, por exemplo, o prefeito da cidade, Jim Naugle, tentou comprar banheiros públicos automatizados que abririam constantemente suas portas, impedindo que mais de uma pessoa entrasse no local. O que provocou uma reação imediata na comunidade homossexual, que montou uma campanha para “dar a descarga” no prefeito.
No Brasil, a guerra é silenciosa. A militância não defende o uso dos banheiros para práticas sexuais e chega a se posicionar contrária. Mas os banheiros daqui passam por uma revolução. As portas de muitos reservados com privada estão sendo trocadas por portas de vidro jateado, o que permite a visão dos contornos de quem usa o banheiro. Com isso, um shopping center de Curitiba que recentemente teve problemas com o uso “indevido” de seus toiletes, indo parar nas manchetes policiais, espera resolver de vez o “problema”. A moda foi trazida pelo Shopping Park Barigui há quatro anos e já ganhou o Shopping Crystal, o Müller e, em breve, o Curitiba deve aderir à onda. As tais portas ainda diminuem as pichações e danos permanentes, comuns às antigas portas de madeira.
A arte de banheiro está com os dias contados, bem como o sexo nos reservados, sem falar naqueles que usam os banheiros para o consumo de drogas. Agora, a intimidade também saiu perdendo no meio disso tudo; quem tem problemas de usar banheiro longe de casa, garante: é impossível fazer ‘número dois’ com uma porta translúcida. Já o banheiro para deficientes será disputado por casais em busca de privacidade, pessoas com problemas de timidez ao vaso, usuários de drogas e os verdadeiros usuários destes banheiros. Por ser feita de vidro, as portas translúcidas não podem ser usadas nos banheiros para deficientes, já que são um risco em caso de acidente. Como não há lei que impeça o uso de todos do banheiro para deficientes, a placa de ocupado deve prevalecer…
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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