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Por muito tempo, o ‘Mercado Cor de Rosa’ foi ignorado pelos setores de entretenimento e turismo. Agora, os empresários e investidores destes segmentos têm se rendido ao mundo gay, abrindo um novo nicho comercial: o Pink Money, ou dinheiro rosa, como foi nomeado. Porém, o mercado ainda é pouco explorado no interior, onde tem se tornado um gargalo lucrativo.
Na segunda semana de agosto, aconteceu em Juiz de Fora a 10ª edição da Raibow Fest, evento destinado ao público gay mais famoso do Estado de Minas Gerais. O maior evento gay do interior brasileiro e um dos mais antigos do país. A festa realizada durante quatro dias reúniu, apenas no sábado – data em que acontece a parada e a eleição do Miss Gay, mais de 100 mil pessoas. Este ano, a capital mineira também foi palco do Movimento do Orgulho Gay com uma Parada, que aconteceu em julho e reuniu aproximadamente 30 mil pessoas. Até novembro, ainda serão realizados outros eventos em, pelo menos, mais duas cidades mineiras: Carangola e Cataguases.
Cada vez mais festas e estabelecimentos comerciais voltados para o público GLBT têm surgido no país, especialmente nas Regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e parte do Nordeste, onde o fluxo de dinheiro é maior que em outras regiões do Brasil. Nas capitais e cidades de grande porte, são inaugurados quase mensalmente restaurantes, bares, lanchonetes, pizzarias, boates, saunas e cinemas, todos especializados em trabalhar com o público gay.
Num ritmo menor, o interior também tem se tornado um ótimo lugar para se aplicar no capital rosa. Festas esporádicas e a abertura de bares e boates têm se tornado freqüentes nos últimos quatro anos. O Pink Money tem sido percebido pelos empresários como uma grande fonte de lucro e se tornado um segmento que tem recebido crescentes investimentos.
O Interior: um mercado promissor
Formada pela Faculdade de Minas, a Turismóloga Cláudia Pinheiro defendeu em sua tese de graduação como os empresários do interior podem se beneficiar com o turismo gay na região de Muriaé, localizada na Região da Zona da Mata Mineira. A pesquisa revelou a potência do empreendimento e as deficiências que os donos de pousadas, hotéis, restaurantes e locais de entretenimento possuem.
“Ainda existe uma falta de consciência da comunidade e dos empresários, que possuem preconceito evidente quanto à realização de eventos e abertura de empreendimentos direcionados ao público GLBT”, revela Cláudia. Ela acredita que através do trabalho de conscientização e preparação das pessoas, o mercado possa se tornar melhor aproveitado na região. “Isso faria que a população recebesse com mais naturalidade a expansão do mercado do Pink Money. Posteriormente, a preparação para a recepção do público GLBT seria melhorada com a qualificação de mão-de-obra especializada nos estabelecimentos do trade turístico, como hotéis, bares, restaurantes, serviços de transporte entre outros.”
Contudo, a realização de festas nos centros das cidades já é um progresso grande para o mercado. Antigamente, os eventos eram realizados em redutos e locais escondidos, distante da movimentação do público hetero.
“O mercado GLBT é muito promissor, visto que os gays da região são ansiosos por desfrutar de eventos e freqüentar locais direcionados ao mesmo público”, explica a turismóloga.
Os mineiros não comem quieto
Promotor de eventos há mais de três anos em Muriaé, Roberto Wingle defende que para haver o desenvolvimento do mercado GLBT no interior é necessário que exista também uma organização que difunda os direitos dos homossexuais e consiga fazer com que a comunidade respeite os eventos. Ele é o responsável pela Wingle Party, que acontece esporadicamente na cidade e reúne público da cidade e região.
Ao perguntado sobre como conseguiu manter durante tanto tempo a festa com um público cativo, Wingle afirma que não foi fácil, já que os gays, mesmo sendo numerosos, consumidores e fieis às marcas que consomem, são muito exigentes. “Consegui manter a festa com persistência e busca constante por qualidade nos serviços prestados. Isso não deve ser apenas critérios para o mercado gay, mas para todos os setores”, revela.
Segundo ele, o patrocínio ainda é nulo, já que muitos empresários não conhecem o marketing cultural. Numa comparação entre as grandes cidades e o interior, o promotor revela que não existe uma grande diferença de público, mas sim de investimento.
A festa fluminense
Promotora da Festa Gliters, de Itaperuna (RJ), Cristiane da Silva Sales acha que o local ainda é o grande problema para a realização das festas. Segundo ela, é muito difícil encontrar no interior locais que sejam adequados para se realizar qualquer tipo de evento. “Nunca faria um evento num local que, por exemplo, não há legalização ou seja seguro para os convidados”.
Cristiane também acredita que exista uma carência de patrocinadores para festas GLBT e quando tem, evitam que o nome seja vinculado ao evento. Ela explica que a Gliters surgiu a pedidos do público fluminense por uma festa que se diferenciasse das que aconteciam em toda região.
“O mercado gay, não apenas no interior como na capital é muito bom. Vejo que o público é o melhor segmento para se investir na atualidade, em termo de mercado de entretenimento. Porque além do retorno financeiro, eles também oferecem outro tipo de retorno, como dicas construtivas para que o ambiente que eles mesmos freqüentam se torne melhor.”
Setor lucrativo
Um ramo do setor que tem crescido e dado certo no interior são os bares. Dono do único bar gay de Muriaé, o Projeto, Nery, como é conhecido no meio, diz que muitos podem abrir um bar, porém poucos conseguem mantê-lo. “Para que o mercado dê certo, é necessária uma organização. Se não houver organização, o negócio tende a dar errado. Quando eles vêem que existe uma organização, eles se sentem à vontade. É um público enjoado e seletivo.
O bar já existe há três meses, freqüentado também pelo público hétero, além de se tornar ponto de referência para os gays da cidade e região. A cada dia da semana – o estabelecimento funciona de quinta a domingo, são apresentadas atrações diferente, sendo a música eletrônica o ponto forte do estabelecimento. “Eu espelho em mim mesmo para fazer as atrações do bar, como seria o ambiente e as musicas tocadas no lugar”, ressalta Nery.
Ele acha que o aquecimento do Pink Money no interior se deve os gays estarem mais liberais e prontos para mostrar a cara, sem preconceito. Assim, eles têm conquistado um espaço dentro da sociedade.
Nota do editor:
Decididamente, uma parada no interior fortalece o fluxo de investimentos, combate o preconceito e cria um novo mercado. Livre da concorrência das capitais, investir no interior pode dar muito certo. No dia 18 de novembro acontece a primeira Parada Gay de Foz do Iguaçu, na tríplice fronteira. Cidades como Santa Maria, Pelotas, entre outras do interior, também já dão seus passos. Prestigie e apóie os eventos GLBT na sua cidade, além de cidadania, iniciativas como essas geram empregos e quebram barreiras.
SOBRE O AUTORRedação Lado AA Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa |
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