A expectativa de vida vem aumentando no mundo inteiro. Os chamados países de “primeiro mundo” têm convivido com essa realidade progressivamente, desde o final do século XIX. Já nos países em desenvolvimento, esse aumento começou a ser observado a partir da década de 70, como resultado da redução das taxas de natalidade e mortalidade. Para se ter uma idéia, em 1900, a expectativa média de vida no Brasil era de 33 anos. No final dos anos 90 essa expectativa subiu para 65 anos, ou seja, dobrou em apenas um século. Com as pessoas vivendo mais tempo, gerou-se a necessidade de aprender a lidar e conviver com o idoso. Tornou-se fundamental, atualmente, inserir o idoso no convívio social, respondendo as suas necessidades e desejos. A conquista da qualidade de vida na terceira idade e a busca pelo envelhecimento saudável surgem como os grandes desafios do século XXI.
A terceira idade é considerada hoje um mercado consumidor forte e um grande contingente eleitoral. Trata-se de um público que pode fazer diferença nas urnas. Célia Caldas, Vice-Diretora da Universidade Aberta da Terceira Idade (UNATI) diz: “É preciso deixar claro que a qualidade de vida na terceira idade é o resultado de tudo o que fizemos ao longo do tempo. Essa qualidade começa a ser garantida desde que somos crianças, pois a velhice está inserida em uma perspectiva de ciclo vital. O idoso que somos hoje é reflexo do jovem e do adulto que fomos ontem. Na terceira idade, nos deparamos com as conseqüências do que foi construído ao longo de nossa história física, emocional, afetiva, profissional e social. O ideal é que essa qualidade não seja tratada de maneira solta, desvinculada das outras etapas da vida, mas seja uma conseqüência de todo esse processo. É claro que existem medidas, como programas de promoção de saúde e atividades voltadas para o idoso, que são importantes e elevam a qualidade de vida na terceira idade. Quanto mais amplo for o programa de promoção de saúde, por exemplo, mas eficiente será. No entanto, somente a eficácia dos hospitais, médicos e tratamentos não garantem essa qualidade. O indivíduo pode ter tudo isso, mas não ser feliz, não se sentir realizado, não ter prazer em viver. O idoso precisa se sentir realizado, valorizado e integrado à sociedade. Para isso, é de extrema importância que ele tenha projetos de vida para concretizar e que essa decisão seja respeitada. A saúde física, mental e emocional vão ser conseqüências dessas realizações”.
Já a psicóloga Mariuza Pregnolato, pesquisadora do comportamento, explica porque os homens ao envelhecer podem parecer perder a vaidade: “A menos que o homem tenha se recusado a aceitar a inexorável passagem do tempo como um processo natural e pleno de possibilidades de aprendizagem e crescimento pessoal, ele vive intensamente o momento presente, é capaz de ir aprendendo a lidar bem com os pedidos do seu próprio corpo e se adaptar continuamente a essas demandas de um modo leve e tranqüilo. Os felizardos que atingem essa condição continuam tão ou mais vaidosos do que antes, porque continuam gostando de si mesmos e estão atentos para fazer, em termos de cuidado pessoal, tudo aquilo que mantém elevada sua auto-estima. O homem que se cuida chega aos 60 com muito mais vigor e, portanto, gozará de uma vida mais longa com qualidade em todos os sentidos. Aquele que desperta para se cuidar somente após esta idade terá, pelo menos, a possibilidade de desacelerar possíveis processos degenerativos em andamento no seu organismo”.
A psicóloga dá dicas de como se cuidar e lidar com as mudanças do tempo: ”Continue apostando em você e na sua capacidade de ser feliz, de agradar ao outro, de dar e de receber. Ao perceber que algumas coisas já não podem ser feitas como antes, adapte-se para fazer diferente, mas não as abandone, transforme-se e transforme-as para melhor. Agindo assim, você terá muitas surpresas agradáveis. Por exemplo: Durante a atividade sexual, um homem bem-resolvido não ficará ansioso ou constrangido ao perceber-se sem ereção. Ele saberá continuar desfrutando dessa relação, sem ansiedade, sabendo que a ereção voltará dentro de alguns minutos porque já tem bastante intimidade com seu corpo e aprendeu a aguardá-la. Sabe como fazer para estimular-se, para estimular seu parceiro e ser estimulado por ele. O resultado: preliminares mais longas e prazerosas para ambos. Escolha dedicar-se às atividades que lhe dão prazer, evite companhias desagradáveis, desobrigue-se de laços que não lhe interessam e busque a companhia de pessoas de todas as idades. Dance, jogue, leia, ande, corra, nade, aprenda novos idiomas, faça terapia, aprenda e faça coisas novas todos os dias. Aliás, aprender sempre algo novo é a receita mais eficaz para afastar doenças degenerativas, especialmente o mal de Alzeimer. Saia só e também acompanhado.
Entenda que a idade não o impede de ser feliz, basta que você module o ritmo e a intensidade das atividades, adaptando-as às suas necessidades atuais. Uma pessoa não se torna melhor ou pior só porque o tempo passou, ela se constrói à medida em que o tempo passa, a partir do modo como vive cada momento presente. Velho chato é, muito provavelmente, o rótulo dado ao resultado de uma equação bastante simples: jovem chato + várias décadas transcorridas = velho chato. Há um aumento real da expectativa de vida da população mundial e essa nova realidade já vem mudando a forma de se olhar a pessoa idosa, que começa a ganhar a importância, que não possuía até agora no mundo ocidental (ainda não existe, no Brasil, um serviço de saúde pública estruturado para a saúde do homem, por exemplo). A tendência é que se criem, cada vez mais, serviços voltados ao idoso em todos os setores de atividade: lazer, educação, serviços, esporte e entretenimento, colocação profissional (para aqueles que a desejarem), entre outros.
Enfim, a população começa a envelhecer no mundo todo e o idoso tenderá a tornar-se o consumidor mais importante e respeitado em algumas décadas. É importante que todos nós possamos aprender a envelhecer felizes, com qualidade de vida. Para um envelhecimento saudável, nossos hábitos de vida são muito mais importantes do que nossa herança genética. Isso deve ser entendido como uma ótima notícia, porque significa que podemos escolher uma velhice feliz. Para isso precisaremos de alimentação e hábitos saudáveis, atividade física regular e adequada, repouso, lazer, relacionamentos e atividades prazerosas e muita, muita paixão. Onde há paixão não sobra nenhum espaço para a depressão e apatia. Envelhecer é automático, basta não morrer, mas o envelhecimento saudável é uma conquista. É preciso vencer o preconceito que existe sobre o que o idoso pode ou não pode fazer. Como os jovens, ele deve continuar acreditando que pode e ousar tudo aquilo que sabe que lhe fará bem. Irá cansar-se mais rapidamente, mas com um condicionamento físico adequado, poderá ter uma mobilidade excelente, uma atividade sexual saudável e contínua, uma vida plena e feliz.