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Ex namorados

Redação Lado A 19 de Maio, 2008 03h25m

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Acho que de todos eles, o único de quem sinto falta é o Henrique. José Henrique. Ele detestava quando o chamavam pelo primeiro nome, então é claro que eu o chamava de José.

Eu tinha 16 anos, ele 36. Nos conhecemos uma noite, óbvio, pois nunca conheci ninguém de dia. Mas foi n´uma noite, no já morto 100% Bar (& Lounge, que foi adicionado depois). Acho que era aniversário d´uma amiga, eu fui embora mais cedo…. Não, sim, eu fui embora mais cedo, mas não foi assim que começou. Bom, o 100% tinha esse “negócio”, em frente ao mini palco que lá cohabitava, onde a galera costumava sentar pra beber, conversar, se pegar e assistir aos shows. Ah, claro, tinha gente de pé dançando lá, quase sempre. Era um lugar meio disputado até, eu acho. Não lembro. Bom, eu estava de pé, ao lado dele, que estava sentado nesse negócio. Ah, esse negócio era como se fosse um “degrau” tipo aqueles de arquibancada, então, eu tava lá meio que dançando (o melhor que eu podia dançar n´um meio degrau de arquibancada e com 16 anos de idade) ao lado dele, que estava sentado bebendo o que hoje eu sei era Cuba Libre. Cuba Libre o caralho! Aliás, porque, só no Brasil mesmo que pinga com coca cola é cuba libre. Pinga com Coca-cola é tubão. Cuba libre é Rum com Coca.
Bom, estava ele tomando um tubão dentro d´um copo. Eu cansei e sentei.

Juro, nem tava dando em cima dele, aquele era um dia estranho. Eu havia saído da escola (eu estudava naquele colégio rosa gigante, aonde é ponto de michê, sim, o Instituto de Educação do Paraná), meu pescoço tava doendo e eu tava fedendo. E pensando bem, o jeito que eu ia pra escola era o mesmo jeito que eu ia pra boate. Será que ainda sou assim? Acho que sim.

Bom, eu estava cansado, com dor no pescoço, e sentei. Ele puxou conversa, eu realmente não lembro… Ah, lembro sim. Eu era muito ridículo, que vergonha. Bom, lembro que na época a onda de usar cintos extravagantes gritava. E eu sempre fui meio extravagante mesmo. E tinha essa camisa do meu irmão, que era cor grafite, que eu adorava. Eu colocava o cinto entre os dois últimos botões da camisa… pensando bem, até que era legal.

Bom, eu sentei e estava tirando o cinto pois ele vivia saindo do lugar, então eu estava preparando pra guardá-lo e ele disse “por que tirar? Ele fica bem legal em você”. Que cantadinha mais barata heim? Pel´amor de qualquer coisa! Mas eu tinha 16 anos, ele era alto, meio loiro, olhos azuis, super masculino. Aliás, super masculino mesmo. Voz grossa, até o jeito de fumar dele era super masculino.
Ele era bonito até, mas tinha uma berruga no nariz, bem à la bruxa de conto de fadas Disney. Mas bonito, mesmo assim.

Não dei muita bola não, sei lá por que. Acho que naquela época eu não era muito chegado em cara mais velho, ou sei lá. Sei que meia hora depois eu decidi ir embora, eu não lembro se ele levantou e também foi ou se quando eu saí ele tava lá na frente. Realmente não lembro, mas acho que provavelmente ele levantou e também foi, pois lembro de uma conversa fiada que foi dentro do bar… Tá, não sei porque to contando tudo isso, acho que é nostalgia, sei lá. Mas ele é o único que sinto saudade pois é o único que eu lembro que me fez sentir amado. Eu, burro, 16 anos, tinha vergonha, sei lá.

Acho que terminei com ele pois ele foi me buscar na escola um dia. É, acho que foi por isso. Tá, não foi por isso, essa é a mentira que eu conto pra todo mundo. Eu terminei com ele, não sei porque. Acho que são todas aquelas pequenas coisas, por exemplo, ele fumar. Eu detesto gosto de nicotina. De ele cantar em karaokê. Uma noite ele ofereceu a música pra mim, quer mais vergonha que isso?

Ele morava no fim do mundo. Naquela época, pra mim só existia Jardim das Américas e Centro, qualquer coisa fora desse eixo era fim do mundo. Ele foi o primeiro cara com quem eu fui ativo. Ele nunca me comeu. Quase 6 meses sendo ativo, com 16 anos? Quando você tem 16 anos e está saindo com um cara de 36, você não quer ser ativo.

Ah, sempre tomávamos banho juntos, aquela coisa, né? Mas um dia… ele decidiu que éramos totalmente íntimos e fez coco enquanto eu estava tomando banho…….. Naquele tempo se alguém mijasse do meu lado eu mandava tomar no cu (hoje tudo o que eu quero é alguém que curta pissing, como as coisas mudam e a gente perde a higiene…).

É, acho que foi uma junção de tudo que me fez largar os bets. Mesmo assim, não lembro de alguém que tenha gostado assim de mim. Será que é porque eu tinha 16? Eu nunca vou saber, pois duvido que eu o encontre novamente. Mas será que encontrarei alguém que goste assim de mim? Eu gostava muito do Diego, mas a gente não combinava. Ele adora rave, que é algo que eu detesto. Ele vai em bares e boates do Batel, que é um bairro que eu detesto. Ele se vestia melhor do que eu, e isso é imperdoável. Acho que nem pra ser amigos serviríamos, sei lá. Eu tinha tantos planos de casar com ele, até minha vó gostava dele. Mas, daí, um ex surgiu na minha vida e bagunçou tudo.

Não, nunca traí o Diego, mas meu coração ficou tão balançado que eu achei por bem que o certo era terminar. Pau no cu do Gustavo, que era tão viado que nem meu pau aguentava. E eu não tenho pau grande. Ou será que eu que não sei comer? Bom, ele também não sabia, tive que ensinar. O que é ridículo, pois eu tinha 18 pra 19 e ele 29. Não sabia comer, mas me ensinou a beber cerveja. Sou muito grato por isso. Naquela época eu só bebia Martini e Hi-Fi.  Nossa, faz tanto tempo que eu não bebo Hi-Fi. O melhor Hi-Fi era o do James Bar. Muito bom.

O Gustavo gostava de cachaça. Eu odeio cachaça. O Gustavo beijava mal? Não lembro. Acho que sim. Nossa, éramos totalmente água e óleo. Eu estava na minha fase fashion e ele é um biólogo que só anda de bicicleta e usa roupa velha. Eu deveria ter percebido que não daria certo quando o conheci, já que ele estava usando uma daquelas camisetas que você usa quando é escoteiro pra fazer as atividades de campo. Sabe? Aquelas cheia de furos, super velha, super folgada, que você ama? Então… Mas não acho que ele gostava de mim, acho que era só pra curtir. Eu gostava dele, acho que porque ele tinha um nariz tão lindo, grande, que combinava com o rosto magro dele. E tinha também a parada dele ser conhecido no underground curitibano, o que me rendeu alguns contatos. Ele terminou comigo. É, meus amigos, ele terminou comigo.

Dai tem o Todd, mas o Todd é o Todd. Foi muito bom enquanto durou, mas durou pouco e é algo que eu quero esquecer. Nunca mais me senti tão querido quanto lembro que era com o Henrique. E vejo muitos caras reclamarem da mesma coisa, qual o problema? Não me venha dizer que é porque o povo só pensa em trepar. Eu só penso em trepar também. Trepar é muito bom. Mas, mesmo só pensando em trepar, eu quero alguém pra mim. (Eu acho que encontrei…) Espero que esse alguém esteja me procurando também…

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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