Na região Sul, seis candidatos a vereador são homossexuais assumidos. A Lado A, publicará entrevistas com um representante de cada estado, semanalmente.
Roberto Schneider Seitenfus, é presidente do grupo Desobedeça em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Filiado ao PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), o estudante de Direito tem 28 anos e conta-nos sobre sua campanha.
Entrevista
Quais são suas propostas?
Roberto Seitenfus – Nossa proposta é construir um mandato que sirva de instrumento da luta da juventude e dos trabalhadores.Tenho a certeza que projetos como aulas de Direitos humanos ao Guardas municipais, por exemplo, dentre outros, é muito difícil de ser aprovado, uma vez que o ambiente legislativo foi construído para beneficiar uma parcela pequena da sociedade que detém a maioria do poder financeiro.
Portanto, nosso principal objetivo é ter um mandato que coloque o “dedo na ferida”, que cobre dos grandes sonegadores que paguem suas dívidas, que denunciem esquemas de corrupção como o escândalo do DMLU (Departamento Municipal de Limpeza Urbana) que colocou em xeque todos os partidos que habitam o Palácio municipal.
Uma das propostas importantes é diminuir drasticamente o salário dos parlamentares. Em suma é construir um mandato que não se curve e esteja sempre junto aos interesses dos trabalhadores e daqueles que são discriminados, levantando sempre a bandeira do arco-íris e assumindo em alto e bom som a minha homossexualidade!
Por que se candidatou?
Roberto Seitenfus – Fui candidato em 2006 à Deputado Estadual pelo PSOL, sendo o 5º mais votado do Partido na capital.A candidatura atual é parte de uma COERÊNCIA e LUTA que vem de muitos anos, desde o movimento estudantil em 1992 (Fora COLLOR).
Sou da executiva municipal do PSOL, integrante da CST (Corrente Socialista dos Trabalhadores – corrente interna do PSOL) e junto com Babá, Luciana e Heloísa Helena tenho orgulho de ter sido expulso do PT.
A candidatura serve para denunciar os corruptos de plantão e denunciar a homofobia no município de Porto Alegre.
Nosso material de campanha é ABERTAMENTE gay, inclusive fiz questão de colocar uma foto que estou em um beijo com outro militante em uma manifestação em Brasília e foi manchete do Jornal Zero Hora.
O espaço eleitoral é importante para dialogar com a sociedade os rumos que estamos tomando e como podemos mudar isso, denunciando os ladrões de terno e gravata.
Como surgiu a idéia de ser político?
Roberto Seitenfus – Acho que não surgiu. Sempre existiu.Para mim, política se faz por que se acredita que é um dos caminhos para mudar e mobilizar a população por melhorias.
Diferente dos Partidos envolvidos em esquema de corrupção, como PT, PSDB, DEM e salvo alguns poucos, política se faz com IDEOLOGIA e não para ter um emprego com bom salário por no mínimo 4 anos, pelo contrário, se vivo hoje com bolsa auxilio no estágio que cumpro na minha área (Direito) por que teria que mudar meu salário. Tem que reduzir drasticamente o salário dos parlamentares e ficar na realidade do trabalhador brasileiro que não chega perto do que os políticos ganham.
Em sua opinião, por que não há representantes homossexuais eleitos?
Roberto Seitenfus – Não existem parlamentares assumidos e isso é um problema, porque enfrentar o preconceito é parte de uma macro transformação. É questionar o fundamentalismo religioso e defender um Estado laico.
É questionar o “mercado pink” e inverter a lógica de que a pessoa é respeitada pelo que tem e não pelo que é.
Há muitos anos não tinha uma candidatura abertamente gay no Estado, LIGADO AO MOVIMENTO como sou. Quem sabe alguns que estão hoje na Assembléia Legislativa e na Câmara assumam que são gays e não continuem se escondendo. Conheço alguns que ocupam estes cargos.
O que faz para atrair eleitores?
Roberto Seitenfus – Sou sincero, continuo sendo quem sempre fui. Estou trabalhando, estudando e fazendo campanha. Não fujo do debate e vou conversar com cada pessoa na rua, conscientizar que é necessário mudar. TÁ TUDO ERRADO, as pessoas que governam Porto Alegre, RS e o Brasil estão metendo a mão no bolso do trabalhador e isso deve ser denunciado.
Veja o caso Dantas e dos partidos corruptos que financiam campanha em troca de favores. Há uma blindagem em torno deste senhor, feita inclusive pelo Ministro da Justiça, Tarso Genro, pois se ele fala o que sabe vai cair boa parte ou todos os “caciques” da política nacional.
Já sentiu preconceito por parte dos cidadãos?
Roberto Seitenfus – Não. Não senti nenhum tipo de preconceito.Tenho a certeza que o preconceito existe quando se tem medo de enfrentar ele. Eu sou gay, tenho namorado e sou militante dos Direitos Humanos. Todo mundo sabe de mim e não sou diferente do meu colega heterossexual. Estou com Luciana genro que é hétero e compactuamos a mesma visão de sociedade. Portanto a única coisa que nos diferencia é nossa sexualidade.
Enfrentar o preconceito é acabar com o preconceito.
Como é a relação com o partido?
Roberto Seitenfus – O PSOL tem diversos candidatos GLBTS no Brasil. Sou da executiva do PSOL.
O PSOL tem dentre suas premissas a defesa da liberdade sexual como princípio, não apenas no discurso, como o PT, PSDB e tantos outros. Discursar é fácil, colocar em prática é outra questão. Vejamos o programa Brasil Sem Homofobia do PT, fora o lindo caderno impresso, NENHUMA ação concreta foi realizada do programa. Foi puro discurso.
Já teve preconceito por parte do partido?
Roberto Seitenfus – Nunca houve preconceito, pelo contrário, eu e meu namorado freqüentamos as reuniões, festas e todos somos respeitados enquanto SER HUMANO.
Acha que gay vota em gay?
Roberto Seitenfus – Acho que alguns gays votam em gays, mas não acho que isso seja o mais importante, pois tem muito gay que se utiliza da sua condição sexual para tentar voto, mas que na prática não muda em nada o cerne do problema que é uma sociedade elitista, que vê as pessoas enquanto mercadoria.
O voto consciente e conseqüente é mais importante que votar meramente pela condição sexual. Quero que votem em mim por ser gay, mas mais do que isso, pela minha visão de mundo e mandato de luta!