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Até onde devem ser respeitados os princípios religiosos?

Redação Lado A 12 de Agosto, 2010 21h46m

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Sempre fui a favor da soberania dos princípios religiosos dentro de suas instituições, no entanto há pouco tempo tenho revisto minhas convicções. É irrefutável que a religião, seja ela qual for, é um ato civilizatório para a humanidade. Inúmeros pontos da legislação mundial foram retirados ou inspirados em leis ou princípios religiosos como “não roubar” e “não matar”.


Há centenas de anos, o Ocidente viu-se regido por tais mandamentos religiosos. A Idade Média é um dos melhores exemplos que se tem, quando a Igreja Católica, no poder, agia como “legislativo”, “executivo” e “judiciário”, muitas vezes caçando, e condenando à morte diversos inocentes e grandes pensadores da humanidade.


Embora se tenham passados vários anos, as religiões ainda buscam fazer parte dos poderes que norteiam a vida das pessoas, um bom exemplo é a recusa em aceitar alguns direitos aos homossexuais. No entanto, se compararmos a influência, hoje muito menor, das religiões em relação à vida social ocidental com a influência do Islamismo em relação à vida no Oriente Médio podemos ver o grande avanço que tivemos e o massacre desmedido que é feito em diversos países em pleno século XXI.


O Irã desde sempre, que eu saiba, possui atitudes moralmente repudiantes pela evidente maioria dos países do planeta. Não é novidade para ninguém as condenações de morte que o país defere a inúmeras pessoas pelas mais diversas causas, isso inclui homossexualidade e adultério.


Embora muitos achem que essa proibição é só islâmica, engana-se. O adultério só deixou de ser crime no Brasil em 2005 e existem muitos outros países, também de maioria católica, que ainda consideram sua prática contra a moral soberana do país. Acredito que cada pessoa tenha o direito de expressar seus valores religiosos, mas não creio que o Estado deva tão irrevogavelmente obrigar uma população a seguir tais leis.


Voltando ao Irã, o país condenou a morte por apedrejamento uma viúva acusada de adultério, supostamente cometido após a morte do marido. Devido à pressão mundial, o governo iraniano mudou a sentença para enforcamento e disse que a condenação é, na verdade, por uma acusação de a mulher ter sido envolvida na morte do marido. Tanto a viúva quanto seu advogado negam a afirmam que as autoridades só tomaram essa posição para justificar a pena. Esta semana o Irã ainda negou oficialmente a oferta de asilo como refugiada para a mulher oferecida pelo Brasil.


Outro caso que estarrece o mundo é do jovem condenado a morte por ser homossexual, ainda que o mesmo negue ser gay. No caso do rapaz, a condenação é justificada por “conhecimentos do juiz”, o que permite a condenação quando não se tem provas para a acusação.


Contudo, o ponto é: até onde os preceitos religiosos devem interferir tanto na vida das pessoas? O restante do mundo tem o direito de intervir de alguma maneira para impedir que essas atitudes sejam tomadas e inocentes sejam salvos? É um assunto complicado, mas fico perplexo ao ver que pessoas sem ao menos chance de se defenderem em seus julgamentos são assassinadas de maneira tão fria.


Na foto: Sakineh Mohammadi Ashtiani, de 43 anos e mãe de dois filhos, condenada desde 2006 a morte por apedrejamento, teve sua oferta de asilo no Brasil negada pelo governo iraniano.

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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