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Bichas não plantam flores

Redação Lado A 11 de Setembro, 2010 00h53m

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Então chega o dia que ele descobre que não é mais o garotinho do papai: -Oh, não! E agora, quem vai me defender?– Pensa. Então mais um pobre rapaz cai nessa vida difícil e “neonizada” de ser gay.

Uooooou! É sobre isso que vamos conversar, meus caros. Ser gay.

Não tenho objeção alguma para falar sobre o assunto, visto que falo sobre mulheres, e não tenho vagina. Falo sobre milionários, e não tenho cartão de crédito ilimitado. Falo sobre amor, e nem sei direito o que isso significa. Logo, posso falar sobre homossexuais sem esperar receber algum questionamento quanto à minha sexualidade. E se receber, estarei disponível para sanar dúvidas. Sano dúvidas na prática.

O fato é que, hoje, logo pela manhã, quando acessei minha conta do Facebook, fui surpreendido por um convite um tanto quanto bizarro:
“Olha só, que machinho gostoso! É desse jeito que eu gosto (…)” – Leia-se (…) como palavras tão baixas que nem mesmo eu, o príncipe herdeiro da contundência literal, seria capaz de usar.

Despertou dois sentimentos: Gratidão e pena. Obrigado meu caro, afinal de contas, é muito bom saber que meu corpo tem continuado em forma, minha aparência masculina continua despertando desejos insanos e meu Photoshop é, realmente, muito satisfatório. Agora, cá entre nós, senti pena. Sinto pena quando vejo uma criança com fome, com frio, na rua. Sinto pena quando vejo a degradação do meio ambiente. Sinto pena quando cachorrinhos de rua morrem de fome.

Sinto pena quando um avião cai e mata dezenas de pessoas. Sinto pena quando uma tempestade destrói o litoral norte de uma ilha miserável no Atlântico Sul. Sinto pena quando morrem pessoas inocentes. Mas não é esse tipo de pena que senti, esta manhã, porque nesses últimos casos, o destinatário do dó não escolheu merecer tal sentimento, configurando o objeto passivo da causa. Agora, no caso do meu adorável e tarado admirador, o objeto pode ser ativo, passivo e, numa tentativa louca de promover a paz mundial, versátil! Mas não é isso o que lhe submete à compaixão, porque cada um faz o que bem entende com seus “objetos”, mas o fato de ele próprio submeter-se à pena.

É deplorável um país que elege seus próprios ladrões. Dá pena de um homem que comete crimes. Pobres daqueles que abandonam sua honra em troca de vida fácil. Da mesma forma que tenhamos compaixão desses que usam do corpo, do sexo, do sujo, para satisfazer seus desejos mundanos. E isso não é só com gay não, porque tem muito hétero vendendo a alma ao diabo por 5 minutos de sexo acrobático. Acrobático e vazio. E caro. Sai caro perder a identidade. Muito caro ver a moral indo sarjeta abaixo. Caríssimo não ter idoneidade a ser apresentada. E a escolha é pessoal, intransferível e irreversível.
Nessa mesma manhã eu comecei a plantar flores. Tenho um jardim enorme em frente à minha casa e estou trabalhando nele. Ouvi um rumor: – Coisa de bicha!

Bingo!

Nada poderia ter caído em tão boa hora. Por isso estou aqui, dedilhando minhas mancadas ortográficas para me fazer entender:
Bicha? Bicha. Bicha. Bicha. Por acaso as pessoas sabem o que é uma bicha? Ora, meu povo, é claro que sabem! O povo não sabe o que é um homossexual, e saem por aí confundindo tudo, trocando acentos, colocando tremas em u’s que nem existem mais.

Serei breve – em dois pontos – porque a experiência diária comprova o resto, principalmente pra quem vive em cidades grandes e têm muitos exemplares ‘bichísticos’ pelas ruas.

Primeiramente, as semelhanças: Bichas e homossexuais podem fazer as unhas, botar salto alto e botar cílios postiços. Ambos também podem usar terno e gravata, sapato de bico fino e jantar em restaurantes franceses. Bichas, homossexuais, e também bissexuais, heterossexuais, pansexuais, enfim: Todo mundo pode ter um bom emprego. Ou mau. Pode ter um carro novo. Ou não. Pode vestir grife importada ou calça de camelô. Tomar gim tônica ou caninha 51. Acordam, escovam os dentes, se apaixonam, brigam, sentem ciúmes, cruzam as pernas, falam palavrão, podem ser poliglotas, viajantes estelares e até presidentes de República – por que não? Em suma, ninguém sabe qual a orientação sexual de alguém por meio desses indícios, dessas normas ridiculamente impostas por uma sociedade tão insossa e contaminada por um preconceito tão dissimulado que esquecem de diferenciar o bem do mal.

Agora, em segundo lugar, vamos às diferenças: Bichas sabem que são bichas, portanto vivem se escondendo atrás das suas capas, que não são cor-de-rosa, para passarem despercebidas. E por que despercebem-se? Porque bichas estão sempre correndo o risco do ridículo. Bichas são aquelas pessoas que, a exemplo dessa manhã, olham para sua foto e te chamam para transar no primeiro banheiro público que aparece. Bichas são aquelas pessoas que se enchem de drogas para esquecer que não se sentem bem no meio em que vivem, precisando, assim, se auto afirmarem de alguma forma, por meio de artifícios mais fáceis que simplesmente erguer a cabeça e seguir adiante. Bichas não podem erguer a cabeça porque têm peso demais na consciência. E não pode seguir adiante, porque ir adiante significa compromisso, e bichas não sabem o que isso representa. Bichas, assim como todo mundo, têm histórias sórdidas para contar. A diferença é que as bichas não contam, porque sentem vergonha das próprias atitudes para ousarem participar do mundo real.

Bichas são aquelas “coisas” que levantam uma bandeira acima do peito e gritam por justiça e igualdade, respeito, enquanto tiram a roupa na esquina e fazem sexo oral em troca de “bala”. Bichas não conhecem respeito. Bichas não conhecem idoneidade. Bichas não conhecem amor. Bichas não precisam ser afeminadas para o serem: Elas sabem disfarçar muito bem porque elas precisam ser bichas para continuar enganando as pessoas. Bichas são como putas: Ninguém quer, mas são as que mais se divertem. Bichas se divertem muito, não exigem nada em troca, e nunca, jamais, em hipótese alguma, terão algo a oferecer.

Quanto aos homossexuais? O homossexuais perdem fazer tudo que as bichas fazem, a diferença é eles escolhem NÃO fazer, e não por medo, por ‘truque’, para disfarçar o reprovável, simplesmente porque homossexuais têm dignidade. Simples, assim. São dignos de respeito porque o promovem.

Assim eu posso concluir a questão levantada sobre plantar flores e ser bicha. Flores não fazem ninguém perder o respeito. Um jardim não afasta uma pessoa de ser humanamente digna. Assim sendo, qualquer pessoa pode plantar flores, seja ela homossexual, heterossexual, pai de família, mãe solteira, médico, funcionário público, assistente de exportação, piloto de fórmula 1, gerente de banco, vendedor de eletrodomésticos, atendente de telemarketing… Só não plantam flores, realmente, as bichas, porque elas jamais teriam tempo pra isso: Estão sempre muito ocupadas com suas trapaças de si mesmas, seus artifícios mágicos de fuga, seus planos de sexo barato.

Ah, e só mais uma coisa: Tal como os animais, plantas sentem o que provém das pessoas. O que esperar de uma pessoa que não tem a dignidade do respeito a si própria?

http://kdu-miranda.blogspot.com/

Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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