É preciso unir a comunidade contra a AIDS e o preconceito

Neste fim de semana, morreu mais um amigo de “pneumonia”. Sim, a hipocrisia nos faz dizer que um lindo jovem de 25 anos morreu de pneumonia, pois a palavra AIDS é feia demais para ser dita. A hipocrisia nos faz ignorar que não deveríamos estar morrendo, seja pelo preconceito ou pela AIDS. Qual a expectativa de vida de um homossexual hoje? A expectativa de vida de uma travesti que se expõe fazendo ponto nas ruas é de 40 anos, segundo estudos espanhóis, imagine no Brasil, onde a violência é absurdamente maior. E os homens homossexuais? Quantos anos o estresse e as angústias geradas pelo estigma social não nos levam, sem falar nos que padecem de AIDS e de assassinatos homofóbicos.

O preconceito mata. Mata e quando não massacra em um crime de ódio, ele mata aos poucos. Mata em pequenas doses quando percebemos que não temos os mesmos direitos ao ver um casal hétero de mãos dadas nas ruas ou quando dizemos que isso não é importante apenas para parecer que queremos pouco. E de fato não pedimos muito, pedimos o nosso direito à vida, à qualidade de vida.

O preconceito ainda mata quando jovens deixam de se preservar, afinal, para quem está na margem da sociedade um estigma a mais ou a menos não importa. O mesmo vale aos que abusam das drogas ou se expõem a situações constrangedoras pois não podem namorar em casa ou precisam viver uma vida dupla. O preconceito é o grande vilão do holocausto silencioso que os homossexuais vivem no Brasil. Preconceito este debatido em horário eleitoral, como se o casamento gay fosse uma concessão dada pelas igrejas. Como se a união civil, que não dá direito à adoção e a mudar de estado civil fosse uma alternativa digna. Quando acham que queremos ceifar a liberdade de expressão quando queremos calar nos templos as palavras de ódio a nós dirigidas. 
 
É preciso unir a comunidade contra o preconceito e contra a AIDS. Precisamos criar um movimento gay de pessoas que podem realmente colaborar para pressionar a sociedade pelos nossos direitos, pelo fim do preconceito. Precisamos de financiamento da própria comunidade, precisamos de mais pessoas se levantando e reivindicando, precisamos processar mais os casos de violência contra nós. Devemos rebater com ciência toda a crítica que nos é dirigida. Intolerável um político dizer que há estudos que comprovam que a adoção gay é prejudicial às crianças. Ou um pastor dizer que a palavra do Deus dele é a verdade absoluta e que gays não entram nos reinos dos céus.

Contra a AIDS devemos tirar a cortina de hipocrisia, ver a doença como ela é, que está infiltrada na comunidade e nos testar, usar o preservativo e quem tem o vírus levar quem transou sem o preservativo para se testar. Precisamos dar amor a quem tem o vírus para que ele não desconte na própria comunidade todo o ódio que ele recebe da vida, pois não é fácil ser homossexual, imagine ser portador de um vírus que traz tantos medos. A AIDS não é exclusividade do meio gay mas é nela que faz o maior estrago, não porque o gay é mais promíscuo, mas porque a comunidade não tem consciência coletiva, não se mobiliza de fato.

Precisamos que os portadores se amem e nos amem, precisamos nos amar e amar a eles, precisamos que a AIDS não nos leve tantas pessoas especiais. E aqueles que ainda acreditam no amor próprio mesmo não podendo casar, ter filhos ou demonstrar afeto em público que se protejam. Quem pega o HIV é porque não se protegeu, quem morre de AIDS é porque desistiu de viver, pois há tratamento gratuito mas é preciso sacrificar-se e enfrentar a realidade. Chega de hipocrisia, mesmo aos apaixonados, há risco, o amor não inibe a transmissão do vírus e as pessoas traem e tem um passado secreto. Ser homossexual não é uma escolha, não controlamos por quem sentimos tesão, mas usar ou não o preservativo é a única opção sexual que nos é dada. Vamos usar camisinha, nos testar e barrar o avanço do HIV. Vamos acordar!

Redação Lado A :A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa