Em março desde ano, perguntamos aos nossos leitores sobre o programa Big Brother Brasil e 30% afirmaram que possuíam medo de que a violência contra homossexuais aumentasse por causa da participação do gaúcho Marcelo Dourado no programa e acreditavam que se Dourado vencesse o reality show, a violência poderia aumentar. Os outros 70% achavam que o candidato não venceria ou não assistiam ao programa.
O vencedor do BBB10 que ostenta suásticas em uma tatuagem (que afirma ser um inocente símbolo oriental nas vestes de um samurai) afirmou que apenas homossexuais pegavam o vírus HIV e por diversas vezes agiu com intolerância aos participantes gays do programa. Sabidamente ele agrediu travestis em Porto Alegre, que sua tia relatou que ele foi assediado, desculpa típica de quem não assume o ódio por hmossexuais. A onda de apoio ao candidato chegou a virar ameaças no Orkut contra Dicesar Ferreira, a drag Dimmy Kieer. Apesar de afirmar não ter preconceitos, a mensagem estava dada: a intolerância era vista e premiada em horário nobre na TV brasileira.
Em outra ocasião, denunciamos o fato do participante citar a sigla WSS durante o programa, para citar um campeonato de sinuca realizada na casa. O World Snooker Series é de fato um torneio existente, mas também significa White Sul Skinheads, o maior grupo organizado de violência contra negros e homossexuais na região Sul. WSS também era a polícia de Hitler. Tudo isso faz sentido para os skinheads, mas não para a população em geral, ou para a cúpula da Globo, que exibiu as imagens.
Sabendo da vitória do gaúcho no programa de maior participação popular da tevê brasileira, candidatos das últimas eleições tentaram reproduzir a mensagem em campanhas eleitorais. Os direitos gays viraram tema nas campanhas, quase todos se manifestando contra o casamento gay. A síntese pode ser avaliada assim: o Brasil é homofóbico.
Esta relação de ganho com o preconceito ou com a omissão aos direitos gays ganhou nos últimos dias diversas manifestações de preconceito claro. O BBB 10 legitimou o preconceito e a impunidade. As últimas eleições reforçaram esta perspectiva, de que ofender ou perseguir homossexuais no país não é crime. Igrejas defendem livremente o direito de chamar homossexuais de pecadores, de doentes, e ganham aliados. Até um deputado afirmou que bater em filho com tendência homossexual é tolerável. Em suma, na busca pela fama, vale tentar ser o Dourado. E o outro deputado babaca brinca: “te mato”, se um dia você disser que é gay.
E cidades como o Rio de Janeiro, eleito melhor destino gay do mundo, convivem com casos de homofobia. Até a tolerante e exemplar metrópole de São Paulo tem casos, que chamam de isolados, de violência gratuita contra homossexuais. Há até casos relatados de preconceito nas universidades. Casos graves, pois estão formando a futura classe dita intelectual do país.
Não se trata de aumento da violência, mas uma maior confiança dos preconceituosos de mostrarem que são contra os gays. O importante nesta hora é dizer que se tratam de casos isolados. São apenas alguns ínfimos dos casos de preconceito e violência contra homossexuais que a mídia dá espaço. É preciso lembrar dos gays do interior, os gays adolescentes que vivem o inferno dentro de casa e nas escolas.
O preconceito está institucionalizado no país e se mostra em todos os meios. O preconceito está minando o futuro de muitos homossexuais que poderiam contribuir e muito em suas vídas acadêmicas e profissionais. O preconceito está afugentando grandes mentes que vão para o exterior com medo do perigo que é ser diferente em seu próprio país. A maior violência porém não é a física, mas aquela que se refere à alma. O gay vive no Brasil em estado de alerta, com medo, e sua psique é vítima de uma violência que não pode ser medida, que não consigo achar um nome, uma marca que tão pouco pode ser curada.