Na última sexta-feira em Curitiba, na Praça da Espanha, 10 mil pessoas marcaram no Facebook um encontro para comemorar o início do ano, em uma brincadeira de que o ano, no Brasil, só começa mesmo depois do Carnaval. O Reveillon fora de época, como foi chamado, não foi o primeiro – há diversos relatos, inclusive, de um bar em Curitiba ter realizado a festa anteriormente. E também não foi a única comemoração nesta data. No calendário Wicca e de outras religiões antigas, a data marca o equinócio das águas, ou o sabath do qeuinócio de outono, ou mabon, quando se termina a colheita, os campos ficam nus e se prepara para celebrar o ano novo, comemorando a abundancia. No hemisfério Norte, a data do ano novo wiccano é comemorada no Halloween, ou Dia das Bruxas. No hemisfério Sul, no dia 30 de abril.
Coincidências a parte, no centro da festa “involuntária” havia um chafariz em forma de círculo (o altar do sabath deve ter 3m de diâmetro), flores ao redor e clima de festa. Durante a festa inusitada, algumas pessoa entraram no chafariz e dançavam alegremente enquanto a festa se formava ao redor da estrutura. No céu, a lua azul, que marca a proximidade do astro em relação à terra, foi a maior lua azul dos últimos 18 anos, o que também foi comemorado pelos adeptos da bruxaria.
A não interferência da polícia ao evento que deixou um lastro de lixo e destruição, além de calçadas inundadas de urina, pode ser visto com desconfiança. A festa não foi interrompida e marcada para comemorar a meia noite (se era um Ano Novo fora do dia “certo”, poderia também ser a qualquer hora, correto?). E se o Ano Novo, na brincadeira, é na segunda-feira depois do Carnaval, o Réveillon fora de época deveria ter sido comemorado no domingo que encerra o mesmo, não?
Claro, tudo o que você leu é coincidência, embora sejam fatos, e aqui usamos para chamar a sua atenção. Falamos com uma das três pessoas que começaram a idéia no Facebook e nenhuma delas sabia do equinócio ou conhecem a religião Wicca. E também não se consideram os organizadores do evento que foi ganhando proporção maior com a internet. Eles também lamentaram o lixo e estragos deixados e lamentam do pessoal que foi não ter seguido a instrução de ir de bicicleta e recolher o próprio lixo. Aliás, moradores da região e o pessoal da feirinha de antiguidades do sábado quem juntaram os dejetos. O evento em si foi um sucesso, inédito no tocante de mobilização pela internet na cidade e deve ganhar novas edições dos próximos anos, mais organizadas, com certeza.
O que queremos chamar a atenção aqui é para o perigo da aderência política das pessoas a eventos aparentemente inofensivos. Não é o caso do Réveillon Fora de Época citado e sua relação involuntária com uma festa de bruxaria. Mas de quando as pessoas votam e fazem campanha a um candidato que desconhecem, ou mesmo participam de partidos políticos, entidades, associações, ou eventos, que acabam legitimando ações que nem sempre concordariam, como o lixo deixado, neste caso. Devemos participar, ajudar a mudar a cidade, mas estarmos conscientes de que não estamos sendo “usados” para outros fins. O próximo ano é de eleições e irão aparecer muitos políticos “amigos”. Fica o alerta.
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