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ALEP e Biblioteca Pública serão sedes da exposição Mães pela igualdade em Curitiba. Confira alguns dos depoimentos.

Redação Lado A 17 de Novembro, 2011 20h36m

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Entre os dias 21 e 25 de novembro, o hall do prédio da administração da Assembléia Legislativa do Paraná (ALEP) irá receber fotos e testemunhos da campanha Mães pela Igualdade, promovida pela ONG Internacional All Out. A exposição segue para o segundo andar da Biblioteca Pública do Paraná, onde ficará a partir do dia 06 de Dezembro. Alguns depoimentos, de mães que perderam o filho para a homofobia, são profundos e nos fazem repensar a luta contra o preconceito, da importância de se lutar pelo direito a vida. A entrada é franca e o seu apoio é indispensável.

A campanha mobilizou-se pela internet depois que o deputado federal carioca Jair Bolsonaro afirmou que nenhum pai teria orgulho de seu filho homossexual. Como resposta, mães de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis (LGBT) de todo o país se mobilizaram para dar um basta à violência homofóbica e ao preconceito ao qual seus filhos são submetidos diariamente. Dezenas de mães de pessoas LGBT se ofereceram para participar do projeto que ganha a sua primeira exposição no Paraná.

Confira alguns dos depoimentos emocionantes dessas mães:

“Quando perdemos um filho, nos tornamos eternamente mutiladas; e a nossa imagem é o reflexo da dor e da saudade, que serão nossas eternas companheiras.” – Marlene Xavier, Montes Claros, MG

“É muito difícil ainda para os pais ter filhos diferentes, o preconceito é
internalizado desde que nascemos…

Minha maior alegria no processo de reconhecer meu filho gay foi que me tornei uma pessoa melhor. Se eu não tivesse um filho gay eu ainda seria preconceituosa como eu era. Quando você trabalha para diminuir um preconceito, automaticamente está diminuindo todos os demais. Eu me tornei uma pessoa melhor, e fico feliz com isso. Temos que respeitar a fé das pessoas que tem religião, e tentar mostrar a elas que, se Deus é amor, a religião deve falar de amor, de solidariedade, de aceitação das diferenças, e não sobre discriminação, intolerância e ódio.

Digo sempre ao meu filho que eu o amo muito, e que ele é meu filho querido como os outros.” – Edith Modesto, São Paulo, SP

“21 de maio de 1986 foi o dia mas feliz da minha vida. Nesse dia Deus me abençoou para que eu desse à luz um lindo bebê com bochechas rosadas, lábios vermelhos e carnudos, uma pessoa que me fez muito feliz quando deu os primeiros passos, o primeiro sorriso, quando me chamou de mamãe, a ida à escola e a primeira febre, enquanto amamentei até os dois anos, enquanto pude abraça-lo e beijá-lo.

O dia 16 de outubro de 2010 foi o mais triste da minha vida. Encontrei o meu filho brutalmente espancado no hospital, em como induzido e semimorto. Doeu muito ver meu filho daquele jeito, com olho roxo e afundamento do crânio. No dia seguinte eu recebi um telefonema dizendo que o meu filho tinha falecido. Foi a queda total. Tive que organizar o velório do meu melhor amigo, companheiro e confidente. Hoje sinto um grande vazio, que procuro preencher com a luta contra a violência, homofobia, preconceito e a descriminação.” – Eleonora Pereira,
Recife, PE

“Quando soube da homossexualidade da minha filha mais velha, há 8 anos, minha maior preocupação foi com o preconceito que ela viria a sofrer.  E eu nem imaginava que ela seria ameaçada de morte, apedrejada na rua, que perderia amizades. 

Como mãe, preocupada com o índice alarmante a que chegou a homofobia em nosso país, é que me choco quando líderes religiosos e políticos sobem aos púlpitos, às tribunas e vão à mídia para despejarem seus “conhecimentos” sobre a homossexualidade, proferindo (in)verdades absolutas, baseadas em crenças e opiniões pessoais, contaminando as plateias com seus conceitos errôneos sobre o assunto e instigando a sociedade contra pessoas cujo único “pecado” ou “crime” é amarem seus iguais.

Como mãe, eu conclamo nossos governantes a garantirem a laicidade do Estado brasileiro, a lutarem pela IGUALDADE de direitos e a punirem a homofobia que vitima nossos e nossas jovens homossexuais diariamente.” – Ângela Moysés, Brasília, DF

“Eu não tinha conhecimento de crimes motivados por homofobia (crimes de ódio), não tinha conhecimento dos requintes de crueldade que um indivíduo comete com suas próprias mãos em outro ser humano, motivado por homofobia. Não posso aceitar os motivos que levam alguém a cometer tal crime. No meu caso, meu filho Alexandre Ivo, de 14 anos, foi sequestrado e torturado física e psicologicamente por mais de 3 horas, de acordo com o relatório do legista.

Gostaria de fazer um pedido aos pais e mães, que são os primeiros educadores: que conversem com seus filhos e os entendam; respeitem e com certeza serão respeitados, conversem, aprendam a ouvir e abram seus corações para o aprendizado da diversidade. Eu queria ter tido essa oportunidade, sendo meu filho homossexual ou não, de estar hoje aqui com ele em meus braços.

Todos nós temos como obrigação cidadã respeitar a diversidade como um todo e nos incluirmos nela. A luta é por respeito à vida. Hoje, a HOMOFOBIA MATA. O meu filho Alexandre Ivo retrata isso, literalmente.” – Angélica Ivo, São Gonçalo, RJ

“Eu aceitei a homossexualidade do meu filho desde o primeiro momento em que eu fiquei sabendo. Antes de  descobrir a verdade, eu achei que ele estava envolvido com drogas, porque ele era muito triste, muito quieto, muito afastado… Um dia ele chegou em casa chorando, dizendo que estava com dor de cabeça, pôs o travesseiro na cabeça e disse que tinha vergonha de me contar o que estava acontecendo, aí eu perguntei para ele: você não gosta de mulher, né? Aí ele afirmou que era homossexual, e que desde os nove anos ele já sabia que ele era diferente.

Para mim este processo de descoberta da homossexualidade do meu filho foi o começo da família, e não o fim! Nós ficamos mais unidos. Eu senti que isto serviu para unir mais ainda os irmãos. Só tenho estas palavras para dizer a ele: “amo você do jeito que você é. Você é maravilhoso”. Eu só tenho alegria com ele; com meus três filhos eu só tenho alegrias.” – Clarice Cruz Pires, São Paulo, SP

“Me sinto muito feliz e lisonjeada em poder falar de  meus filhos, que amo muito. O mais novo é gay. Sinto orgulho dele filho, de sua garra, de sua força, e sua responsabilidade. Ser homossexual e ser mãe de homossexual muitas vezes não é fácil. Mas é uma questão de bom senso, de inteligência, de boa educação, de amor ao próximo e de não julgarmos as pessoas, de nos colocarmos no lugar do outro.
 
Sou muito amiga de meu filho gay, de seus amigos e namorados. Formamos uma família alegre e feliz, e sou privilegiada por ser aceita e amada por eles. Não permitirei preconceito; sempre que posso, faço a minha parte.

Mães, façam a sua parte dando a liberdade a seus filhos e filhas, e exigindo que ela seja cumprida.” – Raquel Gomes, Curitiba, PR

“Depois de ter a certeza que meu filho era gay, posso dizer que nada mudou, pois sempre o amei. Tive cinco filhos e para mim todos são iguais.

Sinto-me à vontade para falar de meu filho aos meus amigos, não escondo nada nem mesmo da família. Eu, os irmãos e o pai, agora falecido, temos admiração e orgulho dele pois é uma pessoa especial, sensível, muito inteligente. Um grande professor, e muito amado por toda a família. É um filho igual aos meus outros.” – Iracy De Souza Botelho, Brasília, DF

“Felizmente, a cultura ocidental aos poucos está mudando. Hoje, filmes comoventes e sensíveis, documentários e programas de televisão estão aparecendo com frequente regularidade, assim como monografias, teses e estudos acadêmicos sobre a transformação social e repercussão das famílias homoafetivas. Esse é um testemunho adicional de mudanças dos temas sobre o chegar dessa nova família, o respeito a seus direitos e lutas contra a discriminação e exclusão social.” – Jacinta Fonte, Brasília, DF

“Ao perceber que meu filho é homossexual, inúmeras indagações surgiram. Algumas sem respostas. O pouco que sabia da homossexualidade era de natureza destrutiva e fruto de pensamentos e conclusões alheias. Aqueles “conceitos” destoavam do menino amigo, afetuoso, prestativo e que trazia nos olhos a exuberância da vida. O mundo insistia em me apresentar um ser humano e eu enxergava outro. Era urgente estar ao seu lado sempre – e sem máscara. Despi-me de velhos e arraigados preconceitos e também da presunção de onisciência.

O que me leva a falar de algo tão pessoal é que aos homossexuais são negados direitos fundamentais inerentes à condição humana. Como cidadã brasileira e, especialmente, como Mãe, vou exigir o cumprimento  do Principio Constitucional da Igualdade –limite essencial à discricionariedade legislativa e base do Estado Democrático de Direito.” – Luiza Habibe, Brasília, DF


“Ao longo da fase de crescimento do meu segundo filho, fui percebendo que ele não agia, nem tinha comportamento “normal” de menino e insistia em hábitos, brincadeiras e atitudes que eram ditas como de meninas. Na adolescência, o conflito se estabeleceu. Minha filha só pedia respeito, entendimento, compreensão e o principal: acolhimento da mãe. Independente de todas as nossas discussões, jamais deixei de acolher, de dar afeto e carinho de mãe, pois se tratava de uma pessoa que eu mesma gerei, e que muito desejei.

Lembro bem do meu desejo da segunda gestação, que era de ter uma filha, e posso afirmar que tenho como realizado, pois nesta gravidez gerei uma filha transexual. Ao longo de nossas vidas tivemos muitos conflitos, mas hoje posso afirmar o meu entendimento do verdadeiro EU da minha filha. Hoje nós nos respeitamos e eu a reconheço como minha filha, a Carla.”
Maria do Amaral, Curitiba, PR

“Meu filho mais velho tem 23 anos, e é heterossexual, meu filho do meio tem 21 anos, é homossexual, e minha filha mais nova por enquanto não sei se é bissexual ou se é lésbica, ela mesma está em dúvida. Minha única preocupação em relação à homossexualidade dos meus filhos são estes ataques homofóbicos. Apenas isso, porque, do contrário, meu filho estuda, trabalha, é uma pessoa agradável, se dá bem com todo mundo, não faz mal a ninguém.

Um dia ele falou: “mãe, eu tenho medo que as pessoas não me aceitem por que eu sou assim…” Respondi: “assim como? Um menino tão bom?”

Eu me orgulho muito dos meus três filhos, não os queria diferentes do que são. Somos uma família feliz, e quero que continuemos assim. Se eu tivesse que gerá-los novamente, queria que eles fossem tal como são, sem mudar nada, porque assim eles cresceram do meu lado!” -Suzanna de Assis Sampaio Pinto, Brasília, DF

“Nos dias atuais, a vida moderna é muito corrida, a luta pela resolução dos problemas deixa o ser humano cada vez mais cansado, estressado, e às vezes esquecemos de dar o devido valor para quem está pertinho da gente, dentro do nosso coração.

Graças a Deus, consigo ultrapassar essa pressão toda e enxergo claramente o presente que um filho representa para uma mãe. É como amar alguém além de mim mesma, independente de qualquer coisa. Tenho orgulho, amor, coragem pro que der e vier e considero-me abençoada por ser mãe de uma moça tão iluminada, uma flor linda por dentro e por fora!!!” – Izilda Gennari, Brasília, DF

“Minha neta descobriu-se bissexual com 15 anos. Inicialmente, eu não a apoiava, mas com o tempo fui mudando meu olhar, fui reaprendendo valores. Se era essa sua orientação sexual, tive que entender que é a vida dela e agora estou aqui para apoiá-la. Se eu não a respeitasse, como poderia cobrar o mesmo do mundo aí fora?

Se as pessoas respeitassem o sentimento das outras, não haveria tanto preconceito e discriminação e, consequentemente, não haveria tanta revolta. Minha neta é um pessoa como todas as outras, tem seus desejos, seus objetivos e potencialidades, como todas as pessoas. Eu estou aqui pronta para apoiá-la e ajudá-la a vencer na vida. Aprendi e aprendo muito com ela. Hoje consigo ver e compreender melhor a diversidade que existe no mundo, e vejo como é necessário lutar pela igualdade.” – Marly Vilela de Mello, Rio de Janeiro

“Sou mãe de sete filhos. A primeira é Jandira, gerada em mim. Falou, andou, cresceu e floresceu. Parceira querida e generosa. Certa vez, a vida até nos permitiu ser mães juntas – eu, pela sexta vez; ela, estreando. Fizemos barriga e enxoval juntas e amamentamos nossas crias em venturosa cumplicidade.

Daí floresceu a mãe e a mulher adulta viçosa, valente, determinada do talento criativo e da disposição para viver a vida com responsabilidade. Floresceu a profissional competente e a cidadã solidária da liberdade e da coragem de olhar com honestidade para si mesma, amar-se e revelar-se lésbica.

Floresceu a universalidade do amor em nosso lar, em nossa família, e de meu desejo de compartilhar esta felicidade, integro-me às Mães pela igualdade.” – Áurea Lúcia, Brasília, DF

“Não me importa se os lábios beijados são femininos ou masculinos, meu desejo é que minhas filhas tenham relações com pessoas afetuosas, amigas e sinceras. Acima de tudo, que sejam felizes.” – Monica Monteiro, Brasília, DF

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A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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