Aos 65 anos de idade, o professor Luiz Mott, fundador do Grupo Gay da Bahia e autodeclamado decano (o mais antigo em exercício) do movimento gay brasileiro, decidiu não comparecer a II Conferência Nacional LGBT, que terá seu início nesta sexta-feira, em Brasília. O motivo do boicote, segundo o militante que pode ser considerado um dos mais importantes no país, é a falta de consideração da organização e também uma forma de protesto, já que a situação dos gays só piora no país, enquanto o assunto não sai do âmbito das conversas e reuniões.
“Nunca antes, na história desse país, tantos homossexuais foram assassinados, espancados e morreram de Aids. Nunca, como nos últimos dez anos, o Governo Federal fez tanta propaganda, prometeu maravilhas, fez conferências e grupos de trabalho e não obstante, como disse duas vezes a Senadora Marta Suplicy, “a situação piorou para os homossexuais no Brasil: na Argentina tem casamento gay, aqui tem espancamento!””, afirmou o militante em artigo publicado em seu site. Mott lembra ainda que após 9 anos de governo do PT, a situação para os gays só piorou. “Quando Lula iniciou seu governo, matava-se um gay ou travesti a cada 3 dias. Com Dilma a imprensa noticia um “homocídio” a cada 36 horas. Enquanto apenas 1% dos homens heterossexuais são HIV+, os gays atingem 11%, recebendo apenas 0,9% do orçamento para a prevenção da AIDS”, denuncia o decano.
“Na qualidade de Decano do Movimento Homossexual Brasileiro, há 31 anos na frente dessa luta, líder do Grupo Gay da Bahia e Professor Titular da UFBa, tenho vivência, competência e independência para denunciar: estamos no fundo do poço!”, desabafa o doutor em Antropologia que lembra ainda que a presidente vetou o Kit Anti-Homofobia e que se referiu grosseiramente a orientação sexual dos gays, quando afirmou que seria uma opção sexual. Mott não foi convidado formalmente ao evento e queixa-se que recebeu apenas a passagem aérea, mas com horários complicados para uma pessoa de sua idade. Ele reclama que não foi colocado em nenhuma mesa oficial do evento, a despeito de sua importância como militante e seu currículo como cientista.
Como ponto máximo de sua indignação, Mott termina seu texto avisando que não irá mais contabilizar os assassinatos de homossexuais no país, e que passará à Secretaria de Direitos Humanos tal responsabilidade. Em Outubro, Mott se indignou quando uma representante do Planalto afirmou que não havia dados oficiais sobre mortes de homossexuais no país em crimes de ódios e menosprezou o trabalho de 20 anos do pesquisador.