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Como minha vida mudou sem o cigarro

Redação Lado A 09 de Julho, 2012 21h49m

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Por Allan Johan

Em Dezembro do ano passado, resolvi parar de fumar. Na verdade não resolvi, decidi parar de fumar por causa da pressão do meu pai e do meu namorado de mais de 4 anos, que desde que descobriu que eu fumava pediu para eu largar o cigarro. O dia escolhido foi o aniversário dele. Eu não queria parar de fumar, inventava mil desculpas para mim mesmo, mas já havia concluído que, sabendo que o cigarro faz mal e mata, insistir em fumar era apenas uma demonstração de que eu estava em uma atitude de autoflagelo, que eu, de fato, por algum motivo, não queria viver tanto quanto eu poderia viver se não fumasse.

 
O fato é que há 7 meses eu parei de fumar e resolvi escrever sobre isso por causa dos mais de 100 “curtir”que recebi nesta data dos meus amigos do Facebook, além das mais de 20 mensagens de apoio. 
 
As primeiras duas semanas foram as piores. Eu só pensava em fumar e bebia um copo de água a cada meia hora, para desintoxicar, para ajudar a passar a vontade. Nos dois primeiros meses eu sonhei quase todas as noites que estava fumando e acordava com a boca com gosto de nicotina, ou como se realmente tivesse fumado. Meu pai e meu namorado não deram o apoio que eu esperava, de alguma forma eu achava que eles deveriam me recompensar por parar de fumar, errado. Botei uma meta para mim: 6 meses. Os outros dois meses não só sonhava que fumava, agora mais raramente, mas acordava com um sentimento de culpa, como se eu tivesse falhado.
 
O quinto e o sexto mês foram mais tranqüilos. Mas eu pedi ajuda. Fui fazer terapia. Daí vem o mais interessante. Quando eu parei de fumar, passei a ser movido por um sentimento de onipotência. Sim, achava que, por parar de fumar, eu poderia conseguir outras coisas na minha vida que pareciam distantes. Mas o que me levou a voltar para a análise foi que eu passei a sentir cheiros, passei a sentir gostos e, para completar, descobri que eu não enxergava muito bem e passei a usar óculos. “Passei a ver o mundo em HD” e ainda a sentir cheiros e gostos que não existiam. Percebi que eu estava vendo o mundo de uma forma distorcida por causa do cigarro… e isso foi demais para mim. Fora as faltas de ar, as refeições interrompidas para fumar, o tempo  e dinheiro que eu perdia para me fazer mal.
 
Bem, com a ajuda do meu analista consegui contornar a leve depressão que eu estava entrando, causada pela abstinência. Sim, eu estava com crise de abstinência. Todo mundo fala que para parar é preciso ter raça, ter força de vontade. Bem, o fato é que eu precisei de ajuda e não me envergonho disso. Havia dias que minhas mãos tremiam ou que eu ficava em completo estado de desatenção. Era a falta da nicotina! 
 
Há um segredo que apenas as pessoas mais íntimas partilharam comigo: eu entrei em bloqueio. Fiquei quatro meses sem escrever uma linha. Um jornalista, editor de uma revista e site, que não conseguia fazer o seu trabalho. Foi assustador. Eu dormi mais de 12 horas todos os dias, não conseguia me concentrar e trabalhar. Enfim, o bloqueio passou há uma semana e não via a hora de escrever de volta em meu blog. Viver vale a pena e viver mais é garantia de que teremos mais momentos bons, mais amigos, mais conquistas, mais esperança. Se ame, se cuide – por você e não pelos outros – foi isso que aprendi. 
 
E nunca desistam de um desafio, sempre contem com ajuda, jamais acreditem que algo não é possível. No fim, tudo dará certo. Obrigado ao apoio de todos, especialmente do meu pai e do meu namorado, que além de me convencerem a parar de fumar, ainda me deram um suporte inestimável.
 
Foto: Herickson Laurindo 
 
Redação Lado A

SOBRE O AUTOR

Redação Lado A

A Revista Lado A é a mais antiga revista impressa voltada ao público LGBT do Brasil, foi fundada em Curitiba, em 2005, pelo jornalista Allan Johan e venceu diversos prêmios. Curta nossa página no Facebook: http://www.fb.com/revistaladoa

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