Finalmente caiu a ficha e tomei coragem de falar publicamente sobre o assunto. Não serei candidato a vereador de Curitiba. O partido ao qual eu estou filiado há 13 anos, o PSB, do atual prefeito Luciano Ducci, preferiu dar a minha vaga já anunciada nas eleições anteriores ao companheiro Marcio Marins, militante carioca que atua em Curitiba, que apresentou uma “indicação” do diretório nacional. Aguardei a abertura de uma nova vaga e a coligação preferiu dar novamente a outra pessoa, uma vaga do PSB foi cedida ao PSDB, partido coligado, a André Lazarotto, um senhor que também já foi candidato anteriormente. Decidi não ficar contando com a morte de algum candidato, uníca forma viável de ser candidato nestas eleições, e assumir: não serei candidato nestas eleições e tampouco nas próximas.
Fui candidato em 2004 e recebi 329 votos, destde então trabalhei muito para nestas eleições fazer os votos necessários e “nos” eleger. Agradeço a todo o apoio das pessoas que pronunciaram voto, mesmo ainda sem eu fazer campanha. A todos os apoios que eu receberia das pessoas que pediam o meu número e eu dizia que ainda não poderia divulgar. Estas pessoas não sabem o quanto fiquei feliz de receber essas manifestações de carinho diariamente e o quanto eu estava sem jeito de dizer que poderia ser que eu não saísse mais candidato. Obrigado aos amigos que blindaram essa candidatura com apoios importantes e que iriam dar o sangue nessas eleições. Guardem as armas, pelo menos nessa batalha não iremos a campo.
Nos últimos seis anos, me dedico diariamente ao projeto da Revista Lado A, neste mesmo período passei a pensar como deveria me comportar e mudar a forma que as pessoas me viam, para me tornar um candidato possível para a comunidade gay de Curitiba. Neste meio tempo, me moldei, fiz melhorias em vários pontos da minha vida e apaguei alguns traços da minha personalidade ou ocultei até pontos positivos para que não causasse estranhamento em uma candidatura popular.
O projeto da Lado A me consome mensalmente duas vezes. Primeiramente com tempo e trabalho do qual não sou remunerado, e com a estrutura da revista tem um faturamento menor do que os gastos com sede, funcionários, telefone, gráfica, entre outros. Estimo que nestes 6 anos eu tirei do meu bolso mais de R$300 mil reais para manter o funcionamento da revista. Tudo isso com o plano político de sair candidato nestas eleições. Por outro lado, nunca recebemos dinheiro público ou contamos com apoio de qualquer governo. Deixei de viajar, de estar com que eu amo, tudo em nome desta candidatura que não saiu. Mas uma certeza eu tenho, faço o que amo e o jornalismo é a minha grande paixão. Então eu chego a outra encruzilhada, não posso pagar para trabalhar com o que eu amo, e este será meu novo desafio: tornar a Lado A uma empresa rentável.
Voltando a falar da candidatura, não posso culpar os outros candidatos, acredito que cada um deve defender o seu nesta hora, mas me cansa a falta de ética, de união, de comprometimento com a causa. O meu partido “me traiu”, essa é a frase mais comum ultimamente de políticos de primeiro escalão. E, de fato, a política partidária brasileira é um grande coronelismo disfarçado, não há democracia na base, os candidatos são escolhidos pelo partido a dedo e as vagas, como diz o Supremo, são do partido, ou seja, quem se rebela acaba sem partido e sem vaga.
Não me rebelei ainda. Mas é triste ouvir promessas e mais promessas e não vê-las sendo cumpridas. E não falo de ganhos pessoais – já ouvi muita gente querendo negociar cargo ou candidatura a deputado comigo por causa desta candidatura que não saiu, dentro e fora do partido – embora as propostas venham de boca e nunca algo concreto. Eu não vou vender meu ideal de forma alguma – não quero poder, não quero dinheiro, não quero aparecer. Quero atenção para a nossa comunidade, AGORA. Não vou colocar nossas prioridades em leilão ou virar aposta para “se” fulano se eleger”. Quero o prefeito indo na parada e dizendo que a comunidade gay é importante para esta cidade e não fique mandando representante da área de saúde, como se fossemos leprosos!
Se a conjunção ARENA/PFL/PSDB/PSB não fez nada desde 1988 quando tivemos as Diretas e eles reassumiram a Prefeitura, como poderemos esperar algo deles? E mais, Jaime Lerner, nome que fundou tal clã que se sucede na política da cidade, foi eleito nos anos 70 pela própria ditadura. Como podemos esperar que uma linhagem que surge da Ditadura tenha algo a falar de Democracia? Saio neste momento da política partidária, para voltar a fazer frente política com o jornalismo. E a dúvida se eu seria eleito ou não, vai permanecer, indefinitivamente.